Rato pra comer, rock pra viver, samba pra vender… sorrindo
por Carlos Motta
Roberto Carlos pode ser o “rei”, mas o gênio musical nascido em Cachoeiro de Itapemirim é Sérgio Sampaio, que morreu em 1994, aos 47 anos.
Sampaio estourou nas paradas em 1973, com “Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua”, mas o sucesso não se repetiu com os três LPs que gravou em vida, embora eles, assim como o disco póstumo, “Cruel”, estejam repletos de canções extraordinárias, muito acima da média da produção nacional.
Com o passar do tempo a qualidade da obra de Sampaio foi sendo reconhecida, mas como nasceu e viveu no Brasil, depósito de lixo da indústria de entretenimento americano, o rótulo de “maldito” não se despregou dele, e assim, até hoje, ele vaga pela música popular em companhia de outros artistas de talento incomum, como Jards Macalé, Walter Franco e Itamar Assumpção – para ficar apenas nos mais conhecidos.
Sampaio não foi um revolucionário, mas soube, como poucos, modernizar a linguagem da riquíssima produção nacional, compondo melodias fáceis, mas não banais, com letras recheadas de achados poéticos capazes de emocionar o mais empedernido dos ouvintes.
Algumas de suas canções refletem uma alma atormentada e um espírito sensível à realidade de uma sociedade soterrada pelo peso de uma ditadura militar. E elas, embora não sejam explicitamente políticas, dizem muito sobre a miséria de se viver numa nação que não dá nenhuma esperança a seus habitantes.
O samba “Velho Bandido”, integrante do LP “Tem Que Acontecer”, de 1976, é um exemplo do quanto Sampaio é atemporal. Parece que seus versos retratam o brasileiro que sobrevive neste Brasil Novo, e não que foram escritos há quase 50 anos.
A canção foi regravada esplendidamente por Jards Macalé e pelo grupo Casuariana, mas a gravação original é dinamite pura.
Ela pode ser ouvida aqui:
Eu que sou filho de um pai teimoso
Descobri maravilhado que sou mentiroso
Sou feio, desidratado e infiel, bolinha de papel
Que nunca vou ser réu dormindo
E descobri como um velho bandido
Que já tudo está perdido neste céu de zinco
Eu que só tenho essa cabeça grande
Penso pouco, falo muito e sigo pr’adiante
Descobri que a velha arca já furou
Quem não desembarcou
Dançou na transação dormindo
E como eu fui o tal velho bandido
Vou ficar matando rato pra comer
Dançando rock pra viver
Fazendo samba pra vender… sorrindo
Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.
Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.
Adoro e tenho todos os
Adoro e tenho todos os discos.
Aliás, adoro todos os citados. Exceto Macalé, egocentrico e chato.
Cala a boca Zebedeu
Gosto muito de “Cala a boca Zebedeu”, talvez por ser muito parecida com a minha mulher.
Que mulher danada
Essa que eu arranjei
Ela é uma jaraca meu Deus
Com ela eu me casei
Quando está desesperad
fala, fala prá xuxú
E quando abre a matraca logo vem o sururú
Ontem falando falando com ela
Ela gritou!
Cala a boca Zebedeu
Não se meta comigo
porque na minha vida quem manda sou eu
Ontem quando eu cheguei em casa
às sete horas
Tava com a mala na mão
às sete horas
Sendo que ia embora
às sete horas
Nas garras de um gavião ão,ão
Olhou prá mim
E me disse sem pestanejar
Eu vou pro Rio de janeiro vê o escrete brasileiro jogar
Eu vou pro Rio de Janeiro vê os escrete brasileiro jogar.