A paulistana Vanessa Bumagny lançou O Segundo Sexo (independente), seu terceiro CD. Cantora e compositora, ela assina sozinha seis faixas, além de outras quatro em que escreveu letras para melodias de parceiros e uma em que musicou um poema de João Cabral de Melo Neto. Segundo ela própria, este CD tem uma pegada mais vivaz e dançante.
Vanessa é uma boa compositora. Suas melodias carregam o gene da música pop. E é contemporânea, o que confere às composições um quê de modernidade, ainda mais quando acrescidas da sonoridade vinda de seus produtores. Ela tem uma voz graciosamente afinada, algumas vezes soando cândida, noutras, quase inocente. Nunca dissimulada, sempre sincera, exprimindo verdades que nasceram com ela e que transparecem nítidas em seus versos e em suas melodias. Aí está a verdade.
Com exceção de uma das faixas, que conta com um naipe de sopros, cada produtor arregimentou um pequeno grupo de instrumentistas, dentre eles guitarristas, baixistas, bateristas, percussionistas, violonistas, tecladistas etc., e com eles ornou a criação musical de Vanessa Bumagny.
Destaque para “Tristeza Só” (Vanessa Bumagny), um samba muito bem concebido, envolto numa levada pop, que teve produção de Zeca Loureiro e Rogério Bastos. Ele traz as guitarras do próprio Loureiro e a bateria de Bastos, além do baixo de Henrique Alves, os teclados de Adriano Magoo e a percussão de Guilherme Kastrup. Meu Deus! Sem dúvida a melhor faixa do CD de Vanessa Bumagny.
“O Segundo Sexo” (Luiz Pinheiro e Vanessa Bumagny) conta com participação especial de Zeca Baleiro, que improvisa um rap e acrescenta picardia à música.
Outra boa faixa é “Evapora” (Zeca Baleiro e Vanessa Bumagny), que tem produção de Tuco Marcondes, ele que também toca violão. Uma balada suave, impregnada de naturalidade e lirismo, cuja simplicidade do arranjo dá a tônica.
“A Carlos Drummond de Andrade”, poema de João Cabral de Melo Neto, musicado por Vanessa, também com produção de Zeca Loureiro e Rogério Bastos, é um reggae no qual pontifica o naipe de trompete, trombone e sax.
“Você Era Meu Sonho” (Heloiza Ribeiro e Vanessa Bumagny) é outro delicado e belo momento do CD.
Fechando o CD, “Do Meu Jeito”, uma ótima melodia de Vanessa com letra igualmente bela de Luiz Tatit.
Apesar de considerar mixagem e masterização uma questão de gosto, arrisco-me agora a dar um pitaco: com arranjos esbanjando fortes pegadas instrumentais, parece-me que a voz está “perigosamente” quase no mesmo nível do volume dos instrumentos, o que resulta num menor entendimento das letras, bem como inibe a melhor apreciação do talento vocal de Vanessa Bumagny.
Ainda assim, O Segundo Sexo é um CD que deve ser ouvido, pois traz à tona uma artista de indiscutíveis predicados. Cantora e compositora de bons recursos, seu trabalho, pleno de musicalidade e personalidade, sem dúvida deve ser apreciado.
Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4
Contato: https://www.facebook.com/pages/Vanessa-Bumagny/233052270098491
PS. Perdemos um grande músico: Badeco, integrante da primeira formação do fabuloso Os Cariocas.
Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.
Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.
A resistência da Música Que Presta no Brasil (MPB).
Incrível o trabalho.
É miraculoso como alguns artistas ainda conseguem sobreviver a esse massacre da música para consumo e descarte imediato imposto pela indústria cultural.
“By the way”, olha que coisa bonita que essa cantora holandesa vem fazendo para homenagear a MPB
http://www.radio.uol.com.br/#/letras-e-musicas/martie/quem-te-viu,-quem-te-ve/5413550
http://www.radio.uol.com.br/#/letras-e-musicas/martie/uva-de-caminhao/5413552
https://pt-br.facebook.com/martiemusic
Eu adoro seus posts, Aquiles,
Eu adoro seus posts, Aquiles, e ate suas analises tecnicas sao estupendas: ouvi “Tristeza So” em duas gravacoes ao vivo e nao saberia te dizer o que a letra eh por causa do mesmo erro de mixagem.
Adicionando a isso: suas analises sao tecnicas demais. Eu adoraria saber o que voce tem a dizer a respeito de letras especificas e que te prendem a atencao (e como eu disse, nao entendi a letrada musica que voce ressaltou). Voce nunca faz analise psicologica do caracter que esta te contando a historia atravez da letra que o autor escreveu. Se eu tivesse algum dia trabalhado com Chico Buarque acho que eu tambem teria medo pois ele eh todo “caracter” e nada “autor”. Isso eh, ele eh tao tecnica que voce se perde a respeito do caracter do proprio autor. E seria um exercicio medonho analizar o autor no caso de Chico, claro.
(Eu comecaria com “Buarque eh bonitinho mas ordinario” so pra ensebar, e terminaria com “I mean, I guess, you knou, I think… the attitude is…” e dai pra baixo…)
E entao? Analise psicologica das letras?