Ranking de transparência deixa empresas brasileiras em penúltimo lugar entre Brics

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
[email protected]

Enviado por Assis Ribeiro

Da BBC Brasil

Entre Brics, empresas brasileiras só ficam à frente de chinesas em ranking de transparência

Mumbai, na Índia; país foi o mais bem colocado entre Brics em índice de transparência corporativa

O Brasil obteve o segundo pior desempenho entre os países dos Brics (grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) em um ranking de transparência corporativa elaborado pela ONG Transparência Internacional e divulgado nesta quinta-feira.

A pesquisa “Transparência na Relação Corporativa: Avaliando Multinacionais de Mercados Emergentes” analisou 100 grandes empresas de 16 países emergentes, sendo que 75% delas estão localizadas nos Brics.

 

A ONG avaliou o nível de transparência das empresas com base em três critérios: a adoção de programas anticorrupção (de combate ao pagamento de propinas até proteção a delatores), transparência organizacional e informações divulgadas ao país onde estão baseadas (de lucros a pagamentos de impostos).

O relatório calculou uma média da pontuação das empresas por país, mas fez esse cálculo apenas para os países dos Brics. Companhias indianas atingiram a melhor pontuação geral (5,4) em uma escala de 0 a 10, em que zero indica menos transparência. Em seguida vêm a África do Sul (5,1), a Rússia (4,3), o Brasil (3,4) e, por último, a China (2).

Proibição explícita

O Brasil, que teve 13 empresas avaliadas, também veio em penúltimo lugar nos rankings elaborados para cada um dos três quesitos avaliados no levantamento.

No questionário utilizado pela ONG para avaliar o acesso das informações financeiras das empresas às autoridades dos países onde estão baseadas, metade das companhias brasileiras teve nota zero, ou seja, não pontuou. No geral, o país atingiu a marca dos 30% (em que 100% significa transparência organizacional ideal).

As indianas obtiveram maior pontuação neste quesito devido a uma lei do país que determina que companhias devem liberar informações financeiras consideradas essenciais às suas subsidiárias.

Alejandro Salas, diretor regional das Américas da Transparência Internacional, diz que a má pontuação não significa que as empresas avaliadas sejam corruptas, mas que não dão importância suficiente a práticas de combate à corrupção e deixam brechas abertas para más condutas.

Um exemplo, diz Salas, é que as empresas brasileiras avaliadas na pesquisa “não proíbem explicitamente o pagamento de favores. Isso não quer dizer que os paguem, mas é preciso deixar claro que, como líderes globais, essas empresas se importam com a prevenção da corrupção”.

Ele também recomenda mais divulgação das práticas corporativas e maior treinamento dos funcionários para evitar e denunciar atos de corrupção nas empresas do Brasil.

‘Responsabilidade’

O relatório da ONG argumenta que apenas um quarto das 100 empresas avaliadas em países emergentes cumpriu ao menos 50% dos critérios estabelecidos — algo considerado “preocupante” pela Transparência Internacional ante a grande “influência (dessas corporações) em mercados ao redor do mundo”.

“Isso reflete a falta de reconhecimento da importância da transparência como um elemento da boa governança, incluindo um controle dos riscos de (se envolver) em corrupção”, argumenta o texto. “Essas empresas de países emergentes também deixam a desejar em aceitação da responsabilidade que recai sobre multinacionais em satisfazer as exigências de transparência feitas por seus acionistas.”

O levantamento também conclui que companhias abertas (de ações negociadas em bolsas de valores) tendem a ser mais transparentes do que as empresas privadas ou estatais, mostrando que “as exigências para a abertura de capital têm um efeito positivo no nível de transparência das empresas”.

Brics

O relatório tem um capítulo dedicado aos países Brics, citando sua “importância entre os mercados emergentes e seus esforços em formalizar e expandir sua influência”.

Um dos argumentos do levantamento é de que “as empresas dos Brics devem aproveitar a oportunidade para competir com empresas de economias desenvolvidas não apenas em seus produtos e serviços, mas em todos os aspectos de seus negócios, incluindo práticas anticorrupção”.

Entre as recomendações da Transparência Internacional estão ampliar as práticas de combate à corrupção, protegendo-se do risco envolver-se em propinas e esquemas ilegais, tornar essas práticas disponíveis para o público e publicar relatórios de suas subsidiárias, joint ventures e outras empresas associadas, “relevantes para entender e avaliar a estrutura fiscal da empresa e sua conformidade com (ações) anticorrupção”.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

2 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Tenho uma grande curiosidade

    Tenho uma grande curiosidade ao ler esse tipo de matéria, seguinte:

    -O que o povo desses países – India, Rússia, China e áfrica do Sul – diriam se viessem ver, in loquo, como vivemos nós, os brasileiros, fizessem comparações e, por fim, dessem uma nota pra cada um dos Brics. 

    Pelo que sei, e que acompanho, duvido que algum brasileiro aceitaria viver na China, na África do Sul, Rúsia ou Índia. Até creio que a África do Sul cairia bem, mas o resto, com certeza, tem uma realidade muito pior que a nossa. Rússia e China são ainda piores porque não se assume como um país regido por um determinado sistema político. Essa confusão só atrai mais problemas de convivências sociais, com divisões brutais de classes; sem contar na falta de liberdade de expressão, que se por aqui ainda tá fraquinha, calcule nesses alhures. 

    Esses dados técnicos-econômicos que tem por objeto apresentar desenvolvimentos dos países, a meu juízo, representam pouco. Servem apenas para os técnicos, e mais pra ninguém.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador