Renan Moreira: Resenha do livro ‘A Cultura e seu Contrário’, de Teixeira Coelho

Resenha do livro ‘A Cultura e seu Contrário’, de Teixeira Coelho

por Renan Moreira

A CULTURA E SEU CONTRÁRIO: CULTURA, ARTE E POLÍTICA PÓS-2001

Coelho, Teixeira. A cultura e seu contrário: cultura, arte e política pós-2001. São Paulo: Iluminuras: Itaú Cultural, 2008.

No livro A cultura e seu contrário: cultura, arte e política pós-2001, Teixeira Coelho informa e instrui o leitor sobre os paradoxos e opostos da cultura, de certa forma, desconstruindo equívocos comuns para que o estudo da cultura, ou ainda, de uma política cultural, seja validada no campo da pesquisa e da prática. Em suas 153 páginas, essa obra é um estudo profundo sobre a cultura que traz, para o presente, referências pertinentes de grandes filósofos, sociólogos e estudiosos dos séculos passados, atualizando para o campo das ações culturais, ou ditas culturais, ou ainda, próprias da arte, as ideias pragmáticas e conceituais, tal como a cultura como a ampliação da esfera de presença do ser, que devem orientar uma política cultural ou para as artes, como ficará mais explícito nas páginas finais.

A Introdução, seguida por cinco capítulos, formam esse conjunto literário sobre a cultura e tudo aquilo que dela é parte negativa, desconstruindo a ideia presente no imaginário popular, e na grande maioria das investidas por parte do Estado, de uma cultura otimizadora da sociedade por seu falacioso grau de inerente transformação dos indivíduos, somente por existir, a cultura, oferecendo-se como uma alternativa à violência, por exemplo, ou ainda de instrução e formação de caráter. Coelho traz para o cerne da discussão, já no início da obra, a oposição ao conceito antropológico da cultura, onde cultura é tudo, ou o todo. Propõe também claramente a distinção do que é cultura e hábito. Assim, surpreende o leitor mais leigo sobre os estudos da cultura com uma crítica contundente à exacerbação dessa como algo amplo a ponto de ser tudo e nada ao mesmo tempo, e que só pode fazer o bem além de fazer bem, e diante dessa análise ataca veemente a domesticação da cultura, essa mesma ideia de cultura limitada à visão de sua positividade totalizadora, de um verniz social, que não dá brecha ao confronto com nenhum oposto. Um processo mais perverso, segundo o autor, que aquele que transforma a cultura em arma de combate ideológico.

Nem tudo é cultura e Uma cultura para o século (tudo fora de lugar, tudo bem), são os capítulos iniciais que já evidenciam essa premissa para que o estudo se aprofunde no campo operacional, retirando, do primeiro plano, o pensamento antropológico e apresentando a cultura como algo móvel, flutuante, livre, em um vasto processo aberto que promove fusões, dando ao conceito de dinâmica cultural seu correspondente mais apropriado: o movimento. Aqui, também, o autor vai iniciar um processo de análise sobre a cultura brasileira e sua personalidade não estável e sem referenciais nítidos, que, de certa forma, nos fazem crer em um desconforto ou em um lugar confortável, alternando-se o ponto de observação.

O autor avança em sua obra com os capítulos Por uma cultura em tudo leiga e Cultura e negatividade. Nessas páginas, a narrativa tece um estudo sobre a sociedade civil e a descentralização da cultura, provocando reflexões no campo da laicidade cultural, que retira do Estado, o conhecido papel centralizador e regulador da cultura. Também é aqui onde o autor apresenta o inerte cultural como uma expressão que deve ser entendida de modo consideravelmente literal. Assim, Coelho nos coloca à frente de cinco modos de representação da cultura diante da violência: a cultura como refúgio; como violência; a boa cultura; a ecologia cultural; e, por fim, a exceção da arte.

No quinto e último capítulo, Cultura é a regra; Arte, a exceção, o autor levanta um interessante quadro de proposições sobre as vertentes de análise da cultura e da arte, e suas concepções enquanto política e discurso. O quadro, que carrega um pragmatismo aplicável às ações culturais imaginadas ou vivenciadas pelo leitor, se torna um grande referencial nesta obra. Nas páginas finais, Coelho conduz o leitor por um descritivo sobre cada linha desse quadro, analisando, passo a passo, as diferenças conceituais e práticas da cultura e da arte.

O autor, Teixeira Coelho é escritor, museólogo, professor e um dos principais pesquisadores sobre a política cultural no Brasil, com dezenas de livros publicados como Dicionário do Brasileiro de BolsoModerno Pós ModernoNiemeyer em um Romance, entre outros.

 

Questões

As políticas públicas culturais mostram, em que grau, desconhecer a real função da preservação do patrimônio, enquanto elemento contrastante à cultura, e, ainda, os limites definidos à atuação do Estado e dos Conselhos de Políticas Patrimoniais?

O acúmulo patrimonial pela preservação, e, consequentemente, o investimento financeiro para tal, é sustentável do ponto de vista temporal? Até que ponto esse acúmulo vai garantir o contraste e não reduzi-lo a um conjunto exacerbado de obras geracionais coexistentes?

Se a arte não é uma necessidade, diferente da cultura, em que medida criar uma política cultural para as artes, a partir do desejo enquanto geratriz e do gosto enquanto fim? 

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Paper apresentado ao Curso de Especialização em Gestão e Políticas Culturais da Universidade de Girona, como exigência parcial para conclusão do curso.
Pouso Alegre-MG, setembro de 2017.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Redação

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