Aquiles Rique Reis
Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.
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Os sobrenomes do samba, por Aquiles Rique Reis

Proponho viajarmos pelo universo musical do violonista, guitarrista, compositor e cantor Cláudio Jorge, que lançou o álbum Samba Jazz, de Raiz (Mills). 

Os sobrenomes do samba

por Aquiles Rique Reis

O samba nasceu na Bahia e fincou raízes no Rio de Janeiro, enquanto o jazz brotou em Nova Orleans. Sabendo disso, proponho viajarmos pelo universo musical do violonista, guitarrista, compositor e cantor Cláudio Jorge, que lançou o álbum Samba Jazz, de Raiz (Mills). 

Álbum conceitual, foi concebido a partir de um modelo inédito, modelo esse criado e perfilhado por Cláudio. Um novo lance musical que, desde o título, assume o DNA do pai – ele que assumiu a “criança” nascida sob sua inspiração.

Fiquei gratamente surpreso com a voz de Cláudio Jorge. Um cantar de sambista bamba, que divide as frases com um sentido rítmico de lascar o cano e tem uma afinação capaz de situá-lo entre os cantores que arrasam na interpretação, sem que as notas das melodias resvalem e semitonem.

Compositor e violonista respeitado no meio musical, Cláudio compõe expressando verdades. Não há mentira nem enrolação nas harmonias, nas melodias ou nas letras, cujas palavras têm música em si – daí pra suingar é um pulo. Há, isso sim, versos de alta qualidade somados às harmonias e às melodias, todos a serviço da modernidade e do bom gosto.

Das quinze músicas do álbum, cinco são só dele. “Samba Jazz, de Raiz”, por exemplo, abre a tampa, com Cláudio no violão e na guitarra, apoiado pelo baixo acústico de Zé Luiz Maia e pela batera inesquecível de Wilson das Neves. Sim, ele mesmo: o CD levou seis anos para ser finalizado… ô sorte! 

O suingue está na voz, no baixo e na batera, todos conectados ora ao violão, ora à guitarra de CJ, ele que toca um intermezzo de rara concepção. Nos compassos que levam ao final, a batera se destaca num groove poderoso.

Outro samba só de Cláudio Jorge é “Coração Lan House”. Ele está ao violão, enquanto Ivan Machado fica a cargo do baixo elétrico, Camilo Martins da batera e Marcelinho Moreira da “percussa”. Saquem o trechinho final da letra: “(…) Querendo enfim compartilhar/ Não vem de play que eu não estou de pause/ Teu coração é uma lan house/ Qualquer um pode entrar”.

Em “Denise” (CJ e Nei Lopes), os saxes tenor e barítono de Humberto Araújo, tanto na intro quanto no intermezzo, dão ao samba o que ele precisa para se tornar samba de raiz e jazz.

Outro samba bom é “Vila Isabel” (CJ e Manduka). A intro, com vocalise de CJ em uníssono com o violão, é papo reto.

“Com a Fé Que Deus Me Deu” (CJ) tem refrão emocionante. Meu Deus!  

A tampa fecha com “Você Pra Mim, Eu Sou Pra Você” (CJ e Ivan Lins), cujo arranjo é um exemplar de samba de raiz acasalado com o jazz. Nela, a voz de Fátima Guedes reveza-se com a de Cláudio, apoiadas pelo piano de Ivan.  

Ouvir Cláudio Jorge cantar é uma das formas de sacar que o samba vem de uma raiz com vários galhos. A sua diversidade se multiplica-se na magia da comunhão, numa conjunção que permite não só que o jazz lhe faça companhia, como também o rock, o bebop e quem mais se habilite a com ele se ajuntar. Juntos, criam então um novo tipo de samba, apenas com outro sobrenome.

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4

Aquiles Rique Reis

Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.

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