Incêndio em boate de Santa Maria ocorreu durante festa de cursos universitários e bloco de Carnaval
Zero Hora
Fogo começou por volta das 2h deste domingo na boate Kiss, no centro da cidade

Informações do Corpo de Bombeiros dão conta de que, pelo menos, cerca de 400 pessoas estariam na boate Kiss, no momento do incêndio que teria ocorrido por volta das 2h. A Polícia Civil estima que há, pelo menos, 90 mortos. Na boate acontecia a festa de quatro cursos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) — Agronomia, Medicina Veterinária, Pedagogia e Tecnologia dos Alimentos. Ainda no local, ocorreria a festa de um bloco de carnaval da cidade, o Nagandaya. Ainda conforme os bombeiros, parte da parede teria sido quebrada por pessoas para que pudessem auxiliar na saída e para ajudar a ventilar oxigênio.
O diretor do Centro de Ciências Rurais da UFSM, Thomé Lovato, já mobilizou as equipes da UFSM e tão logo se tenha a relação de mortos dos cursos da Ciências Rurais — Agronomia, Medicina Veterinária, Tecnologia dos Alimentos — os familiares serão avisados pela federal.
O incêndio da boate Kiss já teria sido controlado. A estrutura do prédio não correria risco de cair e nem prédios do entorno correriam risco de cair. Agora, o Corpo de Bombeiros trabalha para saber se haveria, de fato, uma saída nos fundos da boate.
Incêndio é a maior tragédia da
história do Rio Grande do Sul
O incêndio que atingiu a boate Kiss em Santa Maria deixando pelo menos 90 mortos na madrugada deste domingo é a maior tragédia da história do Rio Grande do Sul. O número de vítimas estimado pelas autoridades até o início da manhã de domingo é quase o dobro dos 51 mortos no acidente com um avião quadrimotor que viajava do Rio de Janeiro a Porto Alegre e chocou-se contra o Morro do Chapéu, em Sapucaia do Sul.
Mesmo em comparação com o acidente com o avião da TAM no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, em 2007, a tragédia de Santa Maria é maior. Pelo menos 89 dos 186 passageiros que perderam a vida no vôo 3054 haviam nascido no Estado ou tiveram suas vidas ligadas ao Rio Grande do Sul.
Outras tragédias que marcaram a história do Estado:
— 51 MORTOS
28 de julho de 1950
Um avião quadrimotor que viajava do Rio a Porto Alegre choca-se contra o Morro do Chapéu, em Sapucaia do Sul
— 40 MORTOS
7 de abril de 1957
Um avião pega fogo e cai na pista três minutos depois de decolar em Bagé
— 40 MORTOS
27 de janeiro de 1968
Dois trens se chocam na estação Fanfa, em Triunfo
— 28 MORTOS
28 de abril de 1976
Incêndio no prédio das lojas Renner no centro de Porto Alegre
— 18 MORTOS
16 de janeiro de 1990
Um ônibus com turistas argentinos sai da pista na freeway e cai entre duas pontes, em Gravataí. Vinte e três pessoas também ficaram feridas
— 17 MORTOS
21 de novembro de 1994
Ônibus levando funcionários da UFRGS colide de frente com outro ônibus na BR-116, em Barra do Ribeiro
— 17 MORTOS
22 de setembro 2004
Ônibus escolar cai na zona rural em um lago em Erechim
— 14 MORTOS
14 de maio de 2001
Uma carreta com toras de madeira invade a pista contrária na BR-290, em Arroio dos Ratos, e bate em ônibus que ia para Bagé
— 12 MORTOS
16 de agosto de 1988
Na BR-386, dois caminhões chocam-se a 20 quilômetros do centro de Carazinho.
— 12 MORTOS
21 de maio de 1990
Colisão entre um trem e um ônibus na Vila Indubrás, em Santo Ângelo.
— 12 MORTOS
20 de junho de 2000
Uma estufa elétrica provoca incêndio em creche de Uruguaiana. A vítimas são crianças de dois e três anos
Confira imagens do local onde ocorreu a tragédia
Segundo informações preliminares, o fogo teria começado na espuma de isolamento acústico, no teto. As chamas se espalharam rapidamente e todo o ambiente encoberto por uma fumaça preta. O integrante de uma das bandas que se apresentou nesta noite, teria acendido um fogo de artifício – uma espécie de sinalizador – que teria iniciado o incêndio.
O local possuiria apenas uma porta de saída e houve tumulto na tentativa de fuga. Bombeiros e populares abriram um buraco na parede externa para possibilitar que mais pessoas conseguissem sair.
Equipes do corpo de bombeiros, Base Aérea de Santa Maria, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Rodoviária Estadual, Brigada Militar, Batalhão de Operações Especiais e Samu contam, também, com o auxílio do serviço de ambulâncias de urgência e emergência de diversos hospitais e clínicas da cidade.
A Rua dos Andradas, entre a André Marques e Avenida Rio Branco, estão interditadas. Bombeiros ainda trabalham no local. Peritos do IGP, de Porto Alegre, farão perícia sobre as causa do incêndio.
Rosane de Oliveira, sobre incêndio em boate de Santa Maria: “Um pesadelo”
Zero Hora, Rosane de Oliveira
Quando fui acordada com o telefonema da colega Rosane Tremea, informando do incêndio na boate de Santa Maria, achei que estava tendo um pesadelo. O sinal ruim do celular me impedia de entender direito o que ela dizia. Entendi que eram 35 mortos e fiquei catatônica.
Quando refiz a ligação, e finalmente entendi a extensão da tragédia (no momento eram 135) e soube das circunstâncias, perdi as pernas e fiquei alguns segundos sem ação, repetindo, “meu Deus, meu Deus, que horror”. E lembrei do incêndio naquela boate de Buenos Aires em que morreram mais de uma centena de jovens.
Minha filha de 17 anos me deu abraço longo e confortador. Faltava o abraço de Eduardo, 21 anos, um baladeiro da idade das vitimas. Ele não quis vir para o sítio porque tinha uma festa. Precisava ouvir a voz dele antes de poder escrever qualquer coisa. Liguei para meu filho, ouvi que estava em casa dormindo, e fiquei a pensar em todos os pais e mães de jovens de Santa Maria e região.
Quem tem filhos adolescentes não dorme um sono tranquilo enquanto seus filhos não chegam das festas. E sofre com o drama de pais que perdem um da mesma idade, com os mesmos sonhos e projetos de vida semelhantes. Como era uma festa de universitários, sinto-me ainda mais próxima deste drama. Quando são 180, como em Santa Maria, faltam palavras. Não há o que dizer a título de consolo.
Meu marido, que é de Julio de Castilhos e estudou na UFSM, passou a monitorar as redes sociais em busca de informações sobre os filhos dos amigos e parentes. O silêncio de uma estudante jornalismo sempre presente no Twitter o deixou preocupado. E passou a repassar mentalmente a lista de amigos que têm filhos da idade dos nossos.
Ouvi a entrevista da diretora do Hospital Universitário, que está com o filho na CTI, e admirei seu profissionalismo. É preciso muita força para continuar ajudando os feridos.
Enquanto escrevo, são 180 corpos já recolhidos, e um número desconhecido de pessoas mortas nos hospitais. A contabilidade macabra passará de 200.
Nunca houve, em meus 30 anos de jornalismo, uma tragédia assim no Rio Grande do Sul. Que eu lembre, nem no Brasil. O mais parecido foram acidentes aéreos. O mais próximo, o da TAM, porque o avião saíra do Rio Grande do Sul.
Quem tem filhos adolescentes não dorme um sono tranquilo enquanto não chegam das festas

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