A estratégia do 1% para alçar o autoritarismo das redes à Casa Branca

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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da Fundação Perseu Abramo

A estratégia do 1% para alçar o autoritarismo das redes à Casa Branca

por Gabriel Rocha Gaspar

Como um trollador do Twitter foi parar na Casa Branca? Quem compôs a base – e o teto – de Donald Trump? Este texto tenta ligar os pontos de uma trama que envolve a desconexão entre o mainstream democrata e o contexto político dos EUA de 2016; a instrumentalização política de um grupo niilista de fãs de videogames e animes por megacorporações de finanças, tecnologia e inteligência militar; a inversão do fluxo de influência entre a grande mídia e a (a)política das redes. Este texto discute, enfim, como se desenvolveu esta nova cepa de infecção fascista que se alastra pelos Estados Unidos, do Vale do Silício a Wall Street, de Minneapolis à Casa Branca.

A elite liberal obsoleta e o feminismo conjuntural

Para entender o processo de primárias do Partido Democrata, é preciso analisar como a grande imprensa liberal gastou sua última fatia de credibilidade para enterrar a campanha de Bernie Sanders. Veículos como o Wall Street Journal, o USA TodayLA Times, o inglês The Guardian e até a Vice, que tem um verniz contracultural, foram os principais promotores do termo pejorativo “Bernie Bros”, que classificava os homens jovens que seguiam Bernie Sanders como “esquerdomachos” brancos utópicos que, decepcionados com o “realismo” econômico de Barack Obama,apoiavam propostas “absurdas” como universidade gratuita e o salário-mínimo de US$ 15 por hora. A virulência anti-alternativa, que ia da infantilização à hostilidade aberta contra quem se posicionasse do autoproclamado lado socialista da disputa, chegou a patamares absurdos e até contraditórios como quando Gloria Steinem, que foi pioneira do movimento feminista dos anos 60, disse que mulheres só seguiam Bernie Sanders pra impressionar seus companheiros esquerdomachos.

Mas até aí, era o establishment defendendo sua própria conservação com as armas publicitárias do seu tempo. Uma eleição de Hillary Clinton significaria uma manutenção dos mesmos lobbistas em Washington; asseguraria um controle estável sobre a Arábia Saudita; uma guerra militarmente fria, mas comercialmente quente com a China; a demonização da Rússia; a expansão da guerra pelo petróleo e os consequentes contratos militares e energéticos no Oriente Médio… Enfim, uma eleição da Hillary manteria o império fazendo seu business as usual, vestido numa indispensável fantasia liberal. Hillary construiria o muro na fronteira sul, mas sem fazer propaganda; expulsaria mais imigrantes do que Obama (que, aliás, expulsou mais do que qualquer outro presidente), mas pregaria abertura de fronteiras por meio de tratados comerciais; continuaria pregando transparência e perseguindo “whistleblowers” como Edward Snowden, Julian Assange e Chelsea Manning; continuaria fazendo do assassinato, política de Estado com a guerra de drones enquanto pregaria a necessidade de invadir países estrangeiros em nome da democracia; Em suma, Hillary manteria o business as usual. Leia o artigo completo aqui.

 
Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

6 Comentários

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  1. “Revolução dos idiotas” e como dar combate a ela.

    As famosas “fundações” de grande capitalistas, pregadores do neoliberalismo vêm conseguindo arregimentar jovens universitários e profissionais de diversas áreas como jornalismo, psicologia e direito para serem seus “think thanks”.

    A exploração da frustração de pessoas que não conseguem fazer parte do “establishment” da academia, e que ficam fora da vanguarda intelectual em suas respectivas profissões é a estratégia dos endinheirados neoliberais para formar a sua “intelectualidade”.

    Os “outsiders” jogados ao ostracismo conseguem que portas se abram assim que aderem a propaganda neoliberal. Editoras, redações, espaços no rádio e televisão. Não preciso citar nomes pois os leitores do site conhecem vários exemplos de medíocres que conseguiram espaço como destaque nas vitrines de grandes livrarias, colunas em jornais de grande circulação e a fama nas mídias eletrônicas. Conseguem um “glamour” jamais sonhado devido a sua mediocridade. É a vingança que esperavam contra os intelectuais que os desprezam. Isso apenas aumenta a fúria de sua militância pelo obscurantismo.

