Aquiles Rique Reis
Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.
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Olha ele aqui outra vez, por Aquiles Rique Reis

Luiz Millan concebeu as faixas como o ourives trata a joia rara – e é aí que o álbum se torna uma caixinha de música, daquelas que, quando levantamos a tampa, surge uma bailarina rodopiando

Olha ele aqui outra vez

por Aquiles Rique Reis

Hoje, o CD a ser conferido por nós é Achados & Perdidos (independente), o novo álbum do cantor e compositor paulistano Luiz Millan.

Desde o primeiro disco lançado em 2011, Millan já revelara ser do ramo: bom compositor e letrista inspirado, transformara o seu álbum de estreia, Entre Nuvens (igualmente independente), num belo cartão de visita. Foi quando senti que a sua passagem pela grande porta da música brasileira de qualidade se mostrava aberta.

Pois bem, leitores, foi aí que eu quebrei a cara. Conferindo o release do Achados & Perdidos, vi que me perdera e não achei nada, nadica de nada. Vi que entre os CDs de 2011 e o atual (2020), Millan lançou outros dois álbuns… O Dia Em Que São Paulo Floresceu (2014) e Dois Por Dois (2018).

Brincalhão: não me conformo, quer dizer que Luiz Millan lançou mais dois CDs e não me avisou? Deixa estar, tenho o coração grande o suficiente para não me deixar abater. Aliás, não sei se o que me deixou mais arrasado foi o Millan não ter me dito sobre os dois outros CDs ou a quarentena que me prende dentro de casa. Falando sério? Claro que foi a quarentena!

Poxa, Millan, pense bem, a distância entre o lançamento de CDs mexe com a ansiedade de quem torce para que você logo se torne um nome para estar lado a lado com os maiores. Mas, é claro, há tempo de sobra para quem tem o seu talento.

Brincadeiras e ironias à parte, ao ouvir algo novo, no caso o belo trabalho de Luiz Millan, me veio à cabeça os versos finais de Morte e Vida Severina, do poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto: “(…) É belo porque corrompe, com sangue novo, a anemia/ Infecciona a miséria, com vida nova e sadia/ Com oásis, o deserto, com ventos, a calmaria”. A emoção é inevitável…

Voltando à vaca fria: assim como eu tive o prazer de receber o seu álbum de estreia e gostei do que ouvia, o mesmo se dá agora, sem dúvida alguma, com Achados e Perdidos.

Produzido por Luiz Millan e Michel Freidenson, este que também criou os arranjos, tem a participação da ótima cantora Giana Viscardi. Um grupo de dez instrumentistas extraclasse se mostra envolvido pela concepção artística idealizada por Millan.

Para seguir seu rumo, Luiz Millan concebeu as faixas como o ourives trata a joia rara – e é aí que o álbum se torna uma caixinha de música, daquelas que, quando levantamos a tampa, surge uma bailarina rodopiando (minha mãe tinha uma dessa), ou um fuxico, com a magia da mutação heterogênea.

Apreciei o assovio em “Choro Para Lisboa” (Maurício Detoni e Luiz Millan), bem como gostei muito da flauta e do cello no tema instrumental “Dissonâncias” (Luiz Millan) e da delicadeza amorosa da letra e do som do flugelhorn (Bruno Soares) em “Movimento” (LM e Marília Millan), e fiquei bem surpreso ao sacar que a voz de Millan está mais firme e apurada do que estava no primeirão…

Ô Millan, quando for lançar outros CDs, me avisa, valeu?

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4

  1. As brincadeiras são proporcionais ao grande valor que têm os álbuns de Luiz Millan.

 

Aquiles Rique Reis

Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.

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