A Flip e a manchete da Folha online, por Matê da Luz

A Flip e a manchete da Folha online

por Matê da Luz

Uma chamada de pauta deu o que falar nas redes sociais: a Folha Online anuncia “Eleitos musos da Flip, Lázaro, Luaty e Gontijo revelam segredos de beleza”. Pronto, causou. 

Algumas pessoas postaram sem abrir a matéria, lançando críticas desbocadas sobre a relevância deste tipo de conteúdo. Outras, que podem ou não ter clicado no link, anunciavam em tom de comemoração que finalmente os homens estavam sentindo na pele o que as mulheres sentem há tanto tempo, essa coisa de ser colocado num espaço que entende o físico como mais relevante que o intelectual, especialmente num encontro literário que, até onde eu saiba, continua sendo o propósito da Flip. 

Curiosa que sou, abri a matéria. 

Achei graça, porque de fato a Folha aborda a temática do machismo que envolve as escritoras e produtoras de conteúdo que são noticiadas com seus atributos físicos/roupas/cores de batom e, ainda, apresenta a opinião da curadora do evento sobre a presença de mulheres de determinada faixa etária/estilo em contrapartida à profusão de homens variados, quer dizer, parece que ainda e em todos os espaços às mulheres é reservada uma faixa de durabilidade, como se fôssemos perecíveis mesmo que nossa capacidade de expressão seja o fator motivacional. No bom português: uma escritora velha ou feia ou gorda tem enorme dificuldade em ser chamada para estes tipos de eventos mesmo que produza uma obra considerável, equanto para os homens não existe essa restrição. 

A matéria poderia ser mais profunda, de verdade, pois ao meu paladar deixou um gosto de quero mais, sentindo falta de críticas mais duras, quem sabe, ou posicionamento que deixasse a denúncia mais às claras do que algo apenas com o tom de humor que senti. Mas pode ser que a vida por aqui esteja amarga demais e meu nível de exigência ande em descompasso e, em todo o caso, a pauta foi positiva, que seja pra gente pensar e compartilhar e promover e provocar a reflexão destes porquês que deixam indignados aqueles que achama tão normal uma mulher que escolhe a cor do batom pra festa ser noticiada na data do lançamento de seu livro mas que acha esquisito, pra dizer o mínimo, quando o shampoo do bonitão da foto é mais relevante do que o que ele produziu. 

O link para a matéria é este, mas só pode ver quem é assinante da publicação ou ainda não ultrapassou determinado número de acessos gratuitos por mês: http://m.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/07/1905586-para-subverter-sexismo-lazaro-luaty-e-gontijo-sao-eleitos-musos-da-flip.shtml 

Há alguns anos, as atrizes de Hollywood promoveram uma campanha maravilhosa, que dava conta de qustionar os jornalistas sobre perguntas referentes aos seus vestidos e maquiagem em detrimento às realizações profissionais, motivo principal elas estavam caminhando naquele tapete vermelho. A campanha vem sendo vivida sob a tag #AskHerMore – “pergunte mais a ela” e dá conta do recado de mudança de foco sobre o potencial feminino. 

Mulheres produzem, inclusive a vida, sabia não? 

(pois sim, ando exausta, esvairida, sugada de tanto tentar fazer a conta da positividade fechar e, ai, que neste mês de Julho ainda não aconteceu)

Mariana A. Nassif

9 Comentários

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  1. Bem, o contrário também é

    Bem, o contrário também é verdadeiro. Nossa querida amiga, Carol Rodrigues, jovem, bonita e inteligente – e bota inteligente nisso! – autora que, com seu primeiro trabalho, ‘Sem Vista para o Mar’, ganhou simplesmente os prêmios Jabuti e da Fundação Biblioteca Nacional (Prêmio Clarice Lispector), ambos em 2015, fica desde já taxada pelos atributos físicos e não pela obra primorosa.

    É mesmo difícil a vida das mulheres. 

     

        1. Acho que não

          Também não compreendi o mesmo que vc: (…) No bom português: uma escritora velha ou feia ou gorda tem enorme dificuldade em ser chamada para estes tipos de eventos mesmo que produza uma obra considerável, equanto para os homens não existe essa restrição.

          1. Concordo contigo.

            Pra azar de algumas escritoras, elas são bonitas e rotuladas de inteligentes e… bonitas. Poderiam ficar apenas no inteligente, qual a necessidade de frisar que a pesso á bonita. Precisa ser bonito para fazer sucesso? Às vezes parece que sim.

            Se elas não atendeseem ao padrão estético vigente, seriam lembradas apenas por serem talentosas e inteligentes? Fica a minha dúvida.

  2. Flip

    Pensei Nassif que você colocaria neste espaço o depoimento da senhora Diva Guimarães que foi a melhor coisa que aconteceu na FLIP deste ano

  3. Precisamos de ideias

    Vovô dizia aos netos e netas que beleza não põe mesa, mas parece que no meio literario [brasileiro?] é ao contrario. Mas, sem entrar a fundo na questão, ja dizia Vinicius “a mulher (e o homem, né, poeta), tem que ter algo a mais que a beleza”. Espera-se que a Flip também, traga algo mais que estrelas e uma certa estética do ideal fisico.

  4. Isso vale para os homens, também.

    Cansei de ver mulheres comentando. É inteligente, talentoso, mas é feio. E é a maioria das mulheres que conheço. Parece-me que estão sempre à caça do garanhão perfeito. Não que eu me incomode. Estou casao e bem casado, não preciso que me achem bonito, mas que dá um certo desconforto, dá. Culpa de ambos: homens e mulheres.

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