2015, Anno Domini

O ano de 708 A.U.C. (calendário romano* ou 45 aC no nosso calendário) foi maravilhoso para Júlio César. Foi neste ano que entrou em vigor o novo calendário que ele havia criado no ano ano anterior. Em Munda, César derrotou o último bastião de resistência ao seu poder. Em 45 aC (ou 708 A.U.C. ) ele foi eleito Consul pela terceira vez, retornou a Roma e oficializou seu testamento. No ano seguinte ele pretendia se tornar Ditador Vitalício e governar Roma por um longo período e não imaginava que seria esfaqueado no Senado nos idos de março de 44 aC um mês depois de conseguir o cargo que desejava.

César é o único ditador que saiu da vida para entrar no rol da fama. De fato mesmo sendo pagão, ele continua sendo quase tão famoso quanto Jesus Cristo. Seus livros são publicados, lidos e comentados. O verbete de César na Wikipédia https://pt.wikipedia.org/wiki/J%C3%BAlio_C%C3%A9sar contém informações históricas mais precisas que o de Cristo https://pt.wikipedia.org/wiki/Jesus.  De fato, não sabemos quase nada sobre a última ceia de final de ano de Jesus com os apóstolos. Ela ocorreu em 29 dC, 30 dC, 31 dC ou 32 dC?

Sem fazer muito esforço, posso perfeitamente imaginar a cena da última ceia de final de ano de Cristo. Pouco antes da meia noite de seu último ano de vida (qualquer que tenha sido ele), Jesus corta o modesto pão que ganhou de um admirador e o distribui aos apóstolos. Sentado não muito distante, Judas reclama da falta de dinheiro para o vinho. Jesus escuta o comentário e diz:

“Em verdade vos digo, bem aventurados os que prezam mais a amizade do que o dinheiro, pois estes não precisarão cometer suicídio por terem vendido seus amigos.”

A passagem do tempo e o seu registro metódico era mais importante para os romanos do que para os bárbaros europeus. Após a queda do Império Romano, a expansão do cristianismo entre os vitoriosos conseguiu realizar a façanha de produzir uma verdadeira regressão cultura. O tempo histórico voltou a ser mitológico. Em razão disto, a história da baixa Idade Média foi precariamente registrada e não por acaso o período que vai da queda de Roma até o século IX foi chamado de Idade das Trevas.

O fim do ano 999 dC, contudo, é razoavelmente bem conhecido. De fato, a esmagadora maioria dos cristãos parece ter acreditado que aquele seria o último ano de existência do mundo. Os fatos ocorridos na década de 990 (erupção do Monte Vesúvio, grande incêndio em Roma e a deflagração da praga e da fome), reforçaram as expectativas apocalípticas. As previsões catastróficas provocaram histeria semelhante àquela que foi instigada por Jim Jones em seus seguidores levando-os a cometer suicídio em massa antes do fim de 1978. Mil anos depois do fracasso das previsões milenaristas, o Ocidente Cristão estaria mais preocupado com o Bug do Milênio do que com o fim do mundo http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2012/12/profecias-do-fim-do-mundo-ja-falharam-no-passado.html.

Em 2014, apenas por troça, fiz previsões para 2015 https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/previsoes-para-2015-por-fabio-de-oliveira-ribeiro. Reproduzo abaixo as que se realizaram:

“A imprensa brasileira seguirá sendo pró-norte-americana, anti-brasileira e mediocre.

A economia crescerá menos que a obsessão jornalística pelo crescimento econômico.

Na Europa o racismo voltará a ser moda, se é que ele saiu realmente de moda entre os europeus.

Israelenses e palestinos continuarão se matando, inclusive quando discutem uma paz improvável.

O GGN será mais e mais atacado pelas grandes empresas de comunicação.”

Quando os acontecimentos são conhecido é perfeitamente possível fazer previsões sobre o seu curso, especialmente se estas forem suficientemente genéricas. Uma previsão que ninguém poderia fazer em 2014 seria o crescimento das tentativas de golpe de estado no Brasil em 2015. Também não era previsível a derrocada total da liderança de Michel Temer. A cartinha apocalíptica que ele divulgou na imprensa se revelou um fiasco maior do que as previsões de fim de mundo feitas em 999 dC.

A possível lição de Jesus em sua última ceia de final de ano – “Em verdade vos digo, bem aventurados os que prezam mais a amizade do que o dinheiro, pois estes não precisarão cometer suicídio por terem vendido seus amigos.”  – certamente não foi imaginada pelo ambicioso vice-presidente da República durante o ano 2015. Temer tentou vender para o mercado Dilma Russeff, a democracia e a soberania popular dos brasileiros. Mas só conseguiu cometer um suicídio político digno de Jim Jones. Ironicamente ele fez uma citação digna de Júlio César naquela que já pode ser considerada sua carta testamento.

2015 acabou bem. Mas o curso dos novos acontecimentos é incerto. Certo, contudo é o carnaval de 2016. O calendário das empresas de comunicação se renova e o golpe de estado vai ter que subir no telhado enquanto os barões da mídia se preparam para faturar com os anúncios carnavalescos e com a cobertura da maior festa popular do planeta. Não seria o caso do PT se prevenir, politizando mais o carnaval do ano que vem com o intuito abortar o golpismo após o mesmo?

 

 

*Calendário romano https://es.wikipedia.org/wiki/Anexo:Cronolog%C3%ADa_de_la_Rep%C3%BAblica_Romana

 
Fábio de Oliveira Ribeiro

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador