Coletânea reúne memórias sobre Dilma Rousseff

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jornal GGN – Será lançado em Porto Alegre e Curitiba um livro coletivo com memória e impressões sobre Dilma Rousseff. O livro, além de uma homenagem, busca uma reflexão sobre a contribuição política da presidente eleita e deposta pelo golpe. A única mulher eleita presidente foi alvo do esfacelamento da democracia brasileira, quando se esperava uma governança pacífica completando 16 anos de PT no poder. Algo inédito em duas frentes: uma mulher e um longo governar pelo Partido dos Trabalhadores.
 
Com a farsa do impeachment, Dilma se torna uma parte da história, por ser alvo da manipulação do sistema legal e por estar presente na opinião pública. Esta é uma narrativa que vai se decifrando aos poucos e que, agora, ganha corpo em livro, que poderá ajudar a entender todo o imbróglio. 

 
O livro “Dilma Rousseff – A senhora da democracia”, que agora chega ao público, é uma produção coletiva de dezenas de autores, em diversas partes do país e do exterior. Pessoas de diferentes classes sociais e profissionais discorrem sobre Dilma e sua participação tão complexa na recente história política brasileira. Tais autores registram, em suma, o repeito e a admiração pela presidente.
 
Em um período tão conturbado, tal reunião de autores e de tão diferentes perfis representa uma importante contribuição para o debate público. A tônica, além do apoio, é a declaração inconteste de que a destituição de Dilma foi resultado de um golpe parlamentar orquestrado pela direita, que interpretou de forma enviesada a Constituição e manipulou a opinião pública para que seus interesses fossem contemplados. 
 
Tal como as manifestações, o livro em si é uma demonstração de apreço pela democracia, pela legalidade e pela justiça. 
 
A obra faz parte de uma série de livros da Editora ComPactos abordando a política brasileira da última década. Da editora, Crônicas da Resistência 2016 – Narrativa de uma democracia ameaçada, A Luta Continua, Um Ano de Golpe e Lula, foram publicados na série. Para o segundo semestre, a editora lançará o livro Caravana da Esperança – Lula pelo Brasil, com uma compilação de trechos dos discursos, textos de lideranças, fotos e crônicas da jornada de Lula por diversos estados brasileiros.
 
“Nosso trabalho tem alcançado várias pessoas. Desde o cidadão informado e interessado de dialogar com as análises contidas no livro até figuras de grande envergadura intelectual. Todos nós, autores e autoras que nos dedicamos a construir essa mensagem, entendemos que é necessário todo o esforço de cidadão e de militância para recuperarmos a normalidade democrática do país”, diz a editora e organizadora Cleusa Slaviero.
 
 
Serviço :
 
Livro: Dilma Rousseff – A senhora da Democracia, R$ 35,00
 
Em Porto Alegre – RS Dia: 10 de agosto Horário: 18 horas Local: Diretório do Partidos dos Trabalhadores de Porto Alegre Endereço: Rua Lima e Silva, 140 – Centro Histórico – Bairro Cidade Baixa – Porto Alegre-RS
 
Em Curitiba – PR Dia: 11 de agosto Horário: 15 horas Local: Acampamento Marisa Leticia Endereço: Rua padre João Wislinki,278 – Bairro Santa Cândida.
 
 
Textos de prefácio e apresentação de Dilma Rousseff – A senhora da democracia 
 
Prefácio
 
Dilma do Brasil 
 
As trajetórias pessoal e política – dificilmente dissociáveis – de Dilma são muito expressivas do Brasil contemporâneo, daquele que ela e tantos de nós vivemos e continuamos a viver. 
 
Estudante que, como tantos outros, chegou à consciência política na virada da historia brasileira da democracia à ditadura, viveu os dilemas de como reagir sem espaço legal, e se integrou à luta clandestina contra a ditadura. Nessa trajetória, conheceu os autores clássicos da esquerda, ao mesmo tempo que se entregava à militância política. 
 
Como uma das vias possíveis naquela época, Dilma aderiu a organizações que optaram pela prioridade da luta armada. Passou a circular pelo país, conforme as tarefas se impunham. Numa dessas circunstâncias, foi presa. 
 
Caindo nas mãos da ditadura, foi vítima das mais cruéis torturas, diante das quais resistiu com a dignidade que é, ao longo de toda a sua vida, uma de suas características essenciais. 
 
Saindo da prisão, encontrou-se com um país em transição, dedicou-se ao estudo de economia na Unicamp, ao mesmo tempo que redefinia sua forma de inserção no Brasil daquele momento. 
 
Reintegrou-se politicamente, aos poucos foi se formando como um quadro competente nos temas de energia, até que assumiu cargos públicos nessa área. O espírito público é um dos outros componentes da trajetória da Dilma. 
 
De repente, foi chamada por Lula para ser sua ministra. Sua competência e seriedade a levaram, logo, a assumir o posto essencial na coordenação do governo de Lula, uma das responsáveis pelo sucesso espetacular do segundo mandato do PT.
 
Dilma foi assim se projetando para o coração mesmo da experiência política de governo mais importante que o Brasil já teve até aqui. 
 
Foi escolhida por Lula para sucedê-lo, venceu as eleições e se tornou a primeira mulher a presidir o Brasil. Aquela jovem e aguerrida militante que havia ingressado na militância política na resistência à ditadura, conquistou a possibilidade de se tornar presidenta do Brasil no mais importan¬te governo de esquerda que o país já teve.
 
Dilma viveu a experiência da presidência da República num momento difícil e complexo, mas garantiu a extensão e o aprofundamento da ca¬racterística maior desses governos: a prioridade das políticas sociais. 
 
