A democracia direta na visão corajosa de Sérgio Fausto

Um belíssimo exemplo de como a coragem e a lucidez acadêmica rompem o invólucro dos preconceitos na discussão pública.

Refiro-me ao Painel “Qual o tipo de democracia que temos no Brasil”, do William Waack. (clique aqui)

O programa juntou três especialistas: Sérgio Fausto, do Instituto Fernando Henrique Cardoso, o advogado Carlos Ari Sundfeld e o cientista política da Tendências Consultoria Rafael Cortez.

O debate começa com Sundfeld e Cortez batendo no decreto, trazendo fantasmas inexistentes, de varguismo, instrumentalização e outras mais. Ambos se baseiam em achismos, em impressões, em hipóteses, preocupados em não colidir com a visão conspiratória da mídia.

Sundfeld concentrou suas críticas na centralização do acompanhamento das comissões no âmbito da Secretaria da Presidência. Não se deu conta que a intenção foi garantir o encaminhamento das propostas no âmbito do Executivo. Hoje em dia há tanto desprezo que Dilma foi capaz de atropelar as conclusões de uma Conferência Nacional de Educação para mudar uma parte das resoluções atendendo aos interesses paroquiais de Gleize Hoffmann, como candidata ao governo do Paraná.

Cortez criticou a oportunidade do decreto, que considerou eleitoreiro – por ser assinado nas vésperas da campanha eleitoral. Não se deu conta de que Dilma Rousseff só o assinou – fugindo do seu estilo eminentemente centralizador – por conta das eleições. As eleições tiveram papel positivo, não negativo.

Aí emerge a visão sólida e destemida de Sérgio Fausto. Com o respaldo de coordenador do IFHC e com a idoneidade intelectual que o caracteriza, Sérgio vai desmistificando os fantasmas, fala em paranoias, combate o radicalismo da discussão política atual, tanto da parte do governo como da oposição.

Sérgio mostra que o PT perdeu o controle sobre as novas organizações e que a abertura dada pelo decreto deveria ser aproveitada também pela oposição para batalharem pela conquista dos novos movimentos. Mostra todas as virutdes do decreto, suas preocupações com a legitimidade dos instrumentos – com um conjunto de regras impedindo a criação de feudos.

Waack elogia sua posição, diz que a intenção do programa é justamente sair da simplificação das discussões eleitorais.

E, aí, são dois tempos totalmente distintos.

Sundfeld e Cortez se sentem liberados para sair do script e tornam-se defensores do decreto. E o que se vê é uma discussão racional e inteligente sobre os novos tempos políticos, sobre a importância das manifestações diretas, sobre os novos espaços abertos para a sociedade civil, sobre as virtudes do decreto.

É um sinal portentoso de como operam os sinais de veto da mídia. A discussão só ganhou grandeza quando houve a liberação das opiniões por William. E quando um intelectual idôneo opinou sem jogar para a torcida.

Aliás, os Fausto – Boris e seu filho Sérgio – são dois dos exemplos mais dignos da seriedade intelectual. Infelizmente, o conservadorismo da mídia foi entregue a brucutus de ideia fixa.

Luis Nassif

21 Comentários

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  1. Em meias palavras, o Sergio

    Em meias palavras, o Sergio Fausto disse que não entende os motivos por tanta balburdia pelo Decreto citado.

    Sergio acredita que ele é inocuo e que ele não terá objetivos práticos, sendo que seu texto sequer deixa claro qual participação será essa, até porque em sendo a participação popular consultiva, tais conselhos não podem impor absolutamente nada, exceto, o que acham sobre o assunto.

    Foi interessante a opinião dele, ou seja, o decreto não muda e não serve à nada.

  2. E para ter uma noção da generalização da boçalidade

    nas discussões políticas, o post do LN, muito comedido e gentil com os 2 pitbulls chamados para latir contra a Dilma, não tinha 5* quando o li!

  3. Assisti ao programa e Nassif

    Assisti ao programa e Nassif faz uma leitura brilhante sobre o que ocorreu.

    Parabéns Nassif, e muito obrigado por ter clareado as minhas dúdidas sobre a mudanças de comportamento dos entrevistados e de William Waack que ficou no pêndulo do inicio ao fim do programa.

  4. A democracia direta na visão corajosa de Sérgio Fausto

    Além de afirmar que a coerência e participação na coesão de idéias deveriam ser conjuntas com os 2 maiores nomes de nossa política nos ultimos 30 anos.

    Quem pergunta William Waack?     Fernando Henrique Cardoso e Luis Inacio  Lula da Silva diz Sergio com o que concordou Waack.  Acredito que Sundfeld  soltou-se após essa amuência.

    Gostei muito do programa, e dificílmente assisto pela arrogância do Waack .

  5. A democracia direta na visão corajosa de Sérgio Fausto

    Além de afirmar que a coerência e participação na coesão de idéias deveriam ser conjuntas com os 2 maiores nomes de nossa política nos ultimos 30 anos.

    Quem pergunta William Waack?     Fernando Henrique Cardoso e Luis Inacio  Lula da Silva diz Sergio com o que concordou Waack.  Acredito que Sundfeld  soltou-se após essa amuência.

    Gostei muito do programa, e dificílmente assisto pela arrogância do Waack .

