Aquiles Rique Reis
Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.
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Um tesouro amazônico, o cd de Oneide Costa, por Aquiles Rique Reis

Amparada pela família, enlaçada à floresta e banhada pelo rio mar, Oneide Costa segue em frente: “Se parar de cantar, eu morro”.

Um tesouro amazônico

por Aquiles Rique Reis

“Nascida na década de 1940, na Ilha dos Porcos, região do Afuá, no Pará, braço do rio Amazonas, Oneide Costa é considerada a rainha da música da Amazônia.”

Foi lendo o perfil dessa cantora, que até então não conhecia, que liguei o som e deixei que sua voz preenchesse a minha alma, e somente depois chegasse a todos os meus sentidos. Que surpresa boa! Oneide canta magistralmente, com uma voz tão delicada, que, encantado, antes de seguir na audição, ouvi várias vezes apenas a primeira música do CD Pedra do Rio (Rumos Itaú Cultural). Meu Deus!

Louvo Dante Ozzetti, produtor musical, diretor artístico e arranjador do álbum já nas plataformas desde 20 de maio. Vão lá, confiram!

Logo me dei conta de que o título que lhes deram era pura verdade: “Rainha da Música da Amazônia!”. O impacto que sua voz causou me deixou boquiaberto. O que é aquilo? Aquela senhora parecia ter um tesouro amazônico na voz. O frescor do seu canto (ela não revela a idade) tem o viço do rio Amazonas. Abrigada pela grande floresta, Oneide Costa nasceu para cantar e defendê-la.

A tampa abre com “Pedra do Rio”, linda música de Luhli e Lucina. Dante burilou a pedra preciosa que tinha nas mãos, enriquecendo o que já era opulento. Tocando violão e guitarra, seus arranjos são prodigiosos. Com um pequeno grupo de instrumentistas, lá estão, dentre outros, Sérgio Reze (batera), Fi Maróstica (baixo), Guilherme Held (guitarra elétrica).

E é com eles que “Pedra do Rio”, após intro de alguns compassos, antecede a chegada de Oneide, justamente quando o deslumbre de sua voz floresce.

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Outra riqueza rítmica vem com “Congá”, de Paulo Bastos (filho de Oneide Bastos e irmão da cantora Patrícia Bastos). O suingue é inteiro. A levada amapaense se agiganta. Oneide canta como um passarinho jovial, enquanto as divisões de fraseados acrescentam viva emoção à sua voz. O intermezzo de guitarra expõe o que o povo do Norte adora ouvir – poucos são os do Sul e do Sudeste que se familiarizaram com eles –, mas deixa estar, logo haveremos de conhecer melhor e também sentiremos o arrepio de marabaixo, batuque, lundu, maracatu, carimbó, samba, retumbão, jongo e alujá, ritmos que Oneide se esmera em tornar vibrantes.

O arranjo de Dante é outra pérola. Além dos já mencionados Fi Maróstica (baixo), Guilherme Held (guitarra elétrica) e Dante Ozzetti (guitarra elétrica), tocam Guilherme Kastrup (percussão) e mais os violinos de Luiz Amato, César Miranda, Soraya Landim, Andreas Uhlemann, Amanda Martins, Caio Santos, Alex Braga e Guilherme Peres, além das violas de Emerson De Biaggi, Elisa Monteiro e Fábio Tagliaferri, dos cellos de Adriana Holtz e Jin Joo Doh e do contrabaixo de Marco Delestre. Belo!

Com uma capa singela, a cargo de Skipp (é assim que assina o artista, filho de Patrícia Bastos e neto de Oneide), o CD é protegido.

Amparada pela família, enlaçada à floresta e banhada pelo rio mar, Oneide Bastos segue em frente: “Se parar de cantar, eu morro”.

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4 desde 1965.

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Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.

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