Na última vez que cruzei com Pedro Herz, dono da Livraria Cultura, foi em um elevador do Circulo Italiano. Indaguei-lhe rapidamente das ameaças representadas pela Amazon e suas vendas virtuais. Minimizou. Disse que não vendiam nem mil e-books por mês.
E Pedro foi um dos pioneiros da informatização das livrarias, catalogando eletronicamente seus livros, criando sites para vendas e até apostando no epub, um programa concorrente para e-books.
Dois anos depois, tem-se o seguinte quadro, intrigando o mercado:
- A Cultura armou uma expansão fenomenal, financiado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
- Quando o mercado reverteu, passou a enfrentar dificuldades. Os primeiros sinais foram a suspensão dos pagamentos para as editoras, que forneciam a ela livros consignados. Confiou em seu poder de mercado para obrigar as editoras a aceitar as condições impostas, acordos de pagamento a prazo que não estão sendo honrados.
- Deu início ao fechamento de lojas. Cada fechamento exige desembolsos no pagamento de direitos trabalhistas de trabalhadores dispensados, pendências fiscais e comerciais. Não constava que a Cultura tivesse caixa para esses movimentos.
- Ao mesmo tempo, surpreendentemente adquiriu as operações da francesa FNAC e do site Estante Virtual. De onde surgiram os recursos?
- No momento seguinte, passou a fechar todas as lojas da FNAC. Por que comprar para fechar?
- Em seguida, entra com pedido de recuperação judicial, congelando todos seus passivos, inclusive os trabalhistas.
Como explicar esses movimentos?
Um exercício de lógica levaria às seguintes hipótses.
- A Cultura e a FNAC entram em crise profunda.
- A FNAC decide sair do país. Trata-se de operação demorada, ruim para uma empresa de capital aberto, pelas pendências inevitáveis a qualquer fechamento de empresa. Teria que apurar o. montante das indenizações trabalhistas, pagar ou manter em aberto os questionamentos fiscais, pagar as multas de aluguéis, acertar pendências com fornecedores. É processo que levaria, no mínimo, um ano, prejudicando a precificação da empresa nas bolsas europeias.
- Monta-se, então, uma jogada simples. A FNAC faz um levantamento de seus passivos e acerta a venda de suas operações para a Livraria Cultura, incumbindo-a de conduzir o fechamento. Em vez da Cultura pagar, é a FNAC que paga a Cultura, tanto recursos para quitar o passivo quanto um plus pelo trabalho efetuado.
- Em vez de quitar os passivos da FNAC – que, agora, são seus -, a Cultura utiliza os recursos para adquirir a Estante Virtual e acertar pendências mais urgentes.
- Os trabalhadores despedidos da FNAC se somam aos despedidos da Cultura. Aí ela entra com pedido de recuperação judicial que congela todos os passivos.
O que os trabalhadores que não receberam seus direitos deverão fazer:
- Solicitar, via judicial, acesso ao contrato firmado entra FNAC e Cultura.
- No caso dos trabalhadores das lojas FNAC, pode-se invocar a responsabilidade solidária da empresa.
- No caso das demissoes da Cultura, bastará levantar as compras efetuadas pelo grupo, especialmente do site Estante Virtual, par caracterizar desvios de recursos.
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Esses são os geniais capitalistas do nosso Brasil
Não, é só isso mesmo. Só o título, aí em cima.
Esse negócio envolvendo a
Esse negócio envolvendo a “cultura” reflete bem o tempo temerista/bolsonarista que vivemos.
Tao the King
Está lá há milhares de anos, quanto mais sofisticadas forem as artimanhas para dificultar os negócios, mais sofisticados ainda serão os subterfúgios para burlá-los.
Não deu outra, com a atual legislação comercial-fiscal-tributária-trabalhista, só consegue lucrar os golpistas que se valem das falhas ou obscuridades, resumindo: Negócio honesto no Brasil não existe mais.
Vamos para a reforma necessária pelo pior caminho possível, depois de destruir tudo de bom e honesto que foi construído em 500 anos de sacrifícios.
A intelligentsia brasileira não escapa desta conta, infelizmente.
Aproveitando
“Não deu outra, com a atual legislação comercial-fiscal-tributária-trabalhista, só consegue lucrar os golpistas que se valem das falhas ou obscuridades, resumindo: Negócio honesto no Brasil não existe mais.”
Como não bastasse, colega meu herdou imóvel de mãe falecida em interior. Onde estão escritura e registro? Não é de hoje que se protela ambos ante os custos notariais. A bomba explodiu. Sorte ter os trocentos recibos de aluguéis e impostos pagos a prefeitura. Adiantaram de porra alguma. Uma vez que o cartório não reconhece os documentos como garantia de propriedade ( que estão em nome da mãe) está correndo o risco do imóvel ser invadido (pq não?). E pague advogado para convencer um juiz, sabe-se lá como, a fazer com que o cartório emita escritura e registro.
Agora, ouviu-se um A nesses debates todos alguma palavra sobre os problemas apresentados?
fee
neste link a info q a fnac pagou 130 milhoes a cultura paea ficar com suas lojas no Brasil
https://tecnoblog.net/264964/livraria-cultura-pede-recuperacao-judicial/amp/
grupos abril, la selva, cultura, fnac e livrarias de rede fecham
mais do que abrem farmácias. Um país doente e com medo. Não seriam alguns deles também causadores disso?