O Whatsapp e seu potencial para a mineração de dados

Do Tecnoblog

O potencial do WhatsApp para o uso em mineração de dados
 
Thiago Mobilon
 
Mineração de dados é o processo de explorar grandes quantidades de dados à procura de padrões consistentes
 
Qualquer pessoa com conhecimentos básicos de matemática consegue perceber que o valor fechado na compra do WhatsApp pelo Facebook simplesmente não bate com o faturamento da empresa. 19 bilhões de dólares em uma empresa que tem apenas 50 funcionários. O aplicativo possui uma quantidade expressiva de usuários ativos – cerca de 450 milhões por mês – mas não possui um modelo de negócios muito rentável – uma assinatura de apenas um dólar por ano, contando a partir do segundo ano de uso.

“O WhatsApp está a caminho de conectar 1 bilhão de pessoas. Os serviços que alcançam essa marca são todos incrivelmente valiosos” – Mark Zuckerberg, CEO do Facebook.

A Target sabia que uma adolescente estava grávida antes mesmo dos pais dela

Charles Duhigg explicou no The New York Times como a Target – a segunda maior rede varejista dos Estados Unidos – estava utilizando o processo de mineração de dados para entender os hábitos de compra de seus clientes. Para isso, contrataram Andrew Pole, um mestre em economia e estatística, que assumiu o cargo de estatístico em 2002.

Em sua base de dados, a empresa mantinha algumas informações dos clientes, como nome, email e um histórico completo de tudo o que compravam em qualquer loja da rede:

Conforme o computador de Pole analisava os dados, ele foi capaz de identificar cerca de 25 produtos que, quando analisados ​​em conjunto, lhe permitiram atribuir a cada cliente uma pontuação de “previsão de gravidez”. Mais importante, ele também poderia estimar a data do parto para dentro de um pequeno intervalo de tempo, assim a Target poderia enviar cupons programados para estágios muito específicos de sua gravidez.

A Target então começou a enviar cupons de desconto de produtos relacionados a bebês para as futuras mamães, baseando-se nos padrões de compra identificados pelo software. Até que um dia, um pai entrou em uma das lojas da rede muito nervoso, solicitando falar com o gerente:

“Minha filha recebeu essa carta pelo correio!”, ele disse. “Ela ainda está no colegial, e vocês estão enviando seus cupons de desconto de roupas de bebê e berços? Vocês estão tentando incentivá-la a engravidar?”

O gerente não fazia idéia do que o homem estava falando. Ele olhou para a mala direta. Com certeza ela foi dirigida à filha do homem e continha propagandas de roupas de maternidade, mobília do berçário e fotos de crianças sorridentes. O gerente pediu desculpas e, em seguida, ligou alguns dias depois para se desculpar novamente.

No telefone, porém, o pai parecia um pouco envergonhado. “Eu tive uma conversa com a minha filha”, disse ele. “Acontece que ocorreram algumas atividades em minha casa das quais eu não estava completamente ciente. Ela deve ter o bebê em Agosto. Lhe devo um pedido de desculpas.”

O Facebook sabe quando você vai começar a namorar

Você não precisa de dados tão precisos como um histórico de compras para identificar padrões e prever acontecimentos. O próprio Facebook divulgou na semana passada que consegue saber quando uma pessoa está prestes a mudar o seu status de relacionamento, apenas cruzando dados sobre suas interações dentro da rede.

Não é preciso nem ler as mensagens que você troca via Inbox, basta identificar com quem você anda interagindo, se está postando na timeline dessa pessoa e com qual frequência. Daí surgiu um padrão: quando a troca de mensagens atinge um certo ritmo, significa que você está prestes a assumir um relacionamento público na rede social.

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Também é possível observar que, uma vez alterado o status, as interações entre timelines tendem a diminuir, porém a presença de palavras positivas como “feliz” e “amor” aumentam consideravelmente (o que também prova que as pessoas solteiras são mais negativas e reclamonas, mas isso é assunto para outro post):

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Aplicando mineração de dados no WhatsApp

De todos os serviços que utilizamos, é provável que o Facebook seja aquele que possui a maior quantidade de informações precisas sobre nós. Ele não tenta adivinhar qual o seu cantor ou filme favorito, ele simplesmente sabe. Você forneceu essas informações de boa vontade quando preencheu o seu perfil.

A Target conseguiu aumentar alguns bilhões de dólares no seu faturamento anual, apenas criando estratégias de venda com base nas informações extraídas da mineração de dados. Mas ela é uma empresa varejista, diferente do Facebook, que não comercializa nenhum produto.

A rede de Mark Zuckerberg fatura com a venda de anúncios e, mais importante, ganha com aperformance desses anúncios. Isso significa que, se ninguém clicar na publicidade que fica ali na barra lateral, quem sai perdendo é o Facebook. Por isso é muito importante que esses anúncios despertem interesse no usuário.

Outras empresas também estão de olho nessas preciosas fontes de dados. No ano passado, o Snapchat declinou uma oferta de compra de 3 bilhões de dólares vinda do Facebook. Um mês depois o Google teria oferecido 4 bilhões de dólares e também levou um “não”.

