A construção da destruição lucrativa “made in USA” e a destruição das construtoras brasileiras

É curiosa a forma como a imprensa trata os negócios norte-americanos e brasileiros no exterior. Transcrevo abaixo apenas dois fragmentos retirados do G1. Um deles diz respeito à reconstrução do Iraque o outro a construção do Porto de Mariel:

“Mais de US$ 100 bilhões (cerca de R$ 180 bilhões) já foram empregados na reconstrução do Iraque, principalmente graças aos contribuintes americanos e à receita advinda do petróleo iraquiano, mas em quase cinco anos de conflito, o resultado em áreas críticas como água e eletricidade continua abaixo dos objetivos pretendidos pelos EUA, segundo informaram ao Congresso norte-americano na terça-feira (30) os oficiais de vistoria encarregados do assunto. 

Depois da injeção de tanto dinheiro na infra-estrutura iraquiana, há alguns sinais de esperança, segundo declaração de uma dessas autoridades, Stuart W. Bowen Jr., dirigente do gabinete do Inspetor Geral Especial da Reconstrução no Iraque. A quantidade de energia elétrica na rede nacional do Iraque, embora ainda esteja abaixo das expectativas, teve crescimento modesto recentemente devido à força de alguns novos geradores e a segurança aprimorada.”  http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL164508-5602,00-RECONSTRUCAO+DO+IRAQUE+ESTA+LONGE+DO+OBJETIVO+DIZ+RELATORIO.html

“O governo de Dilma Rousseff peitou muita crítica ao financiar a ampliação e modernização do porto de Mariel em Cuba. Afinal, e os nossos portos? Muitos estão sucateados e o governo não tem, e nunca teve, dinheiro suficiente para mudar este quadro. Tanto assim que os portos fazem parte do plano de concessões da presidente. Quem sabe em algum momento do segundo mandato o plano possa sair do papel.

Voltando a falar de Cuba. O BNDES mandou U$ 800 milhões para que a Odebrecht fizesse a obra. E quem já viu de perto, constatou que o porto cubano está uma beleza, melhor que os nossos melhores. Cuba fica mais perto dos Estados Unidos que depois de mais de 50 anos começa a “soltar os grilhões do passado”, como disse o presidente Barack Obama em seu discurso sobre a reabertura nas relações com o país de Fidel Castro.

Mas não serão alguns quilômetros a mais que vão deixar o Brasil distante dessa mudança histórica entre os dois inimigos mais antigos do mundo ocidental. Nós não somos donos do porto de Mariel, mas a dívida de Cuba com o BNDES, a atenção pública e reiterada que a presidente Dilma deu ao país em seu primeiro mandato dão ao Brasil um status de “primeiro na fila” neste movimento que vai lançar a “nova” terra dos Castros ao mundo.

Já que estamos exatamente num momento de questionar obras públicas, contratos, financiamentos, desvios milionários de empresas estatais e a constatação de muitos “burros n’água”, vale a pena dizer que o porto de Mariel escapa ileso da nossa barafunda política.

Veja só a refinaria de Pasadena, no Texas. Ela foi comprada pela Petrobras por US$ 1,2 bilhão e quebrou, ou seja, babau dinheiro. Mariel (que foi mais barato) surge como uma promessa de revolução capitalista para Cuba e dá ao Brasil lugar na primeira classe nessa empreitada.” http://g1.globo.com/economia/blog/thais-heredia/post/porto-em-cuba-nao-e-pasadena.html

Na matéria referente às construtoras norte-americanas que atuam no Iraque não há nenhum juízo de valor sobre a natureza infame da destruição daquele país pelo governo Bush Jr., que iniciou a guerra contra Saddan Hussein com base em mentiras repetidas à exaustão na imprensa e na ONU sobre armas de destruição em massa (não encontradas e convenientemente esquecidas). Também não é feita qualquer menção à situação precária da infra-estrutura de transportes nos EUA. Pontes e viadutos estão literalmente desmanchando por falta de cuidado naquele país http://thehill.com/policy/transportation/241473-dot-chief-we-ought-to-be-embarrassed-as-a-country. Também não foi feita nenhuma referência à tragédia em Nova Orleans provocada pela falta de obras nos diques http://www.bbc.com/portuguese/reporterbbc/story/2005/11/051103_katrinacc.shtml . Nada que deprecie os EUA ou o governo norte-americano foi referido no texto do G1.

Quando trata das iniciativas do Brasil no exterior e do apoio governamental dado às construtoras brasileiras o tom do G1 depreciativo. O texto transcrito lembra as críticas feitas contra a obra financiada pelo BNDES em Cuba. Faz referência evidente diferença entre excelente condição em que ficou Porto de Mariel e o péssimo estado dos portos brasileiros. A articulista não deixa de colocar em dúvida o sucesso do empreendimento em Cuba ao mencionar desvios milionários em obras públicas. Por fim menciona o suposto prejuízo da Petrobras em Pasadena.

Resumindo: no imaginário dos jornalistas do G1 os EUA podem injustamente destruir outro país para que as construtoras norte-americanas lucrem reconstruindo-o enquanto os diques, pontes e viadutos norte-americanos desmoronam causando tragédias inenarráveis. Mas quando se trata do Brasil, toda e qualquer apoio governamental às obras realizadas por construtoras brasileiras no exterior é indesejado ou, no mínimo, suspeito.

Mas nem sempre foi assim. Houve um tempo em que a Rede Globo fazia um jornalismo bem mais simpático às construtoras brasileiras. As obras realizadas durante a Ditadura Militar (Ponte Rio Niterói, Itaipu, Rodovia Transamazônica  etc…) eram constantemente elogiadas, consideradas indispensáveis à modernização do país. Elas eram tratadas como provas da grandeza do Brasil e do dinamismo visionário do governo brasileiro.

O que mudou? O Brasil? A orientação política do governo? O jornalismo do clã-Marinho? 

Fábio de Oliveira Ribeiro

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