Uma joia do rádio, No Tempo de Noel Rosa, por Almirante

Aqui vai uma preciosidade para vocês: a série “Nos Tempos de Noel Rosa” prpoduzida em 1951 por Almirante para a radio Tupi.

É um documento preciosíssimo.

Ao longo da minha vida, conheci grandes radialistas. Acompanhei nos anos 70 o Vicente Leporace. Depois, tive a honra de compartilhar do mesmo programa com seus sucessores, José Paulo de Andrade e Salomão Esper. Até o finado Ferreira Neto foi um belíssimo radialista, assim como os âncoras dos velhos programas da Jovem Pan, nos anos 70.

Mas nenhum superou Almirante.

Os senhores poderão conferir o nível dos textos, o ritmo que imprimia aos seus programas. E, nesta série, algo que só aconteceria muitos anos mais tarde, em plena era da Internet: a construção coletiva do conteúdo, apelando para os ouvintes que tivessem informações sobre o tema.

Nas diversas gravações, além de um acurado perfil psicológico de Noel, há uma enorme riqueza de informações sobre sua vida. Há as parcerias dele com Ary Barroso, Lamartine, Nássara, Ismael Silva, Heitor dos Prazeres e, lógico, com o maior parceiro, Vadico.

Há episódios engraçadíssimos com seus amigos preferenciais, os motoristas de táxi. E cenas familiares hilárias, como o fato da avó pedir que a casa fosse preservada para que, no futuro, fosse reconhecida como a casa do verdadeiro Ruy Barbosa, do crânio da família, seu irmão Hélio – que Almirante define como um grande veterinário.

E há até levantamentos de plágios de Noel, como o refrão de Fita Amarela: “Quando eu morrer / não quero choro nem vela / quero uma fita amarela / gravada com o nome dela”.

O refrão foi reivindicado por Donga. Almirante mostra que, antes de Donga, havia um sambista, o Rubens, que cantava de forma muito mais próxima da de Noel. E, antes do sambista, já ouvira o refrão em São João do Merity.

Ainda não cheguei na parte trágica da vida de Noel. Mas o que ouvi até agora é inesquecível, talvez o maior documento já produzido pelo rádio brasileiro.

Similar a ele, apenas o levantamento dos violonistas brasileiros, feito por Fábio Zanon na rádio Cultura, até que a gestão Paulo Markun liquidasse com o projeto.

Além das gravações originais, do próprio Noel, as interpretações ao vivo são de Aracy de Almeida, Jamelão, Roberto Silva. O único senão são as interpretações de Aracy que, nos anos 50, já tinha perdido o balanço e a leveza dos primeiros tempos. Aqui, elas soam lentas, chorosas e arrastadas, fugindo do espírito de várias das músicas.

Na época, Aracy lançou diversos hi-fis que marcaram a volta de Noel.

Luis Nassif

5 Comentários

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  1. Ler, ouvir, curtir e lamentar.

    É ler Adorno, ouvir os interprétes de Noel (desde Francisco Alves, Almirante até Leila Pinheiro) e lamentar a decadência da música brasileira que é inversamente proporcional ao desenvolvimento da forças produtivas do país e a escolaridade de seu povo desde os tempos de Noel Rosa até hoje.

    1. Registrando tambem o branco

      Registrando tambem o branco que deu nos compositores da MPB depois do fim do regime militar, periodo no qual a musica popular explodiu com grandes composições e grandes cantores. Com a volta da democracia acabou a inspiração.

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