Cibertropas: manipulação da opinião pública pelas redes atinge 48 países

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Agências governamentais e partidos políticos estão explorando redes sociais para difundir notícias falsas e desinformação (Arquivo/Agência Brasil)

Da ABr

Relatório aponta manipulação em redes sociais em 48 países

Um relatório do Instituto de Internet da Universidade de Oxford, no Reino Unido, mapeou iniciativas do que chamou de “manipulação do debate público” em todo o mundo. Os autores identificaram entre 2010 e 2018 campanhas que visaram influenciar os cidadãos em polêmicas políticas e eleições em 48 países, às quais chamaram de “cibertropas”.

As nações estão localizadas em todos os continentes, como Américas, África, Europa, Ásia e Oceania. São listados casos mais notórios, como os Estados Unidos (na eleição de Trump em 2016) e o Reino Unido (com o referendo de saída da União Europeia em 2016). O Brasil foi citado como um dos locais onde as “cibertropas” atuaram, tendo como referência as eleições de 2010. Os pesquisadores mapearam partidos e entidades privadas atuando para influenciar a disputa.

Crescimento

O levantamento identificou um crescimento de mais de 70% nas iniciativas de manipulação do debate político. Na edição anterior do inventário, divulgada em 2017, haviam sido registrados 28 casos em diferentes países. Em cada um desses países há pelo menos um órgão público ou partido político envolvido nesse tipo de mobilização em redes sociais.

Os autores creditam o crescimento à atuação em processos eleitorais, no caso de legendas, e de reação à difusão das chamadas notícias falsas, no caso de agências estatais. O emprego de recursos para influenciar agendas políticas online por partidos foi localizado em 30 dos 48 países. Já a atuação de governos muitas vezes esteve relacionada ao medo de interferências externas nas discussões promovidas na internet. Essas iniciativas envolvem também órgãos criados para combater as notícias falsas.

“Ao redor do mundo, agências governamentais e partidos políticos estão explorando redes sociais para difundir notícias falsas e desinformação, exercer censura e controlar e minar a confiança na mídia, nas instituições públicas e na ciência. Em um tempo em que o consumo de notícias é crescentemente digital, inteligência artificial, coleta e análise de dados e algorítimos – caixas-pretas – estão sendo alavancados para desafiar a verdade e a confiança: os pilares da sociedade democrática”, sintetizam os autores.

Meios de difusão

Entre os recursos mais utilizados estão os robôs (bots), contas automatizadas empregadas para repercutir uma ideia ou perfil (que pode ser de um político, partido ou fonte de informação). Outra são as equipes de comentário, grupos contratados para ampliar as interações de um determinado indivíduo ou coletivo e, assim, fazer com que suas publicações alcancem mais pessoas e sejam objeto de mais interações.

Mas os autores descobriram o uso crescente de anúncios pagos nas plataformas digitais como recurso das iniciativas de manipulação. No Google, aparecem de foma destacada nos resultados das buscas. No Facebook, aparecem tanto como publicidade quanto como “postspatrocinados”, em caso de uma publicação paga para obter maior alcance.

No Brasil, as eleições deste ano serão as primeiras em que esse tipo de “conteúdo impulsionado” poderá ser utilizado como canal de campanha por candidatos e partidos. Recentemente o Facebook anunciou algumas medidas com o intuito de rebater críticas quanto à falta de transparência nesse tipo de mensagem.

Além dos anúncios, outro canal de divulgação que vem ganhando espaço são as redes sociais de mensagens, como Whatsapp, Telegram e o chinês WeChat. Segundo o levantamento, em 20% dos países onde foram identificadas iniciativas de manipulação esses são os principais espaços de difusão dessas campanhas, especialmente em nações do Hemisfério Sul.

Negócio

O estudo identificou os diversos instrumentos adotados em campanhas de manipulação (como coleta e análise de dados, construção de perfis comportamentais, difusão segmentada e personalizada de mensagens e plataformas de análise com inteligência artificial) como um grande negócio. Desde 2010, os partidos listados teriam gasto R$ 1,87 bilhão com a contratação de serviços como esses. A maioria dessas ferramentas, concluíram os autores, foram empregadas na difusão de notícias falsas em eleições.

 

Leia mais no GGN: Discussões em redes sociais não mudam tendências políticas do eleitorado, revela pesquisa

 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

3 Comentários

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  1. Nassif

    Tomo a liberdade de incluir aqui o link para o relatório original, que não está no texto da ABr

    https://www.oii.ox.ac.uk/news/releases/new-report-reveals-growing-threat-of-organised-social-media-manipulation-world-wide/

    A publicação desse relatório coincide e se complementa com a do relatório da Câmara dos Comuns do parlamento britânico sobre desinformação e notícias falsas. O relatório da comissão do parlamento britânico, que trata das campanhas de manipulação eleitoral através das redes sociais, apresenta revelações sobre uma campanha contra a ex-presidenta Cristina Kirchner, articulada pelo grupo político de Mauricio Macri. 

    https://actualidad.rt.com/actualidad/283307-presunta-campana-anti-kirchner-empresa-britanica

    https://publications.parliament.uk/pa/cm201719/cmselect/cmcumeds/363/363.pdf

  2. Internet não é brinquedo..

    A 10 anos atrás, ou mais um pouco, eu morava em SSA e tentava convencer os companheiros à época a formar um exército digital dentro do PT..

    .. os companheiros acharam engraçado e tal (exército na internet, imagine, coisa de desocupado), mas não.

    Ainda hoje o PT não tem um..

    Nossos parlamentarem não sabem usar a tecnologia.

    Por exemplo, mantém páginas nas redes sociais que servem apenas para reforçar o discurso inimigo..

    Gleise, Maria do Rosário, Lindberg e outros tais, são seguidos por exércitos inimigos, cercados, tudo o que dizem nas redes sociais é respondido negativamente dando a impressão de que a maioria do povo não concorda com eles..

    .. tudo calculado..

    .. a gente podia fazer tanta coisa na WEB..

    .. enfim..

  3. Mas qual é a diferença para

    Mas qual é a diferença para as tropas da mídia corporativa e estatal capitalista? Por exemplo, a campanha suja, que inclui a BBC, para deslegitimar o líder trabalhista Jeremy Corbyn e acusá-lo de “antissemita” ou “fantoche da Rússia”?

    A preocupação dos monopólios da mídia corporativa, QUE SEMPRE MANIPULOU A OPINIÃO PÚBLICA, é pela preservação do seu CONTROLE DA NARRATIVA:

    “Ao redor do mundo, agências governamentais e partidos políticos estão explorando redes sociais para difundir notícias falsas e desinformação, exercer censura e controlar e MINAR A CONFIANÇA NA MÍDIA, nas instituições públicas e na ciência. Em um tempo em que o consumo de notícias é crescentemente digital, inteligência artificial, coleta e análise de dados e algorítimos – caixas-pretas – estão sendo alavancados para desafiar a verdade e a confiança: os pilares da sociedade democrática”, sintetizam os autores.

     

     

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