Sobre a neutralidade da rede e o tráfego de vídeo

Por jluizberg

Comentário ao post “A vitória brasileira com o Marco Civil da Internet

A neutralidade sempre foi uma realidade na Internet, mas não era regulamentada. Como o tráfego de video era muito menor, e a tecnologia não permitia a disponibilização em massa de video on-demand, não havia motivo para quebrar a neutralidade. Algumas empresas faziam algumas restrições diferentes, por exemplo, bloqueando portas de SMTP para que você não subisse servidores de correio em casa e tivesse que contratar os serviços dela, mas esse bloqueios eram muito mau vistos no mercado, tanto que nunca eram citados nos contratos, e se você perguntasse no call-center, ninguém sabia de nada.
 
Nesse momento, o FCC americano está discutindo uma proposta da COMCAST para poder segregar o tráfego e cobrar pelo tráfego de vídeo, principalmente da Netflix e Youtube. A COMCAST é o maior provedor de acesso americano, por onde passa maior parte do tráfego deles. A proposta é cobrar para que tenham uma banda de transmissão maior que os outros. Só que não há como aumentar a banda seletivamente. O que pode ser feito é diminuir a dos outros, de forma que os serviços que pagarem funcionarão melhor.
 
Esse é o cerne do problema: você paga por uma velocidade, e o provedor vai reduzir a sua velocidade na maioria dos serviços, e entregar a banda original (aquela pela qual você paga) somente para os serviços que pagarem a ele. Ou seja, ele não estaria entregando para você o serviço contratado, e ainda estaria entrando de “sócio” nos serviços dos outros, sem gastar um centavo ou agregar nenhum valor a ele.

 
Imagine também a seguinte situação: o Netflix tem milhões de clientes, e pagaria uma fortuna para a COMCAST todos os meses. Ai eu crio um novo serviço de vídeo muito melhor e mais barato do que o Netflix, e entro no mercado. Tudo o que o Netflix precisa fazer é oferecer um pequeno “reajuste” para a COMCAST, para que ela reduza a velocidade do meu serviço até um nível que fique impossível de assistir a qualquer coisa. se eu não tiver dinheiro ou influência para bancar a entrada no mercado, meu serviço deixa de existir e o Netflix mantém sua liderança, mesmo com um produto pior e mais caro. A mesma lógica serve para todos os outros serviços. Isso significa matar a inovação e criar gigantes brancos que dominam financeiramente o mercado.
 
A tendência pela neutralidade da rede não existe somente no Brasil. Já foi aprovada na UE e isso deve se repetir em todos os países, e mesmo nos EUA, onde a proposta da COMCAST deve ser rejeitada. No futuro, é muito provável que seja criada uma regulamentação mundial para a Internet, e a neutralidade fará parte dela, com certeza.
Redação

3 Comentários

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  1. E a neutralidade na imprensa?
    No futuro, é muito provável que seja criada uma regulamentação mundial para a imprensa, e a neutralidade fará parte dela, com certeza. Não custa sonhar, né…. 

  2. John D. Rockfeller…

    … era isso que John D. Rockfeller da Standard Oil fazia com o transporte de petroleo nos EUA no início do século passado: “Se sou 80% do trafego da sua ferrovia, quero preço especial pra mim e vocẽ vai cobrar mais  do meu concorrente e me passar uma parte dessa diferença”.

  3. Nao se preocupe, Nassif

    O lobby das teles nao desistiu e vao dar um jeito de bypassar a neutralidade, do mesmo jeito que tentaram com o AI-5 digital do Azeredo re-editado sei lá quantas vezes antes que a Dilma (graças ao Snowden) emcampasse a idéia.

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