Transmissor no Teatro Oi Futuro Klauss Vianna

Folk Rock: esse é o rótulo que as comunidades musicais da internet dão à banda mineira Transmissor. O som deles também é descrito como uma mistura de rock contemporâneo, bossa-nova e Clube da Esquina. Confesso que nunca tinha ouvido nada igual aqui pelas bandas de minas, o que foi pura falta de pesquisa da minha parte. Os “transmissores” têm origens em bandas diferentes de Belo Horizonte: Leonardo Marques e Tiago Corrêa tocaram no Udora e na Diesel (se não me engano, Leonardo ainda está no Udora), Pedro Hamdan toca bateria na Mordeorabo, Jennifer de Souza integra a banda Cinza. Henrique Matheus, guitarrista e produtor musical, fecha o time que compõe o Transmissor. O vocal é dividido entre Jennifer, Leonardo e Tiago, que também toca baixo e piano. A bateria é de Pedro Hamdan. Guitarra e violão são instrumentos quase unânimes no grupo

Descobri a banda na web e ouvi o seu primeiro e único álbum, “Sociedade do crivo mútuo”, lançado em 2007, freneticamente. Estava ansiosa pela performance ao vivo. Senti um alívio enorme quando soube pelo Twitter que eles fariam show em Belo Horizonte. A apresentação foi no Teatro Klauss Vianna, em treze de maio, no Espaço Oi Futuro. Já adianto que o desempenho dos transmissores não me decepcionou nem um triz.

Era a primeira vez que tocavam naquele Teatro. Como percebi ao longo da apresentação, o grupo estranhava a timidez da platéia. Acostumados a tocar em bares da capital mineira, os shows do Transmissor têm participação ativa do público. Mas o Teatro tinha seu charme, isso era inegável.  No histórico da banda, destaque para a apresentação no Conexão Vivo, em 2009, uma das maiores até agora. Também costumam tocar no Rio e com mais freqüência no interior de Minas. Em Bom Despacho, o show no Festival Jambolada também marcou o currículo do grupo mineiro.

 

Simpáticos, me concederam uma rápida entrevista. Questionados sobre semelhanças com Vander Lee e Los Hermanos, afirmam que sim, já ouviram esse tipo de comparação, e não, não se incomodam com pequenos traços semelhantes, mas sim com rótulos. “Não queremos suceder ninguém.” E não sucedem. Só quem escuta pela primeira vez faz essas conexões. Depois de treinado o ouvido, é fácil reconhecer a personalidade do Transmissor em seu trabalho

 

Sobre o novo CD, “Nacional”, nenhuma grande inspiração. Henrique Matheus, guitarrista, fala sobre o nome: “Não tem uma explicação literal, mas talvez porque estamos escutando muita coisa de MPB antiga, redescobrindo a música nacional, nas influências, claro.” A novidade está na sonoridade, alguns instrumentos inéditos foram agregadosapresentados no show. “Tem um toque de Silvio Santos”ri Thiago Correa. Eu não percebi, mas ele me garantiu que ouvindo o novo CD perceberei.  Deve sair até o fim do ano, sem falta”, afirmam, com notável entusiasmo.

 

A apresentação começa intimista, com ares de espetáculo particular e um pequeno atraso, às 21h30. No palco, apenas instrumentos e os cinco integrantes da banda. Nenhum outro atributo decorava o espaço, o que fazia com que o foco da platéia se intensificasse ainda mais em cada detalhe da performance dos artistas ali presentes.

 

A balada “Janela” inaugurou o repertório da noite. A imponência do Teatro, com suas cadeiras vermelhas ultra-confortáveis, constrangiam os fãs mais afoitos, como eu. Limitávamos-nos a uma dublagem discreta durante as músicas. No palco, a banda parecia igualmente acanhada. Tudo bem, era só o começo do show.

 

Depois de “Nada vai mudar”ouvimos a primeira música inédita, que deve compor o novo CD. “Para que pensar em voltar atrás se nós queremos mais,” dizia o refrão da canção de autoria de Henrique, ainda sem nome. Não era nada muito diferente do trabalho mostrado no primeiro álbum: tinha emoção, delicadeza e cativava sutilmente os ouvidos.

 

“Poema da batalha” trazia um tom diferente, marcado por violão, com um vocal forte de Thiago Correa. A banda já se reconhecia no palco, mas nós na platéia continuávamos bem grudados à poltrona. Em “Primeiro de Agosto” houve um coro discreto de murmúrios, o gelo começava a se quebrar, estávamos vencendo o Teatro. Mas “Dez segundos” era melancólica demais para nos dar força, a melodia era como um pedido de colo, feria a alma, indiferente ao estado emocional de quem ouvia. Belíssima interpretação. A coragem veio com o incentivo dos integrantes da banda, que pediram palmas no início de “Vem a chuva”. O público acatou com entusiasmo. 

 

No final de “Aquática”, me impressionei com a sintonia silenciosa entre os músicos. Aliás, eles formam o tipo de banda que te dá uma vontade enorme de conhecer de muito perto, sentar num boteco e virar amigo de cada um. Depois de “Colorida”, mais músicas inéditas. “Outra ela” é marcada por destaque do violão e a voz grave inconfundível de Jennifer Souza, que de tão grave às vezes chega a abafar a letra.

 

Thiago faz um intervalo para explicar a demora do segundo CD, que foi produzido num “retiro”, diz ele. Fala de muita alegria, decepções, superprodução e descoberta, e encerra com um obrigado tímido. Seguem com outra música inédita toda acompanha por assobiosSó se for domingo” é mesmo uma delícia de ouvir. A platéia entra na onda, já bem mais a vontade. Mas quando começávamos a nos sentir em casa, “Jeninha” veio fechar a apresentaçãoEssa última canção foi iniciada e encerrada com um dueto entre banda e palmas elétricas da platéia, libertando a todosThiago Correa saltou do palco e veio cantar entre nós. Assobios, palmas e muito lalala. Frenesi. A banda sai, mal se despedindo. O coro pedindo “mais um” veio a cavalo. Era puro charme dos transmissores, voltaram logo para tocar a derradeira “Eu e você.”  Agora sim, acabou. Muitas palmas, assovios e largos sorrisos simpáticos no palco.

 

Saí realizada. Delícia de show. Que gente talentosa e gentil! O próximo promete, é no Studio Bar, dia 21 de maio. Eu estarei lá, dessa vez com todo o meu empenho groupie, cantando a plenos pulmões  para gastar toda a energia que eu armazenei hoje. 

Aline Dacar

maio de 2010

Redação

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