Aquiles Rique Reis
Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.
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O som de Fábio Peron

Fábio Peron lançou “Em boa companhia” (independente, com apoio do ProAC), seu primeiro disco. Compositor, cujo principal instrumento é o bandolim de dez cordas, ele é um jovem de vinte e três anos.

Nas primeiras audições de seu trabalho, restou uma dúvida tão agradável quanto de difícil resposta: Fábio é melhor bandolinista ou compositor? Decidi que não me demoraria muito tentando decifrar o enigma a que me propus. Deixei-me levar pela música, pelo som de um instrumento tocado com a intensidade que caracteriza a mocidade e pela beleza das melodias, tudo sempre envolto por harmonias requintadas e traduzidas em múltiplos e brasileiros ritmos.

Além do grupo que o acompanha e permite que ele exponha seus dons, agregando-os aos de cada um que estão ao seu lado, Fábio contou com uma mixagem tão competente de Adonias Júnior que conferiu a este o status de mais um músico no estúdio.

Abrindo o CD, “Pedra 15” (Fábio Peron). Num arranjo de Fábio, o início tem o bandolim agitado. O violão de Thiago Saul e o contrabaixo de seis cordas de Renato Leite marcam o tempo dos compassos com acordes. A bateria de Fernando Amaro puxa a quebradeira. A melodia é popular, dando vontade de aprendê-la e cantar junto. O samba chega logo após a sequência dos compassos iniciais. Num belo intermezzo, o baixo traz para si o suingue.

Segue-se “Samba Brasil” (Fábio Peron). O arranjo é de Fábio, e, como na faixa anterior, antes da entrada do samba, uma introdução – desta vez meio valsa, meio choro – soa lírica. A melodia é belamente solada pelo bandolim. O baixo de André Henrique e o violão de Thiago Saul tocam a melodia pop, de fácil assimilação. A bateria de Fernando Amaro é sutil.

Três faixas acentuam a amorosa homenagem de Fábio a seu pai Italo Peron. Em “Com Você” (Fábio Peron), Fábio criou um arranjo com introdução delicada e bateria vibrando só nos pratos; o bandolim prossegue a melodia, dando-lhe suave encanto, o violão está nas mãos de Italo. Respeitoso, como se não quisesse importunar o brilho do filho, as seis cordas paternas criam atmosfera propícia à emoção. “Sentimento Maior” (Fábio Peron) é uma ode do filho Fábio ao pai Italo, que está ao violão; o baixo de Zeli Silva e a bateria de Edu Ribeiro encorpam a declaração de amor musical. “Euridiciana” (Italo Peron) tem arranjo do autor e conta apenas com o seu violão e o bandolim de Fábio; e é em nome do pai que o dez chora a valsa inspirada em “Valsa de Eurídice”, de Vinícius de Moraes.

“Seu Sete” (Fábio Peron e Thiago Saul), além do brilho inconteste do bandolim de Fábio, tem como destaque a bateria de Fernando Amaro num final que remete levemente a “Sorongaio”, de Pedro Sorongo, gravada por Baden no LP “Baden Powell muito à vontade” (Elenco).

E, assim, Fábio Peron faz a festa. Em suas peças instrumentais, vê-se uma aptidão inequívoca; de seus dedos nasce o som ágil e ardoroso de um instrumento que ele, a cada dia, seguramente ampliará com sua talentosa personalidade.

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