Na reeleição, enfrentou duros embates, mas se saiu vencedora. Sofreu, a partir daí, a maior ofensiva contra um governo constituído, desde aquela contra Getúlio. 
 
Foi vítima de um golpe e tornou-se a referência mais importante, dentro e fora do Brasil, da luta democrática. 
 
Um livro sobre Dilma contribui para fazer justiça à sua trajetória, embora seja difícil que se possa, com palavras, recompor todo o significado dessa mulher, dirigente, amiga e companheira. 
 
Emir Sader
Sociólogo e Cientista Político
 
 
Apresentação
 
O que é o líder senão o condutor de um conjunto de aspirações. Estas surgem antes do líder, possibilitando inclusive sua ascensão, e não se esgotam com o fim de sua contribuição. Mais importante, seguem vivas pela liderança dos sucessores, pois a política como um projeto pessoal de poder, vimos tantas vezes, corrompe. É sempre necessário ter um objetivo maior pelo qual lutar, algo que você recebe, transforma, sofistica e entrega ao futuro. Por isso, uma das maiores inovações da democracia foi distribuir poder, evitando que o destino de um Estado fique subordinado às virtudes e aos vícios de um único governante. Em um Estado ideal, para retomar a referência inicial, o cidadão deveria estar mais atento às ideias que as pessoas. A escolha dele, por meio do voto, é uma representação ideológica. Serve para indicar ao governante quais são os desejos da nação, a forma como está compreendendo o país e qual o objetivo de desenvolvimento tomado para ele. 
 
Com a eleição de Dilma Rousseff, em 2010, pela primeira vez na nossa história democrática tivemos a renovação de um pacto social que começara a ser implantado oito anos antes. A ex-ministra de Lula não representava a si mesma no palanque, e, sim, ao conjunto de conquistas e ao modelo político que o Brasil havia consolidado nos oito anos anteriores. Dilma foi a perfeita antítese ao projeto personalista megalomaníaco de Fernando Collor e à empáfia academicista de FHC. A eleição dela inclusive representou um avanço do próprio Lula. O antecessor de Dilma reuniu a esquerda em torno de si para fortalecer o campo e vencer o pleito, porém, sempre demonstrou que o objetivo era criar uma corrente com capacidade de renovação e adaptação. Ao final de 2010, Lula estava feliz por deixar a presidência imaginando que esse processo estava encaminhado. 
 
Dilma é a representação de um espírito público. Toda sua vida foi dedicada à causa brasileira. Desde os anos de juventude, com a luta clandestina contra a ditadura militar, até a maturidade, servindo ao país nas esferas municipal, estadual e federal, sempre se destacando como gestora competente. A presidência era o próximo cargo à altura de sua carreira. Uma posição que ela nunca desejou como vaidade, mas da qual jamais declinaria por ter compromisso e responsabilidade. Essa talvez tenha sido a transição que mais tenha assustado as forças reacionárias, pois achavam que a esquerda brasileira era simplesmente Lula. Sem ele, o campo progressista iria minguando aos poucos, pensavam. A ascensão de Dilma, porém, mostrou que ainda havia muito trabalho a ser feito em prol de um Brasil melhor, e que havia novas formas de continuá-lo por caminhos tranquilos, democráticos e seguros. 
 
O enredo dos anos 2010 a 2016 é fartamente documentado. Dilma assume com o compromisso de aprofundar a política social e econômica do PT. Ao longo dos primeiros anos, demonstra uma profunda capacidade de se manter fiel aos princípios estabelecidos com a população: crescimento com distribuição de renda. O Brasil é cada vez mais um país de todos. 
 
Dilma costumava trabalhar em um ritmo acelerado, sem pausas para almoçar e marcando reuniões nas tardes de sexta-feira com seu gabinete. Com sua experiência de tecnocrata, governava apostando no rigor de um sistema de gestão para que o Estado funcionasse e estivesse em ordem. Exigente com ela mesma, Dilma age e raciocina em termos de objetivo e prioridades. 
 
Mas no segundo ato de seu governo, entre 2013 e 2016, Dilma enfrenta uma grave crise econômica. Foi o subterfúgio ideal para a direita derrubá-la. A forma como a reputação dela foi covardemente deturpada pelos opositores e pela imprensa ainda renderá muita reflexão acadêmica. As primeiras sínteses, no entanto, começam nos indicar a profundidade do erro que o Brasil cometeu ao interromper sua narrativa democrática a partir de um golpe parlamentar. 
 
O legado desta manobra, desta farsa, deste drama é uma legitimidade ainda menor das instituições e seus representantes, um debate político infantilizado, raivoso e violento e a inconsolável certeza de que o poder funciona à perfeição e sempre encontra o caminho, com espectadores passivos, engolindo o circo. 
 
A presidenta demonstrou maturidade, fibra e caráter para defender a si mesma e ao projeto da esquerda brasileira. O que fazemos neste livro é exaltar Dilma como capítulo importante de uma história coletiva. E, principalmente, agradecê-la por dedicar sua vida a essa causa tão importante que é o Brasil. 
 
 
Obrigado, presidenta!
 
Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

1 Comentário

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  1. A DILMA NÃO ERROU, SE ENGOLIU. É HONESTA.

    A DILMA durou mais que devia, foi honesta até o fim, sua amiga Kátia, valia mais que qualquer assessor e até ministro. Não se entregou a turma do PMDB, resistiu, porém o MORO quando espionou, deveria ter sido preso imediatamente. Ninguém sabe se gravou conversa de estado, nem se gravou o próprio STF. Se é crime gravar a presidenta, é cadeia, talvez a DILMA não errou, só galinhou, no popular, mas só ela, pode nos contar a pressão. Meu voto novamente é seu, guerreira das Minas Gerais e honesta.

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