Raridades de João Gilberto

Da Folha

Engenheiro de som francês “libera” gravações caseiras divulgadas por blogs

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
DA SUCURSAL DO RIO

Antes de se espalhar pela internet, as gravações caseiras de João Gilberto passaram pelas mãos de um sueco, um francês e alguns brasileiros.

Com a cópia das gravações de João Gilberto feitas na casa do fotógrafo Chico Pereira, em 1958, o sueco Lars Crantz procurou o músico e engenheiro de som francês Christophe Rousseau para remasterizar o material. Rousseau o fez e acabou por também divulgar os registros para o blog Toque Musical (toque-musical.blogspot. com), dedicado a raridades da música brasileira.

Na última segunda-feira, o blog disponibilizou o primeiro link para download do arquivo das gravações, contextualizando os registros.

Dois dias depois, o blog “Vitrola” (vitrola.blogspot. com), do jornalista Ronaldo Evangelista, publicou post sobre o assunto no qual remetia ao Toque Musical. Rapidamente, o link e a história se espalharam por diversos blogs relacionados à cultura, como “Trabalho Sujo” (oesquema.com.br/trabalhosujo).

Ontem pela manhã, o link para download do Toque Musical já não estava mais disponível. No entanto, com uma busca pelos nomes João Gilberto e Chico Pereira na internet era possível encontrar diversos caminhos para o download.

No início da noite, o Toque Musical saiu do ar. A Folha conversou por telefone com o dono do blog, que preferiu não se identificar. Ele demonstrava receio em relação à repercussão da história.
A Folha não conseguiu localizar Cláudia Faissol, atual empresária de João, para saber se tentará fazer algo contra a divulgação das gravações.

Comentário

É um documento histórico que comprova algo que venho sustentando há muitos anos: a enorme influência do samba-choro e do samba sincopado no balanço de João Gilberto.

Aqui vão algumas faixas selecionadas. Vou dar minha caminhada de sábado ouvindo a íntegra dessa maravilha. Depois acrescentarei outras faixas (“Nos braços de Isabel”, é gravação de um dos reis do sincopado e do samba-choro, Joel e Gaúcho).

Quem náo conseguir ouvir por aqui, vá a esse endereço: http://www.divshare.com/playlist/483486-6bc

Comentário 2

Depois da caminhada matinal, e de ter ouvido o disco quase todo. É um retrato extraordinário do universo musical de João Gilberto. Tem o violão à Garoto, a bossa nova de Tom, Caymmi, os sambas-choros, o samba-canção, a seresta. E uma declaração apaixonada a Jacob do Bandolim.

Tenho a impressão de que esse acervo liquida uma discussão besta, que vem do “Balanço da Bossa”e do livro do Rui Castro (que já reviu sua posição), mas foi fundamentalmente alimentado pelos musicólogos da USP e pela influência de Ronaldo Bôscoli: a idéia de que a bossa nova foi uma ruptura, quando foi uma síntese do que de melhor a música brasileira tinha produzido até então.

Luis Nassif

14 Comentários

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  1. nao tem mais, nao?!

    (valeu,
    nao tem mais, nao?!

    (valeu, o joao gilberto deve ter mudado a vida de muita gente, senao pelo menos a sensibilidade de varias geracoes, valorizando o que ja temos meio fora do normal, a nossa musicalidade, segundo caetano…)

  2. O livro a que você se refere,
    O livro a que você se refere, Nassif, é ” Chega de Saudade”, do Ruy Castro? É um grande livro, um belíssimo documento sobre a bossa nova, mas o autor pareceu considerar a nova tendência musical_ eu denominaria assim_ a única possível de ser ouvida, como deixa claro em vários pontos da obra, em que não percebe a dimensão que diversos artistas anteriores e posteriores ao movimento bossa-novista trouxeram à música brasileira como um todo. Do ponto de vista etnológico, a bossa foi uma confluência de experimentos e desenvolvimento natural de ritmos e harmonias nacionais sintonizados com elementos musicais que o mundo propiciava. Tanto que João Gilberto e Tom vieram no rastro de Dick Farney, Lúcio Alves, Johnny Alf e muitos outros, cada um com sua contribuição. Bôscoli_ que poderia ser considerado uma segunda geração da bossa, imediatamente após os pioneiros oficiais Jobim, João e Vinícius_ colaborou para a estética sal-céu-sol-sul da Bossa Nova. Que rapidamente foi confrontada pela vertente de Carlinhos Lyra e Nara Leão, que pregavam letras mais engajadas e um compromisso social maior da música. Logo, penso que a bossa não foi nem ruptura nem síntese de nossa música. Foi uma parte genialmente atingida do processo de evolução criativa e desenvolvimento musical que o Brasil conquistou.

  3. Virgulino,

    no citado livro
    Virgulino,

    no citado livro de Ruy Castro, ele menciona que a ” batida” de João teria sido criada em experimentos feitos no banheiro da casa da irmã, em Diamantina-MG, em que ele utilizava o eco proporcionado pelo local para desvincular a simetria entre os acordes e as sílabas tônicas do canto. Vá saber….

    Lendas urbanas. Já coloquei aqui uma faixa do Garoto com a batida pronta, sem tirar nem por.

  4. Musicólogos da USP?? Desde
    Musicólogos da USP?? Desde quando paulista entende alguma coisa de música brasileira?
    Fora isso uma síntese pode ser também ruptura. As rupturas também tem passado. No mundo real não existe geração espontânea. Tudo vem de algum lugar, até as revoluções.

    Mas para os filhos dos irmãos Campos, João Gilberto nasceu de proveta.

  5. Nassif, as faixas 11, 12, 19
    Nassif, as faixas 11, 12, 19 e 20 estão com “pau”.
    Tanto aqui no tocador do blog quanto no link do divshare.
    E parece que o link anterior do divshare já não funciona mais.

  6. Genialidade não
    Genialidade não envelhece.

    Tenho 24 anos e , quanto mais olho pra trás, mais impressionado fico com nossa música. Não que o João Gilberto seja uma novidade, mas sua capacidade com o duo violão e voz é espantosa.

    Boa música não tem idade.

    “Repostei” o link, pra compartilhar com uma meia dúzia de amigos.

    Valeu!

  7. A única novidade pra mim,
    A única novidade pra mim, nessa gravação, é justamente essa conversa em que o João cita um Jacó de SP (o primeiro nome que ocorreu a ele), violonista, ao ser perguntado sobre quem era o melhor violonista do Brasil. O resto já está tudo ouvido, com exceção de duas ou três faixas não gravadas posteriormente, nos 3 primeiros discos de João.
    ***
    Se der corda para Caetano e outros baianos, Beethoven também nasceu na Bahia.
    E carioca nunca vai dar o braço a torcer pra reconhecer o que qualquer pessoa inteligente percebe: Garoto é mais pai da bossa nova que todos os outros badalados, baianos, cariocas ou quejandos. Se não tivesse morrido novo ainda, o bla-bla-bla seria outro. Todo mundo virou entendido.

  8. Se querem a minha opinião,
    Se querem a minha opinião, não acho o João Gilberto o criador da batida da bossa-nova, que Garoto usava muito antes dele. É uma grande mentira que repetem ad infinitum e que tem se consagrado, principalmente na boca de certos baianos. E os cariocas, que acham que paulista não entende nada de nada e que o berço da bossa nova e do choro é o Rio, não dão e talvez nunca deem o braço a torcer. “São Paulo é o túmulo do batidão”, já ouvi de uma mulher-jaca-rioca.
    Não sou nem paulista, nem baiano e nem carioca. Nesta época em que todo o mundo é entendido (em falar e repetir bobagem), na condição de apenas um bobão mineiro, sem ouro e sem diamante, posso puxar o bacalhau pra minha terra, porque dizem que João desenvolveu sua batida na casa da irmã que morava em Minas, em Diamantina, onde ele fora tentar a vida no garimpo, porque estava farto de miserê.
    Assim, a Bossa Nova nasceu em Minas!
    Para provar isso, basta contar a história que conheço desde garotinho.
    Lá em Diamantina, onde nasceu John Kennedy, morava um gaguinho fanhoso que gostava de enrolar unzinho e tocava violão (e cantava!). O Gagó, como era conhecido na roda da esquadrilha da fumaça local, recém-chegara de São Paulo, onde conheceu o nessa época já falecido Garoto. O encontro dos dois se deu numa viagem de trem (TREM, minha gente!!!) do Rio para São Paulo. Gagó pediu para Garoto tocar alguma coisa, no vagão-restaurante, no que foi atendido com prazer. A partir daquele encontro, o gago vivia repetindo a batida de Garoto ao violão.
    João achou que tinha achado ouro no meio daquele fumacê e o resto é história. Mal contada de novo, mas quem é que se importa?
    Se você reparar bem, o João cita o Gagó quando perguntado sobre quem era o melhor violonista do Brasil, na faixa 35: “Jacó, de São Paulo”. Alguém aí conhece algum Jacó de São Paulo?
    Jacó era o nome do Gagó. E Gagó era um TRIcadilho para se referir ao Gago Jacó do Gogó (porque cantava com aquela vozinha de garimpeiro que grita pra dentro quando encontra ouro e não quer atrair larápios e nem pagar o quinto; e/ou com aquela voz de quem canta pra dentro pra não perder a fumaça…).
    Gagó morreu numa batida da polícia logo depois que João saiu da cidade, e o violão dele foi parar lá em casa, forrado de um capim esquisito e com várias páginas soltas de um papel bem fininho, faltando muitos pedaços, com partituras feitas a lápis, todas músicas inéditas de um tal de Garoto Sardinha.
    Que foi o que resolvi puxar pro meu lado.
    A sardinha, não o “unzinho”.
    Minha mãe queimou tudo. No bom sentido, claro.
    Desperdício, dirão os entendidos.

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