A crise política e sua superação

O esfarelamento moral da classe política brasileira se tornou evidente. O usurpador comanda um ministério de ilustres bandidos e sua maioria parlamentar é composta por mafiosos que extorquiam dinheiro da Odebrecht enquanto acusavam o PT de ser corrupto. A fragilidade dos poderes Executivo e Legislativo deu ao Judiciário a oportunidade de se apropriar de todo o poder político.

Mas os Juízes não podem ser considerados reserva moral da nação por três motivos. Primeiro, porque eles não são eleitos e desdenham a soberania popular. Segundo, porque vários deles são também são corruptos e extorquiram dinheiro de construtoras. Terceiro, porque no Brasil os juízes demonstraram ter uma tendência histórica e histérica a utilizar o Estado em seu próprio benefício.

A função da política não é e não poder ser apenas proporcionar salários nababescos e privilégios senhoriais para os membros do Judiciário. Além de não produzirem riqueza os juízes devotam sua atenção ao passado e não são capazes de construir o futuro.

A crise pela que se espalha pelo país é profunda e complexa. Mas na raiz dela está uma questão absolutamente singela: quem deve ocupar o cenário político? Em nosso país a política tem sido feita por pessoas que acreditam ser líderes políticos ou que amealham fortunas ilegalmente para fazer o respeitável público acreditar que eles são líderes políticos. A virtú política, contudo, não é algo que alguém pode atribuir a si mesmo, tampouco pode ser comprada.

Aquele que faz esquemas sorrateiros para chegar ao poder (como Michel Temer) é desprovido de virtú política porque o que ele faz para si mesmo implica na destruição de algo muito maior: a paz e a prosperidade pública. Não por acaso o usurpador enterrou as finanças do Brasil condenando-nos a pobreza e uma guerra civil apenas porque foi capaz de dar um golpe de estado e de ficar no poder. Ele se agarra ao poder como algo pessoal ao invés de utilizá-lo impessoalmente em benefício dos brasileiros.

Aqueles que enriquecem para chegar ao palco da política ou abusam dela para enriquecer (como José Serra, Aloysio Nunes, Moreira Franco, Geraldo Alckmin, e todos os Ministros de Michel Temer, bem como senadores como Aécio Neves e deputados como Rodrigo Maia) são capazes de comprar a projeção de uma imagem artificial de virtú política. Mas quando a imagem inevitavelmente desmorona, como está ocorrendo no presente momento, o que resta deles são apenas seus defeitos, imoralidades e uma longa carreira de crimes que foram cometidos para acobertar outros crimes.

O ocaso da classe política brasileira está criando a falsa impressão de que a política é desnecessária, de que o Estado pode ser gerido por técnicos (militares, promotores ou juízes), que todos os líderes políticos são crápulas que se apoderam do poder para servir sua própria ambição à custa do patrimônio público. A falta de virtú política dos falsos líderes que escalaram o edifício do Estado se torna assim uma maldição da política que compromete a existência do próprio Estado.

Os jornalistas que incensaram ladrões, mafiosos e corruptos como Aécio Neves, José Serra, Michel Temer, Aloysio Nunes, Rodrigo Maia, Moreira Franco, Geraldo Alckmin etc… não estão em condições de dizer quem tem e quem não tem virtú política. De fato, foram eles que criaram a alimentaram a crise ao fazer o povo acreditar em líderes que não cuidavam do interesse público, mas que usavam os cargos eletivos e de confiança para aumentar suas fortunas pessoais a fim de continuar no poder para enriquecer ainda mais. Não por acaso o Brasil empobreceu no exato momento em que eles resolveram destruir a soberania popular para se apoderar de todo Estado.

Como reconhecer a virtú política? Esta é uma pergunta difícil de responder, posto que as vezes ela manifesta-se justamente naqueles que não estão na vida pública e que nem mesmo gostariam de aparecer na cena política. Digo isto pensando na carta que Bismarck escreveu para seu irmão quando tinha vinte e poucos anos:

“Negócios e serviços públicos são inteiramente contrários ao meu temperamento; não me consideraria afortunado se me tornasse alto funcionário ou, mesmo, ministro de Estado. Considero plantar milho tarefa tão respeitável como redigir despachos e, em certas circunstâncias, mais útil; tenho mais inclinação para mandar que para obedecer. Há coisas às quais não posso atribuir outra razão além dos meus próprios gostos… Um oficial prussiano é como um músico numa orquestra. Quer seja primeiro violino ou tocador de ferrinhos, tem de tocar o seu instrumento de acordo com a partitura. De minha parte, quero tocar a música que me pareça boa – ou não tocar coisa alguma.” (citada por Bertrand Russell em “Liberdade e Organização, Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1959, p. 182)

A virtú política que Bismarck demonstrou na sua longa carreira política (ele conseguiu unificar a Alemanha e foi o principal arquiteto de sua política externa) parece contradizer suas palavras. Contudo, ele já a manifestava através de frases singelas e profundas como “Considero plantar milho tarefa tão respeitável como redigir despachos…” e “…quero tocar a música que me pareça boa – ou não tocar coisa alguma”.

Na primeira frase selecionada o futuro estadista alemão reconhece a importância da economia real, da atividade que os políticos do PMDB e do PSDB se esqueceram quando resolveram destruir economicamente Brasil para assaltar o poder que não foi lhes atribuído pelo voto popular. Na segunda, Bismarck afirma que é melhor ficar longe de um cenário político viciado quando é impossível modificá-lo.

O Brasil precisa desesperadamente reorganizar seu cenário político. Mas esta reorganização não poderá ser feita por aqueles que se apoderaram do poder para enriquecer. Também não poderá ser conduzida por juízes corruptos que desdenham a soberania popular ou pela imprensa que impôs ao país lideranças que não tinham virtú política.  Até o país reencontrar seu caminho desenvolvimentista a única coisa que podemos fazer é exigir a realização de eleições e rejeitar nas urnas os políticos do PMDB e do PSDB que fizeram a lambança de derrubar Dilma Rousseff para não ser punidos pelos crimes que eles cometeram.  

Fábio de Oliveira Ribeiro

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