A biodiversidade do Cerrado Brasileiro

A flor

“Nenhuma outra planta carnívora conhecida usa essa estratégia para se alimentar”

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Bonitinha, mas assassina

Pesquisadores descobrem que delicada planta do cerrado brasileiro é carnívora e usa folhas subterrâneas para se alimentar de vermes e sobreviver no solo carente de nutrientes da região. A pesquisa é mais um exemplo da diversidade biológica desse ecossistema.

Por: Sofia Moutinho

Publicado em 09/01/2012 | Atualizado em 09/01/2012
Bonitinha, mas assassina

A ‘P.Minensis’ é a primeira de sua família reconhecida como carnívora. A planta é rara e só ocorre na Serra do Espinhaço, no cerrado mineiro. (foto: Caio Pereira)

Aparentemente, uma delicada plantinha de flores lilases, mas, debaixo do solo em que nasce, a Philcoxi minensis esconde um segredo que só agora foi revelado por pesquisadores brasileiros, estadunidenses e australianos. Eles descobriram que a planta, do cerrado, é uma voraz carnívora: camufla folhas grudentas sob a areia para capturar e digerir vermes desavisados.

A curiosa planta, encontrada apenas nas manchas de areia branca da Serra do Espinhaço, em Minas Gerais, chamou a atenção dos biólogos por frequentemente ser vista com vermes nematoides – aqueles compridos e cilíndricos, como as lombrigas – presos em suas minúsculas folhas subterrâneas, de cerca de 1mm de diâmetro.

O fato de os vermes serem encontrados já mortos e a presença da incomum folha subterrânea levaram os pesquisadores a pensar na hipótese de a planta ser carnívora, mesmo que nenhuma outra espécie da mesma família, que inclui mais de 2 mil vegetais, seja.
A curiosa planta é encontrada apenas nas manchas de areia branca da Serra do Espinhaço, em Minas Gerais

Para verificar a ideia, eles ofereceram à planta um banquete especial: vermes Caenorhabditis elegans marcados com nitrogênio-15. Os vermes usados na experiência continham em seu organismo apenas esse isótopo do nitrogênio, passado a eles via alimentação exclusiva de bactérias cultivadas em meio enriquecido com a substância.

Se a planta fosse mesmo carnívora, absorveria o nutriente. E foi isso que aconteceu. Análises das folhas comprovaram que a P. minenses digeriu os vermes e incorporou 5% do nitrogênio-15 presente nos animais, cerca de um dia após a refeição, e 15%, depois de dois dias.

Esquema alimentação
    A ‘P. Minensis’ usa minúsculas folhas subterrâneas para capturar vermes neumatoides na areia. (fotos cedidas por Bruno Pereira)

 “A P. minensis é uma preciosidade”, diz o autor principal do estudo publicado na PNAS desta semana, o biólogo Rafael Oliveira, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Nenhuma outra planta carnívora conhecida usa essa estratégia de posicionar folhas subterrâneas para se alimentar, além de a digestão de vermes ser mais comum em fungos que em plantas”, comenta Oliveira.
Oliveira: “Nenhuma outra planta carnívora conhecida usa essa estratégia para se alimentar”

Segundo o biólogo, a dieta da planta é uma adaptação ao meio em que vive, onde o solo é muito seco e carente de nutrientes como fósforo, potássio e nitrogênio. São os vermes que provêm essas substâncias à P. minensis.

Isto faz com que a planta seja uma das poucas a sobreviver nas areias brancas dos campos rupestres, lar das outras duas únicas espécies do mesmo gênero: a P. bahiensis e a P. goiasensis.

Estas são muito semelhantes à P. minensis e os pesquisadores acreditam que também sejam carnívoras. Por isso já começaram a busca por mostras para estudo no cerrado da Bahia e de Goiás, áreas de ocorrência das espécies.

“O cerrado é uma formação vegetal extremamente rica, única no mundo, e conhecemos um número limitado de espécies da região”, diz Oliveira. “Nosso estudo é mais um exemplo da importância de se estudar esse ecossistema tão diverso.”

Sofia Moutinho
Ciência Hoje On-line

Redação

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