A complexidade das manufaturas ou o que produz uma “knowledge economy”?, por Paulo Gala

O Atlas da Complexidade Econômica traz uma contribuição interessante para essa discussão estruturalista

A complexidade das manufaturas ou o que produz uma “knowledge economy”?

por Paulo Gala

em seu site 

Para os clássicos do desenvolvimento econômico a industrialização sempre foi o caminho por excelência para se desenvolver e aumentar a produtividade de um país. Os argumentos estruturalistas têm como pilar a ideia de que o setor industrial e’ a chave para o aumento de produtividade de uma economia. Desde o argumento da tendência declinante dos termos de troca, passando pela ideia de Prebsich de que os ganhos de produtividade são incorporados a salários nos países industrializados e se tornam queda de preços em países da periferia, não é possível imaginar desenvolvimento econômico nesse arcabouço de pensamento sem a ideia de industrialização.

Toda literatura estruturalista sobre desindustrialização e ate mesmo doença holandesa parte dai. O Atlas da Complexidade Econômica traz uma contribuição interessante para essa discussão estruturalista. Do ponto de vista empírico, fica claro no Atlas que manufaturas se caracterizam em geral como bens mais complexos e commodities aparecem como bens não complexos.

Das 34 principais comunidades de produtos (em termos de grau de complexidade) calculadas a partir de um algoritmo de compressão de redes do Atlas (Rosvall and Bergstrom 2007), é possível observar (gráfico acima) que maquinário, produtos químicos, aviões, navios e eletrônicos se destacam como bens mais complexos (medido pelo indicador PCI).

Por outro lado, pedras preciosas, petróleo, minerais, peixes e crustáceos, frutas, flores e agricultura tropical apresentam baixíssima complexidade. Cereais, têxteis, equipamentos para construção e alimentos processados situam-se numa posição intermediaria entre os bens mais complexos e menos complexos.

ver: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0954349X11000567

tabela_chave

O inovação é setor específica dentro dos países, mas complexidade econômica é o que conta. Nesse interessante trabalho publicado na renomada revista world developemnt os autores mostram que nos últimos 40 anos o aumento de complexidade produtiva foi mais importante para aumento de produtividade do que a detenção de patentes. O catching up de renda per capita depende muito mais de integrar pessoas em atividades já conhecidas no mundo que apresentam maior produtividade. Nos países de fronteira tecnológica a inovação tem mais relevância. Essas inovações tendem a ser setor específica como mostra essa classificação da OCDE: as manufaturas dominam o mapa. https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0305750X18303954

Referencias

Hausmann, R.; Hidalgo, C.A.; Bustos, S.; Coscia, M.; Chung, S.; Jimenez, J.; Simões, A.; Yildirim, M. A. (2011) The Atlas of Economics Complexity – Mapping Paths to prosperity. Puritan Press

Hidalgo, C. (2015) Why information grows: the evolution of order, from Atoms to Economies, ed. Basic Books, NY

Hartmann, D., Guevara, M.R., Jara-Figueroa, C., Aristarán, M. Hidalgo, C.(2015), “Linking economic complexity, institutions and income inequality”, arXiv:1505.07907 [q-fin.EC]

Hidalgo, C; Hausmann, R. (2011) “The network structure of economic output”, Journal of Economic Growth, 16(4), pp. 309-42

Hidalgo, C. A., Klinger, B, Barabasi, A., L., and Hausmann, R., (2007) “The product space conditions the development of nations”, Science 27 july: 317 (5837), 482-487. Doi:10.1126/science.1144581

Rosvall, M. and Bergstrom, C. (2008) “Maps of random walks on complex networks reveal community structure,” Proceedings of the National Academy of Sciences 105, 1118

Complexidade é mais importante do que patentes para aumento de produtividade https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0305750X18303954

https://blogs.scientificamerican.com/observations/the-rise-of-knowledge-economics/?fbclid=IwAR1PVMgpoWrWXmVWnBeBUPURV5ZxQfnYqnb8OEEMFEnS5PRubP2iTsqIXiw


*Paulo Gala é graduado em Economia pela FEA/USP. Mestre e Doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas FGV/EESP de São Paulo, onde é professor desde 2002. Foi gestor de fundos multimercado e renda fixa, hoje CEO e Economista da Fator Administração de Recursos/FAR.

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Redação

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