400 famílias de baixa renda perdem suas casas em ação da Prefeitura de São Paulo

A ocupação Jardim Monte Verde, localizada no extremo da zona sul da cidade nas entranhas do bairro do Grajaú, se encontra em uma encruzilhada nos últimos dias

do Disparada

400 famílias de baixa renda perdem suas casas em ação da Prefeitura de São Paulo

por Bruno de los Santos

Sem resposta do prefeito Bruno Covas e do Judiciário, 400 famílias de baixa renda têm suas casas destruídas nesta quarta-feira (02) na zona sul de São Paulo.

André, 7 anos, dividia sua atenção na tarde dessa segunda-feira (30) entre o que restava de um armário, uma torneira improvisada e um vaso sanitário. A criança pulava no que já foram as paredes de sua casa e que teve que ser desmontada às pressas quando uma ordem judicial anunciou que André e mais 400 famílias seriam retiradas de suas casas nesta quarta-feira (2).“Parece que vou ter que sair daqui.” comentou com a reportagem André, que dividia a casa com mais seis irmãs e um irmão.

Sem resposta do prefeito Bruno Covas e do Judiciário, 400 famílias de baixa renda têm suas casas destruídas nesta quarta-feira (02) na zona sul de São Paulo

A ocupação Jardim Monte Verde, localizada no extremo da zona sul da cidade nas entranhas do bairro do Grajaú, se encontra em uma encruzilhada nos últimos dias. O lar por anos para mais de 400 famílias em forte estado de vulnerabilidade foi desmontado pelos tratores da Prefeitura de São Paulo de Bruno Covas (PSDB). As paredes de maderite e telhados de suas casas perderam a corrida contra o tempo da burocracia.

Famílias formadas em geral por mães solteiras com diversos filhos, jovens desempregados e idosos com ínfimas pensões do estado (o tal BPC que por muito pouco também não acabou morrendo junto com a Reforma da Previdência aprovada pelo Congresso no dia de ontem) que receberam nessa segunda-feira a notícia que os únicos bens que possuem, as casas improvisadas, seriam removidas até esta quarta-feira pela manhã do terreno que ocupam há mais de 13 anos abaixo das torres de transmissão da CTEEP (Cia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista).

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“Onde estão os politicos? Onde tá o Ministério Público? Se não podemos ficar aqui por que deixaram se propagar por tantos anos? Eu não moro aqui por que quero. Garanto que se pudesse sairia daqui para dar do bom e do melhor para meus filhos, mas hoje isso é o bom e o melhor que eles têm.” Afirma Vanessa Pereira, moradora da ocupação há 8 anos.

Todas essas famílias estabeleceram moradia abaixo das linhas de transmissão da Companhia que agora alega requerer a reintegração de posse devido ao risco à saúde e segurança dos moradores. Fato esse que ninguém questiona. Para Lúcio Maciel, líder comunitário da região, todos os moradores aceitam que o local não é adequado como moradia devido tanto aos riscos em longo prazo da exposição à radiação, bem como os perigos de explosões e curto-circuitos na região. Porém, o que não aceitam é serem despejados pelo estado sem nenhum plano B e em um espaço de tempo tão curto.

Lúcio estava acompanhado do Professor Marcelo Nascimento, atuante na região, e que pedia que houvesse “o mínimo de sensibilidade jurídica para que ao menos as crianças da ocupação não percam o ano letivo.” Não foi o que ocorreu quando chegaram os tratores da PMSP e a Tropa de Choque.

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“Tudo que pedimos é que prorroguem esse prazo por 80 dias para que as crianças possam terminar as aulas na escola e que tenhamos tempo de encontrar um novo lugar para morar. Depois o governo vem e tenta tirar nossas crianças por que não vão para a escola, mas ninguém se pergunta por que elas não vão. Só pedimos 80 dias.” Comenta Márcia Silva, moradora da ocupação há 11 anos, onde vive com 8 filhos e que chegou a desmontar sua casa por medo de perder tudo quando a prefeitura chegasse com a polícia militar nesta quarta-feira.
Márcia reflete a realidade de boa parte daquela população, isolada de quase todo o resto da cidade, vivendo de bicos e morando em situação desumana no meio da maior metropole da América Latina.

As jornadas de transporte público para quem trabalha próximo ao centro expandido chegam a durar mais de 3 horas, escolas são poucas e concorridas e água e luz encanada são privilégios conquistador à muito custo.

Na última segunda-feira (30), o cenário era de incertezas e correria, com moradores desmontando os telhados, portas, janelas e empacotando os poucos bens que possuíam caso a reintegração se confirme.

Em uma das casas, um grupo de amigos se organizava para guardar em caixas pratos, roupas e panelas de Mônica, moradora do local há 11 anos e que cuida da irmã, Marlene, que possui uma doença degenerative e é tetraplégica. Em meio a caixas e sacolas, Marlene ainda encontrava tempo para tentar encontrar recursos para compra de uma cadeira de rodas para sua irmã.

Ao lado de um ferro velho que existe no local está localizado o brechó de Dona Lourdes. Com três netos para criar desde que sua filha faleceu, ela estava liquidando todos os produtos do local por R$2,00 cada e parecia meio descrédula do que acontecia.
“Quando me falaram que teríamos que sair no domingo a noite eu achei que era brincadeira e acordo hoje e encontro todo mundo desmontando as casas no desespero. Tenho meus netos para sustentar e agora vou perder meu ganha pão, estou tentando vender tudo enquanto ainda dá”. Afirmou.

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Moradores que preferiram não se identificar disseram que o único tipo de assistência que receberam até o momento foi de funcionários do CRAS oferencendo uma cesta básica e duas opções para a questão da moradia, albergues ou uma passagem de ônibus só de ida para suas cidades de origem. Apesar de legal, a oferta de “devolução” para outras cidades dos moradores do local relembra algumas das políticas mais higienistas da história humana e se aproxima em muito do pregado pelos governos populistas europeus ao lidar com a atual crise migratória.

A situação dramática de despejo sempre rondou as famílias do local, que sabem da irregularidade do terreno e perigos envolvidos. Mas foi na última semana, quando o juíz responsável pelo processo optou por não se pronunciar e enviou o caso ao desembargador responsável, que por sua vez também remeteu o caso, dessa vez à maior instância do judiciário brasileiro, o STF deixando as famílias em uma zona cinzenta, onde não há uma decisão final sobre o assunto mas o despejo seria iminente.

Com o despejo nesta manhã, os moradores da região ainda não sabem para onde ir e estão enfrentando dificuldades até mesmo para se alimentar. Foi criado um grupo de apoio aos moradores do Jardim Monte Alegre no WhatsApp para os interessados em participar como voluntários ou com doações. Para ajudar, basta entrar no grupo e falar como pode ajudar através do link: https://chat.whatsapp.com/HAAyXb5zRYfLQveHC4G1kz. As doações podem ser feitas em Av. Brigadeiro Luis Antonio, 3938.

Redação

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