Semana passada foi a vez da Rakuten (uma empresa que funciona como uma espécie de shopping online, abrigando várias lojas dentro de um mesmo domínio) fazer uma oferta milionária pelo Viber, um app de VoIP e mensagens instantâneas. O negócio foi fechado por 900 milhões de dólares.

É o fim da privacidade?

O mesmo risco que você corre hoje ao utilizar serviços online, continuará correndo se a compra for concretizada. Não há nenhum motivo novo para se preocupar. Não é como se, agora que o app foi vendido, os funcionários do Facebook fossem vasculhar cada uma de suas mensagens pessoais individualmente; isso é até inviável! O objetivo desses sistemas é analisar blocos gigantescos de dados em busca de padrões comportamentais.

Além do mais, veja o caso da Target, que possui lojas físicas além do e-commerce. Ou seja, não foi preciso nem se conectar à internet. A prática de monitorar os “passos” do consumidor com o objetivo de exibir uma vitrine de ofertas mais relevante é muito comum também em sites de e-commerce e de vendas de passagens aéreas, só para citar mais exemplos.

Também não sabemos ao certo qual o nível de acesso que o Facebook vai ter a essas mensagens. E, levando em consideração o formato do aplicativo, é improvável que mensagens publicitárias comecem a pipocar em sua conta num futuro próximo.

De qualquer forma, para os mais paranoicos, vale ficar atento para o surgimento de anúncios de fraldas e roupas de bebê.

Redação

7 Comentários

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  1. Mineração? Pensei que tivesse a ver com a privataria

    Logo pensei que fosse algum trocadilho com a Vale, vendida por FHC por míseros 3 bilhões de reais, com navios, trens, jazidas de ouro,,ai deixa eu vê se condigo entender: Um simples aplicativo que minera dados alheios custa quase 40 bilhões de reais: Mais de 12 Vales do Rio Doce.,,,,..o que concluo que uma informação sobre o que penso, o que faço, o que gosto, é o verdadeiro ouro dos dias atuais…,,Se bem que a Vale poderia ter sido vendida por, pelo menos 70 bilhões de reais,  não é mesmo privatas,…e o que dizer da Embratel com seus satélites estratégicos para a defesa nacional, tudo entrou no bolo

    1. A diferença é que uma comprou

      A diferença é que uma comprou minério de ferro e outra comprou o monopólio mundial de mensagens de texto.

      O preço é este mesmo.

      Abraço

      1. Na verdade…

        O WhatsApp é líder em muitos países, incluído o Brasil, mas a “guerra dos messengers” está acirrada, temos 5 ou 6 grandes players mundiais. O Google já entrou na briga também mas está patinando, a Microsoft, quem diria, o MSN Messenger já foi lider absoluto, morreu para dar lugar ao Skype que já teve seu auge e está cada vez mais esquecido…

        Essa guerra é bem semelhante à “guerra dos navegadores”, difícil alguém alcançar alguma supremacia absoluta num futuro próximo.

        PS: Cheguei a ler que a transação foi de 3 bi em dinheiro vivo + ações e participações diversas no Facebook, portanto esses 19 bilhões “não são tão 19 bilhões assim” rs

  2. Assanhando Mineração de Dados e Garimpo de Minerais

    Desde que surgiu o conceito chamado em inglês de “data mining”, do qual dei alguns cursos e palestras, o pessoal estranhava (e estranha) meu uso de “garimpar dados”; “mas não é data mining?”…

    Lá nos primórdios dos “cérebros eletrônicos” da IBM, Univac e Burroughs, a palavra “assign” (para designar dispositivos periféricos à programas) era gritada pelos operadores:

    “Assanha a (unidade de) fita 383 aí pra syslog…”

    E percebia-se que ela fica toda “assanhada”!

    Quanto ao estado atual da invasão e espionagem pessoal de cada um na rede, teria tanto a falar que é “miocalá”…

    Não, não, brincadeira, miófalá, mas com mais calma, pois agora não vaidá…

     

  3. Mineração de dados?
    Que tal

    Mineração de dados?

    Que tal um acordo entre a Amazon e a CIA?

     

    Por que a colaboração da Amazon com a CIA é tão preocupante – e vunerável

    (imagine se os drones da Amazon fossem usados para outros fins)

    http://www.counterpunch.org/2014/02/20/why-amazons-collaboration-with-the-cia-is-so-ominous-and-vulnerable/

    FEBRUARY 20, 2014Blowback for the Retail Giant?

    Why Amazon’s Collaboration with the CIA is So Ominous — and Vulnerable

  4. nada é perfeito

    Nas minhas pesquisas incluo despistes. Procuro remédios, fraldas, caixas de defuntos, apartamentos em miami, azeite de oliva, roupa e etc. quando quero apenas um alfinete. É assim que todos devem se defender confundir.

  5. Eu me pergunto:

    Caso ocorra um golpe de estado e se implante uma ditadura, será que se utilizariam destas ferramentas para identificar opositores? Será que eu escapo? Será que sou paranóico?

    Rsrsrsrsrsrsrs (nervosos) …. Abs a todos!

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