Aquiles Rique Reis
Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.
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Rainha do rock, por Aquiles Rique Reis

Depois de gravar um CD só com músicas de compositores cearenses, Mona Gadelha lança agora um álbum no qual estreita suas relações afetivas com Fortaleza, sua cidade natal.

Cidade Blues rock nas ruas (Brazilbizz Music, com apoio do governo do Ceará) é um manifesto amoroso, movido a muito blues e rock and roll. A pegada pop daquela que nos anos 1970 era a “musa do rock” da turma do Ceará continua intacta. Sua voz forte e encorpada, sempre densa e profunda, ganhou maturidade: está mais solta, segura e entoando as notas sem deslizes, com boa afinação, o que faz um bem danado de bom às suas músicas.

Dá gosto ouvi-la se dilacerando ao cantar versos que a levam a um transe meio endoidecido, capaz de contagiar um ouvinte careta. Suas letras estão em consonância com sua vida presente, passada e futura; suas melodias seguem no mesmo embalo, forjando um repertório que toca sua alma e explode na de quem a escuta.

Cidade Blues Rock nas Ruastem cinco músicas só de Mona, cinco com parceiros diversos e três das quais ela não participa da autoria. Uma base instrumental de músicos seus conterrâneos, com bateria (Richard Ribeiro, pulso firme), baixo (Regis Damasceno, desenhos vigorosos), guitarras e violões (Alexandre Fontanetti, produtor musical do CD e dono de riffs que atestam sua capacidade), eventualmente somada a teclados, acordeom e vocais de apoio, criam o clima que Mona precisa para mais uma vez mostrar-se como uma das mais perfeitas traduções do rock Brasil.

Um parêntese: muito se enaltecem as roqueiras nacionais, dentre as quais Rita Lee talvez seja a mais incensada, assim como Cássia Eller. Muito justo. Mas deixar Mona Gadelha de fora dessa lista é uma injustiça daquelas. Desde a sua postura irrequieta e contestadora até suas músicas de crueza apimentada, tudo conspira para que Mona já seja também reconhecida como “rainha do rock Brasil”. Infelizmente, assim ainda não é. Fecha parêntese.

Na primeira faixa, “Angela B” (Lucio Ricardo), o peso do instrumental, tipicamente anos 1960, arrasta tudo o que vê pela frente. Mona, decidida a mostrar que é mais ela, carrega a forte pegada roquenrrol.

“James Dean” (Ricardo Augusto) é uma balada lenta onde a bateria pulsa forte, enquanto o Hammond refaz o clima dos arranjos que marcaram grandes sucessos do gênero. Com letra misturando frases em português, inglês e francês, Mona cria um bom momento.

“Parabélum” (Siegbert Franklin e Mona Gadelha) é um ‘baioque’ arretado, com direito a acordeom na pisada de baião, enquanto o rock pulsa na intenção rítmica.

“Vulnerável Blues” (Mona Gadelha) tem bela introdução de violão. Logo a bateria, o baixo e a guitarra puxam um lamento em forma de blues. Mona se faz de blues womansinger e arrasa, assim como cativa o improviso lancinante da guitarra.

Mona Gadelha continua respirando modernidade e transpirando criatividade, seja em suas próprias composições ou na de outros autores, dando-lhes novos ares e impulsos libertários.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4

Aquiles Rique Reis

Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.

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