    É tal “intelectualidade” que forma os jovens iletrados que sabem apenas de Taylor Swift, Call of Duty ou Pokémon Go, e cresceram assistindo ao Jornal Nacional. Eles também têm a sua vingança contra os “nerds” esquerdistas. Agora, são “celebridades” nas redes sociais enquanto os “nerds” têm blogs que quase ninguém acessa.

    A estratégia de luta contra tal “revolução dos idiotas”, como diria Nélson Rodrigues, é mostrar a verdade dos fatos. Desmascarar sem piedade as imposturas intelectuais da direita como faz o site “Voyager1” contra o debilóide neoliberal do canal “Idéias Radicais”. No nível mais abaixo, dos ignorantes que seguem “Olavão” e quetais, a solução é a mesma, como fez o vlogueiro Cristiano, do “VozCom” em relação a Nando Moura.

  2. “Este texto discute, enfim,

    “Este texto discute, enfim, como se desenvolveu esta nova cepa de infecção fascista que se alastra pelos Estados Unidos, do Vale do Silício a Wall Street, de Minneapolis à Casa Branca”:

    Feliz de te dizer que foi com MEU voto.

  3. Novidade?

    Fora a inflação retórica em torno do termo “revolucionário”, o que esse artigo (na sua versão integral) diz é, em essência, análogo a um comentário meu recente por aqui:

    https://jornalggn.com.br/comment/1150546#comment-1150546

    Ou, seja, já basta dessa palhaçada mistificatória da “política de identidades”! Já basta dessa palhaçada da histeria do feminismo contemporâneo e do neoracismo da “afirmação de raças” e da panacéia farsesca das quotas raciais!

    Basta de identidades! Vamos começar a olhar de novo as RELAÇÕES sociais, porque a única plataforma política capaz de aglutinar em torno de um projeto de sociedade não pode se orientar pelo horizonte do particularismo excludente, mas pelo horizonte do universalismo da inclusão.

  4. Não existe “facismo
    Não existe “facismo neoliberal” – o que existe é uma cultura abertamente contra empatia e pró-psicopatia; no facismo, os abusos são justificados a partir da ideia de que eles são necessários para construir uma coletividade grandiosa – uma nova Roma ou uma Gran Alemanha – abrindo espaço para uma justificativa moral dos comportamentos abusivos contra aqueles que estão marcados para não ter espaço nessa coletividade. No facismo, para a maioria de seus adeptos, a justificativa moral precede o comportamento abusivo.   Essa justificativa moral exerce um efeito psicológico importante em quem exerce abuso, tornando a pessoa menos similar a um psicopata e mais suscetível a incorporação de regras sociais via narcisismo – se sentir superior aos outros por seguir essas regras ao invés de segui-las por se importar com bem estar das outras pessoas. A cultura pró-psicopatia dispensa essa justificativa moral e faz o elogio do abuso – para seus adeptos, assim como para psicopatas, a necessidade emocional de ser abusivo precede qualquer tipo de discurso que o justifique. Isto leva a compulsão por comportamentos abusivos que é tão típica de psicopatas, sendo que mentir compulsivamente é, provavelmente, a modalidade mais comum dentre estes comportamentos.  Ao se deparar com pessoas que são viciadas em mentir, como o Trump, eles não processam esse estímulo como um sinal de perigo – uma evidência de que sujeito tende a deslealdade e irá traí-los no futuro (como o Trump irá fazer); ao invés disto, eles se sentem atraídos por mentirosos compulsivos, assim como também se sentem atraídos por quem profere discursos hipócritas contra alvos comuns – eles sentem prazer nisto. Ao repetirem tais discursos, ele se sentem como parte do evento de abuso e sentem muito prazer com isto. Esse prazer os induz a repetir o processo e a se psicopatizarem cada vez mais. Reconhece-los como tal – como pessoas pró-psicopatia e, obviamente, pró-abusos – abre o caminho para a forma mais eficiente de confontá-los: integrar as pautas identitárias através do discurso pró-empatia.  As diferentes formas de opressão têm em comum o fato de serem formas de abuso e, ao fazer o discurso pró-empatia permear as lutas contra essas formas de opressão, uma mesma lógica emocional e discursiva pode ser usada para lidar tanto com as pautas identitárias quanto com os problemas de desigualdade sócioeconômica – a integração entre essas diferentes lutas via valorização da empatia e rejeição explícita de comportamentos abusivos-psicopáticos é o caminho para evitar um Trump brasileiro. 

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