Paranoia

Acho que estou sendo seguido!
Nunca fui paranoico, apesar de minha posição meio descaralhada, meio gauche, nunca olhei por sobre os ombros esperando ver um sujeito de chapéu derrubado sobre os óculos escuros, conversando com a lapela de um casacão estereotipado! Nem quando o supervisor entrava em minha sala de aula (já fui professor, pasmem) pra ver seu eu estava ensinando direito. Aquele gringo filho da puta (era um curso de inglês, e o supervisor era americano) entrava em minha aula e acabava com o clima, os alunos percebiam que havia algo de estranho no ar, e não era a feijoada do meu almoço. E ele ficava lá, vendo como eu ensinava, e eu não me sentia perseguido
Nem mesmo na época em que tive meus primeiros trabalhos censurados, no frescor dos meu 15 anos, em plena ditadura, eu achava que havia alguém prestando atenção ao que eu fazia. Minha quase total apolitização, intencional, me garantia que minhas loucuras, por mais que incomodassem os estômagos sensíveis, e morais reticentes, eram por demais herméticas para que pudessem gerar algum tipo de represália por parte dos que controlavam o pensamento. Afinal, eu nem pensava, só intuía, e de intuição em intuição, eu gerava imagens que incomodavam, e eu sabia. Nem assim eu desconfiava que estava sendo seguido.

Mais tarde, fora da lei como me apraz, nem o mais neurótico dos meus camaradas da época, podia me convencer a parar de fumar maconha enquanto andava displicente pelas ruas. Eu achava, e tinha certeza, de que a melhor maneira de esconder alguma coisa, era deixá-la exposta, bem à vista. Nada está tão escondido quanto o que está em cima da mesa, para a apreciação de todos.
Quando já envolvido seriamente com uma dona, meus casos eram totalmente abertos e jamais fui pego com a boca na botija, ou coisa melhor. Tinha casos com as amigas mais próximas da minha companheira, até com sua irmã, e só fui descoberto quando eu quis e expus minhas travessuras, coisa de bundão, que eu era na época.
Mais tarde, menos bundão e mais politizado, me meti a bater de frente com um politiquete de merda em minha cidade natal, e nem depois de ter meu estabelecimento atingido por três disparos efetuados por ele, na calada da noite, eu suspeitei que estava sendo seguido.

Recentemente, entretanto, tenho tido a desconfortável impressão de que alguém me observa, não é um encasacado de óculos e chapéu derrubado que me espreita por cima dos ombros, ou na curva da esquina. Cada vez que posto nesse blog, seja o assunto que for, seja a hora ou o dia, poucos segundos depois, ao dar um F5 na pagina de controle de postagens, tem lá, duas visitas ao blog, duas visualizações de página! Tem um robot me seguindo!

Redação

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador