A autocrítica tardia do Real por André Lara Resende, por Luis Nassif

Na sua autocrítica, faltou apenas incluir a questão das oportunidades de enriquecimento fácil dos seus formuladores como fator indutor das políticas monetária e cambial

De André Lara Rezende, no artigo “André Lara Resende escreve sobre a crise da macroeconomia

“Uma vez feita a transição da URV para o Real, teria sido necessário manter uma âncora coordenadora das expectativas. Retrospectivamente, o correto teria sido adotar um regime de metas inflacionárias, para balizar as expectativas, que só veio a ser adotado no segundo governo FHC. A opção à época foi por dispensar um mecanismo coordenador das expectativas e confiar nas políticas monetária e fiscal contracionistas. Optou-se por combinar uma política de altíssimas taxas de juros com a austeridade fiscal. O resultado foram mais de duas décadas de crescimento desprezível, colapso dos investimentos públicos, uma infraestrutura subdimensionada e anacrônica, Estados e municípios estrangulados, incapazes de prover os serviços básicos de segurança, saneamento, saúde e educação”.

A autocrítica vem em cima de um questionamento das teorias tradicionais, que justificaram vinte anos do que a mídia chamava de “tripé virtuoso”, de FHC.

No artigo em questão, Lara Resende questiona o mainstream com os seguintes argumentos:

Rebate a ideia de que os juros são elevados porque a dívida pública é alta

A moeda é essencialmente uma unidade de referência para a contabilização de ativos e passivos. Sua expansão ou contração é consequência, e não causa, do nível da atividade econômica.

Moeda e impostos são indissociáveis. A moeda é um título de dívida do Estado que serve para cancelar dívidas tributárias. Como todos os agentes na economia têm ativos e passivos com o Estado, a moeda se transforma na unidade de contabilização de todos os demais ativos e passivos na economia. A aceitação da moeda decorre do fato de que ela pode ser usada para quitar impostos.

Não há restrições financeiras para o aumento da dívida pública

O Estado nacional que controla a sua moeda não tem necessidade de levantar fundos para se financiar, pois ao efetuar pagamentos, automática e obrigatoriamente, cria moeda, assim como ao receber pagamentos, também de maneira automática e obrigatória, destrói moeda.

A única razão macroeconômica para o governo cobrar impostos é reduzir a despesa do setor privado e abrir espaço para os seus gastos, sem pressionar a capacidade de oferta da economia.

Juros são a única forma de controlar a demanda agregada

Banco Central fixa a taxa de juros básica da economia, que determina o custo da dívida pública. Desde os anos 1990, sabe-se que os bancos centrais não controlam a quantidade de moeda, nenhum dos chamados “agregados monetários”, mas sim a taxa de juros. O principal instrumento de que dispõe o Banco Central para o controle da demanda agregada é a taxa básica de juros.

Endividamento público é fator de bem estar

Se a taxa de juros, controlada pelo Banco Central, for fixada sempre abaixo da taxa de crescimento, a dívida pública irá decrescer, sem custo fiscal, a partir do momento em que o déficit primário for eliminado.

(…) Será possível aumentar o bem-estar de todos em relação ao equilíbrio competitivo através do endividamento público. Em termos técnicos, diz-se que o equilíbrio competitivo não é eficiente no sentido de Pareto.

Sobre a inflação e a moeda

(…)  Os mais atualizados sabem ainda que, desde que não haja pressão sobre a capacidade de oferta, é possível criar qualquer quantidade de moeda remunerada sem provocar inflação. Trata-se de um poder tão extraordinário, que convém a todos, para evitar pressões políticas espúrias, continuar a sustentar a ficção de que o banco central deve controlar, e que efetivamente controla, a quantidade de moeda.

O equívoco de venda de ativos e aumento de impostos para reverter o déficit público

Desde o início dos anos 1990, a taxa real de juros foi sempre muito superior à taxa de crescimento da economia. Só entre 2007 e 2014 a taxa real de juros ficou apenas ligeiramente acima da taxa de crescimento. (…) Hoje, com a renda per capita ainda 5% abaixo do nível de 2014, com o desemprego acima de 12% e grande capacidade ociosa, a taxa real de juros ainda é mais do dobro da taxa de crescimento. Como não poderia deixar de ser, a relação dívida/PIB tem crescido e se aproxima de níveis considerados insustentáveis pelo consenso macro-financeiro

O velho consenso exige o corte a despesas, a venda de ativos estatais, a reforma da Previdência e o aumento dos impostos, para reverter o déficit público e estabilizar a relação dívida/PIB. É o roteiro do governo Bolsonaro sob a liderança do ministro Paulo Guedes. A partir de um novo paradigma, compreende-se que o equívoco vem de longe.

Minhas críticas ao plano Real

A partir do segundo semestre de 1994, estendendo-me durante todo o primeiro governo FHC, alertei para os estragos  permanentes que juros e câmbio trariam para a economia. Em maio de 1995, em artigo na Folha, André tentava rebater meus argumentos sob a alegação de que eram de analises empíricas, coisa de palpiteiro.

Recentemente, reconheceu que os economistas desprezaram as evidências empíricas e quebraram a cara. Na sua autocrítica, faltou apenas incluir a questão das oportunidades de enriquecimento fácil dos seus formuladores como fator indutor das políticas monetária e cambial – como explico em meu livro “Os cabeças de planilha”.

Sua autocrítica chega algumas centenas  de milhões de dólares a mais em seu patrimônio, fruto dos “erros de avaliação” cometidos.

Aqui, alguns trechos de artigos meus publicamos na época, e a íntegra do capítulo “Os juros do Real”, que consta do livro “O jornalismo dos anos 90”.

31/11/1994 – As sequelas do câmbio

Tenta-se copiar os processos de estabilização da Argentina e do México, julgando que, emulando as seqüelas, haverá eficácia no tratamento. A sobrevalorização das moedas de ambos os países constituem-se, hoje em dia, no calcanhar de Aquiles de seus programas.

Argentina e México produziram monumentais déficits comerciais, devido à valorização excessiva de sua moeda. Nos primeiros anos, esse déficit foi coberto pela venda de estatais e pelo grande afluxo de recursos externos que marca todo início de processo de estabilização.

Ocorre que, em todo processo de estabilização, o pico de recursos externos é nos primeiros anos, quando os ativos locais estão depreciados por anos de crise, permitindo ganhos maiores a quem os compra.

Depois que os preços atingem níveis internacionais—devido tanto à valorização interna quanto à valorização da moeda local—tornam-se menos interessantes para o capital de risco. Há o refluxo inicial na entrada de recursos financeiros, sem que a balança comercial compense—porque ficou-se preso à armadilha da ancoragem do câmbio.

Cria-se o pior dos mundos. Quanto mais aumenta o déficit em transações correntes, mais aumenta o risco do país. Quanto mais aumenta o risco, mais reduz-se o ingresso de capitais externos.

28/04/1995 – O governo vai quebrar o país

O catastrofismo só se justifica em uma circunstância: quando se está prestes a produzir uma catástrofe. Se não acordar a tempo, o governo Fernando Henrique Cardoso vai produzir uma recessão cavalar, um festival de inadimplência semelhante ao ocorrido com o Cruzado 2.

Repete-se a mesma leviandade da política cambial do ano passado. Desvalorizou-se o dólar em 15%, abriram-se as portas das importações, tendo em mente reduzir o superávit comercial para US$ 5 bilhões. Como se fosse possível ter esse grau de controle sobre os agregados econômicos. O país está há meses produzindo déficits mensais da ordem de US$ 1 bilhão. Como aprendizes de feiticeiros, apertaram um botão e produziram um terremoto.

(…) Há várias semanas há duas enormes vagas sendo formadas na economia, que se acentuaram agudamente na semana passada, e que ainda não entraram nas estatísticas.

A primeira, a onda da inadimplência das pessoas físicas. Um dos bancos grandes bancos de varejo do país, bastante conservador, detectou que 80% dos clientes que possuem cheque especial estão no vermelho.

A segunda vaga é a inadimplência nas empresas. Os índices de inadimplência já vinham crescendo de maneira acentuada desde janeiro. Grande parte da economia estava rolando suas dívidas no curto prazo. Ao estancar completamente o crédito, impedindo esse pessoal de rolar suas dívidas, e de financiar as suas vendas, o governo produziu um coquetel mortal. Tão mortal que não vai ser mantido.

A questão é que a equipe econômica só vai se dar conta do desastre depois que estiver consumado um estrago considerável na economia. E qual o objetivo dessa violência?

Varrer por mais alguns meses para debaixo do tapete os erros cometidos na política cambial. O problema do excesso de consumo é exclusivamente em relação a seus efeitos sobre as importações.

O pior da história é que essa recessão não vai resolver, por si, a questão do desajuste cambial. Vai ter que se fazer o ajuste mais à frente, e em cima de uma economia desorganizada.

(…) Solicito que, quando começar a quebradeira das empresas, e voltar o desemprego em doses violentas, que os senhores Ciro Gomes, Winston Fristch, Edmar Bacha e Gustavo Franco, ocupem uma rede nacional de televisão para apresentarem suas explicações para as loucuras que cometeram na política cambial.

Que tentem justificar seu experimentalismo, a politização do tema cambial, o jantar de comemoração pela volta dos déficits comerciais, as razões que os levaram a privilegiar o capital externo especulativo, em detrimento da segurança dos superávits comerciais.

De preferência, que as explicações sejam apresentadas no Maracanã, ou em local que consiga abrigar as centenas de milhares de desempregados, e de empresas quebradas por sua irresponsabilidade.

11/05/1995 – Uma Vale = 5 meses de juros

Cinco meses com as atuais taxas praticadas pelo Banco Central custam uma Vale do Rio Doce. Todas as participações no setor petroquímico equivalem a 15 dias de juros.

Esses números são eloqüentes para demonstrar a loucura que se está cometendo contra o país com a atual política de taxas de juros.

(…) Inventam-se verdades definitivas—e jamais comprovadas—sobre as excelsas virtudes das taxas de juros absurdas no combate à inflação. E para quê? Para perpetuar a ciranda, inviabilizar novamente a dívida pública, e mais uma vez jogar a conta para o conjunto da sociedade.

(,,,) A estabilidade é de curto prazo, porque basta os agentes econômicos analisarem as curvas de progressão da dívida pública para constatarem que essa maluquice não se mantém. Basta o especulador aguardar o governo perder o fôlego, para voltar matando.

Mantida essa política, permanecerá a inevitabilidade do ajuste cambial. Só que o ajuste terá que ser feito com uma ampla desorganização do setor real da economia, riscos de crise financeira, inviabilização da rolagem das dívidas estaduais e federais.

13/05/1995 – A ideologia dos juros altos

Há anos esse modelo concentra renda, condena a produção e impede a modernização e a renovação empresarial. Abortou sucessivos movimentos desenvolvimentistas, quebrou várias vezes o Estado, inspirou sucessivos calotes nos poupadores comuns, desviou recursos sem fim dos gastos sociais e da infraestrutura, sacrificou milhares de empreendedores, em nome de uma falsa ciência.

Os arautos da nova ideologia venderam a ideia de que, se os juros baixassem, a inflação estouraria. Os juros mantiveram-se estupidamente elevados, e a inflação nunca cedeu.

Nos anos 70 já se premiava com juros reais as aplicações de curtíssimo prazo, sob a alegação de que, se os juros baixassem, haveria fuga de recursos do sistema.

Quinze anos depois, o economista Ibrahim Éris criou os fundões, a taxa de juros negativa, e não houve um tostão de fuga de recursos do sistema.

Está na hora de erradicar essa hipocrisia da vida nacional e expor algumas verdades cruas: Papai Noel não existe, cegonha não traz recém-nascidos, e não existe isenção na política econômica, nem os economistas públicos são figuras tutelares.

15/05/1995 – Buraco à vista

Basta levantar esses números para constatar como são inconsistentes os argumentos do presidente do BC, Pérsio Arida, em favor dessa política monetária irracional.

Diz ele que o governo foi obrigado a adotar uma política monetária drástica para conter a demanda, pela falta de condições de implementar uma política fiscal restritiva (Arida se recusa a aceitar que o objetivo final da contenção da demanda é o equilíbrio da balança comercial, e o receio de se mexer na política cambial, após as trombadas de março).

Para que sua lógica fosse consistente, a seguinte equação teria que ser correta: aumento do passivo público + câmbio congelado – privatizações – receita fiscal futura = 0. E não é.

O preço das estatais é cotado em dólares—não em reais. Se 7 meses com esses juros—e sem ajuste cambial–, correspondem a uma Vale + toda a telefonia + petroquímica, onde se fecha a conta?

Também é inconsistente sua alegação de que o governo aumentou o compulsório dos bancos para permitir que parte da dívida pública fosse financiada com esses recursos. Os compulsórios bancários estão sendo remunerados por 100% da taxa do over, porque a regra anterior—de remuneração de 90% do over para parte do compulsório—estava derrubando as taxas dos CDBs.

21/05/1995 – Os gurus e a retórica da meia lógica

Em entrevista à edição de domingo da “Folha de S.Paulo”, conhecido guru econômico fez a defesa da atual política de juros altos. Acredita ele que seja precondição de todo plano de estabilização obter equilíbrio fiscal e equilíbrio da balança comercial.

A partir daí, parte para a defesa da atual política de juros, como se fosse o instrumento adequado para atingir esses objetivos. Diz ele:

1) Não se podem baixar as taxas de juros antes de um ajuste fiscal maior e mais profundo e da privatização.
2) Quebras de empresas são decorrências naturais de processos de estabilização. As classes produtoras reclamam porque gostam de economia aquecida.
3) Pode-se manter a atual banda cambial se o governo criar incentivos às exportações ou restrições às importações.

Releve-se, por vício de ofício, essa postura de deus ex machina, a arrogância de banalizar como choradeira a reação desesperada de milhares de pessoas que estão perdendo bens, empregos e vidas inteiras de trabalho por conta dessa irracionalidade.

A entrevista do guru é relevante por demonstrar a faceta menos percebida desse jogo antinacional: o aval técnico dado pelos gurus econômicos a aventuras inconseqüentes, a partir de uma retórica sutilíssima, onde jamais mentem, mas jamais contam a verdade por inteiro, para preservar para si o poder de definir decisões que deveriam ser compartilhadas com o conjunto da opinião pública.

Em pouco tempo a manutenção dessa taxas de juros inviabilizará definitivamente o ajuste fiscal do Estado. Rapidamente tornará o passivo público superior ao conjunto de estatais a serem privatizadas. E começará a se refletir rapidamente na arrecadação fiscal. É só conferir como será a arrecadação de maio e junho.

A médio prazo, essa política não só não resolve, como aprofunda e inviabiliza qualquer ajuste fiscal futuro.

23/05/1995 – A volta do messianismo

Foi a equipe do real que destruiu os superávits comerciais, exclusivamente para abrir espaço para o dinheiro especulativo. Depois, demorou no combate ao aumento da demanda. No novo governo, errou bisonhamente na mudança do câmbio, derrubando o teto do dólar de um real para 92 centavos.

Para não assumir seus erros, consumado o desastre na balança comercial, em vez de parar, analisar serenamente a situação, e preparar a próxima etapa do jogo, o Banco Central toma as rédeas nos dentes e resolve partir para o tudo ou nada. Este é o dado trágico.

(…) 1)  Taxas de juros estratosféricas jogam o país numa recessão.

2)  A recessão desestimula as altas de preços e quebra as resistências de empresários e trabalhadores.
3) Instituída a paz do cemitério, o governo consolida o plano.

E param por aí. O que significa consolidar o plano? Como vai ser o dia seguinte? Expliquem-se. Apresentem claramente seus objetivos. Desenhem com honestidade o cenário que estão perseguindo, para que a opinião pública possa avaliar se as medidas estão no caminho correto ou não. Como vão fazer para o ajuste fiscal, se com esses juros o mero crescimento da dívida interna consumirá tudo o que vier a ser apurado com a privatização? Como pretendem partir para a desindexação final, antes de resolver os desajustes da balança comercial?

Depois do desastre do Cruzado, o país não merecia de volta o messianismo na economia.

25/05/1995 – D Sebastião e a reunião de Carajás

Com apenas 18 meses com a economia de volta às mãos dos pacoteiros, e apenas com sua capacidade de brincar de fliperama com as políticas monetária e cambial, tem-se: 1) O país em nova crise cambial; 2) a volta de alíquotas super-protetoras em muitos setores; 3) crescimento exponencial da dívida interna, comprometendo o futuro ajuste fiscal; 4) e uma multidão de empreendedores arrependidos até a medula dos ossos por terem apostado no país e programado investimentos.

Mesmo assim, recebem olhares embevecidos de analistas rasos, que conclamam, com um frêmito nelsonrodriguiano: o plano é bom, porque faz doer.

Todo o ouro de Carajás não vai pagar o que o país ainda vai sofrer por causa da reunião de 1986.

16/07/1995 – O oportuno mea-culpa de FHC

Para não ser apanhado novamente no contrapé, seria conveniente que o presidente se valesse das lições aprendidas com a crise agrícola para prevenir desastres ainda maiores no futuro, principalmente em relação aos seguintes pontos:

1) Recessão: há sacrifícios decorrentes de ajustes inevitáveis, e sacrifícios provocados

por inabilidade na condução da economia. A opção de “errar por excesso” é um escapismo. Erra por excesso apenas quem não tem competência para encontrar o nível adequado de sacrifício a ser imposto ao país.

2) Dívida pública: a manutenção das altas taxas de juros está lançando as sementes de

uma crise fiscal que ainda vai estourar no próprio governo FHC. 20% de juros reais ao ano são mais que suficiente para atrair capitais externos. Não há nenhuma justificativa técnica para esses 45% ao ano, que apenas reforçam os receios de um calote mais à frente.

3) Câmbio e balança comercial: já se sabe que o problema existe. A maneira de

enfrentá-lo, através da criação desordenada e pouco seletiva de mecanismos de proteção setorial, ainda vai respingar sobre o governo FHC.

4) Saúde: a próxima marcha sobre Brasília vai ser dos mortos-vivos condenados à

morte pela falta de recursos oficiais.
5) Custo Brasil: a contrapartida oficial a essa política recessiva seriam as reformas extra-constitucionais, englobadas no tal projeto “Custo Brasil”. Delas, ninguém sabe, ninguém viu.

26/07/1995 – A crise da macroeconomia

A macro-economia, no país, virou ciência manca, administrada por especialistas sem nenhuma visão de conjunto, sem um plano estratégico. Em seu tabuleiro, não existem a pequena e a média empresa, o interior, a agricultura, a não ser quando seus problemas afetam o centro.

Cada crise que estoura, embora perfeitamente perceptível, apanha-os a todos—e sempre— de calças curtas, porque a análise econômica brasileira não conseguiu avançar além da observação dos setores tradicionais. Assim como com os gurus americanos, não se percebeu que a revolução gerencial e tecnológica desenhavam uma nova economia, que não podia ser englobada nas formas tradicionais de análise.

A evolução das modernas técnicas gerenciais—com a ampliação dos conceitos de terceirização—e a explosão das novas tecnologias, acabaram com a noção do grande conglomerado, que se bastava a si próprio. Cada vez mais é estratégica a montagem de um cinturão de pequenas e médias empresas especializadas, provendo as maiores de serviços e produtos.

Mas eles continuam ligados apenas a visão convencional e aos agregados monetários. Se Bill Gates tivesse nascido brasileiro, teria terminado sua vida como consultor de informática de uma repartição qualquer.

Aqui, a íntegra do capítulo “Os juros do Real”, do livro “O jornalismo dos anos 90”.

Os juros do Real
Luis Nassif

10 Comentários

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  1. Excelente artigo Nassif,

    O que o Ciro Gomes diz atualmente sobre sobre o que fizeram naquela época do real? Fez qualquer tipo de mea culpa?

    Eu sempre achei vc bastante desconfiado dele, seria por conta deste episódio?
    Abs
    Leonardo

    1. No seu livro, publicado em 1996, o Ciro afirma: ” […] Não se conseguem descartar os expedientes do plano Real – o câmbio sobrevalorizado e os juros altíssimos – tão úteis como expedientes TEMPORÁRIOS quanto RUINOSOS como soluções duradouras, sem limpar as contas e elevar as receitas do Estado brasileiro. […]”.

      Ou seja, Ciro não defendeu a perpetuação (duração) dos juros altos como o fez o BC, à época.

  2. Historicamente Nassif tem suas razões mas erra ao não perceber a importância dos estudos atuais do ALR para quebrar a visão dogmática dos liberais , neoliberais e que tais.
    Vamos lá Nassif, o ALR é um aliado absolutamente indispensável.

  3. Se fala muito no governo FHC e em seu mal sucedido plano real, mas nada se fala do governo Lula. Gostaria de saber o por que.
    Afinal, o que fez o governo Lula de diferente para que acabasse com a resseção?
    O teria feito de tão “errado” para que demanda aumentasse sem provocar inflação?

  4. Nassif, Nassif, Nassif, os “economistas” não erraram, alguns economistas sim.

    Muitos economistas foram bastante críticos do Plano Real, com críticas muito mais profundas e embasadas que as suas.

    Ridículo você tentar passar a ideia de que entende mais do que esses economistas, desconsiderando a opinião de vários economistas que, desde o princípio, apontaram as falhas do Plano Real.

    Mais seriedade, por favor.

  5. Essa política de juros reais nas alturas foi mantida ao longo dos oito anos de governo Lula. Lula perdeu uma oportunidade única, quando assumiu a presidência com o dólar acima de R$ 4,00 em janeiro de 2003. Era uma oportunidade extraordinária para desvencilhar-se das amarras dos juros altos e partir para uma economia muito mais voltada para a produção.

    Infelizmente jogou-se fora, a tal ponto que em agosto de 2008, pouco antes do estouro da crise financeira mundial, o dólar estava cotado a R$ 1,56, uma cotação abaixo inclusive dos piores momentos do Plano Real em 1994, descontada a taxa de inflação. Tudo isso porque manteve ao longo de todos esses anos uma política de juros reais nas alturas, sempre entre os maiores do mundo. Não chegou ao absurdo dos 45% do primeiro governo FHC, mas os juros altos fizeram a alegria do mercado financeiro e prejudicaram tremendamente a economia real, em particular a indústria manufatureira.

    A farra do financismo pode ter-se iniciado com a equipe do Plano Real, mas prosseguiu com gosto durante os oito anos de Lula, ajudando a dizimar o que sobrava da indústria nacional.

    Essa sempre foi minha maior crítica à gestão do Lula, que fez muito, mas poderia ter feito muito mais se não ouvisse o canto das sereias do mercado financeiro.

  6. Talvez por gostar de um “Muro” o André Lara deu uma no Cravo outra na Ferradura…

    …”Estas linhas gerais de políticas, sugeridas pelo novo paradigma macroeconômico, correm o risco de desagradar a gregos e troianos. Não se encaixam, nem no populismo estatista da esquerda, nem no dogmatismo fiscalista da direita. Como observou, de maneira premonitória, Abba Lerner, em seu ensaio de 1943, os princípios das Finanças Funcionais são igualmente aplicáveis numa sociedade comunista, como numa sociedade fascista, como numa sociedade capitalista democrática.”…

    Engana-se.
    O “dogmatismo fiscalista da direita” (vulgo Paulo “Keds”) jamais vai abrir mão de suas Ideologias/Dogmatismo.
    Pelas falas do Mourão, mesmo se esse assumir o Comando, parece que os Militares já estão contaminados pelas ideias ultraliberais do “Keds”..
    Já o “populismo estatista da esquerda” parece ser bem mais pragmático:

    “XI REFORÇA O PAPEL DO SETOR FINANCEIRO PARA… SERVIR À ECONOMIA REAL (VULGO… EMPREGOS/PROSPERIDADE)”

    http://www.chinadaily.com.cn/a/201902/23/WS5c70d0ffa3106c65c34eafc9_1.html

    Xi stresses role of finance in serving real economy
    Xinhua | Updated: 2019-02-23 12:50

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