    1. Arrogância e direitice

      Arrogância e direitice crônica. Waack escreveu um livro anticomunista sobre a “intentona comunista” e não se cansa de continuar a missão da guerra fria, nessa altura do campeonato, no jornalismo…

  6. Sundfeld e Cortez se sentem

    Sundfeld e Cortez se sentem liberados para sair do script e tornam-se defensores do decreto. Ou seja, como o chefe representante ,Waack, da Gloebbels liberou geral, os dois falsários resolveram ir a favor da mudança da maré, mais falsos ainda.

  7. Frequentemente com desgosto,

    Frequentemente com desgosto, algumas poucas vezes assisto ao programa do Waack pra saber como a Globo anda na política, pois o cara é dos que mais mostram pra que lado sopram os ventos por ali. O programa dele é dos que mais levantam a bola para a oposição chutar. Notei que Sergio Fausto (Instituto FHC) é que fez virar o vento ali, bem como provavelmente no editorial do Valor Econômico, comentado pelo Nassif hoje. Acrescento que, se os tucanos fossem na prática política como são na teoria, seria bem menos pior.

  8. O Waac, expertamente, só

    O Waac, expertamente, só posou de pluralista quando, com a felicíssima colocação do Fausto, percebeu que não tinha mais como manter a linha delineada anteriormente para o assunto.

    Inteligentíssimo e muito bem informado, Waac é de fato, acentuadamente paranóico. É só ver suas expressões quando às vezes a câmera o flagra durante uma argumentação que o desagrada. Ele literalmente fulmina o convidado com um olhar ameaçador e paralizante!

    Nesse sentido a participação do Fausto foi mesmo um marco nesse programa!

  9. Estava matutando sobe esta

    Estava matutando sobe esta matéria de Nassif sobre William Waack para tentar entender o que aconteceu no programa.

    Todos conhecemos o estilo prepotente e antipetista de Waack e o seu comportamento foi estranho, bem como o seu pragmatismo bovino.

    Inicialmente pensei que ele tinha tomado um cheque-mate de Sérgio Fausto, mas a característica do repórter não justificaria tal recuo. O fato é que durante a maior parte do programa Waack passava a bola para Fausto fazendo perguntas leves, mesmo que atiçando contra o PT, a fato é que Fausto em frente às câmaras não poderia detonar a proposta de maior participação popular.

    Então, fui assistir ao programa de Leilane Neubarth e me surpreendi com a forma light que ela esta conduzindo o programa já que nas últimas semanas ela estava visceral.

    Surpresa maior ainda foi quando entrou no ar  Cristiana Lobo que gaguejou toda a sua fala ao comentar sobre a confirmação do apoio do PMDB à reeleição de Dilma e aliviou na análise do depoimento do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa na CPMI mista do congresso sobre a Petrobras.

    Quase cai da cadeira quando entrou a editora de economia Juliana Rosa que, para mim, é a maior pessimista da situação econômica do pais e critica muito enfaticamente e de forma agressiva mesmo com o seu sorriso monalístico  as políticas governamentais o que causava desconforto e critica velada de George Vidor .

    Essa observações me levaram a supor que se trata de uma trégua da Globo.

    Ou se trata de uma pausa para reagrupar as suas baterias aproveitando a chegada da copa e a sua necessidade de não ferir os interesses dos seus patrocinadores, ou por não poder mais afirmar que a inflção está descontrolada, ou por que entenderam que a vitória de Dilma está garantida, ou estão querendo “assoprar” com a iminência clara do encaminhamento da regulação da mídia.

    A observar os próximos passos da platinada.

    1. Prezado Assis,

      Acho que não dá pra ter muita esperança aí não. O time da Globo continua firme na oposição. O lance é que o Instituto FHC tem alguma autonomia em relação às práticas do PSDB. E o Waack não iria brigar com um ideólogo esclarecido do tucanato. 

       

  10. Exatamente!

    ” (…) preocupados em não colidir com a visão conspiratória da mídia.”

     

    SEMPRE constato essa verdade quando assisto a esses “especialistas” convidados da Globo News.

  11. Enfim, sai-se dos dualismos

    Afinal, no texto, sai-se dos dualismos simplistas e simplórios (de que tanto já reclamei aqui, e não só reclamei, pra quem quis ver ou ouvir): reconhece-se um intelectual do… IFHC – o que não fariam não poucos comentaristas/participantes do blog. Ah, se fosse eu (tachado por alguns como de direita, e como se enganam). Um ou outro lê Valor, vê Waack (nem que seja pra tb. ver a quantas anda o reacionarismo, ou, falo por mim, assiste-se ao Jornal Nacional pra ver até onde e como manipulam a gente). Claro, como quase sempre, vem o puxasaquismo ao dono do blog ou a quem quer que faça parte da turma.

    “Até amanhã, minhas flores”, como finaliza uma gostosa crônica de Rubem Braga (já sei que vai ter quem mal interprete a citação, tá assim, ó, de gente; e, muito mais do que se imagina, aguardo, mais do que ninguém, a conclusão de meu descadastramento). Lerei alguns Posts, só os Posts, o resto, com as exceções de sempre, já é previsível.

    Não deixa de ser o melhor blog pelas notícias listadas e por alguns raros iniciadores de Posts. Porém, há os comentaristas que xingam, ofendem, usam vocabulários de rancor, rotulam de direita (como se equivocam), me desejam morte (como fez um outro), e ainda são aplaudidos a julgar pelas 5 estrelinhas de apoio que recebeu

    (infelizmente o blog se omite quanto a uma melhoria, e quanto não apenas reclamações que repeti e repeti, mas não surtiram efeito, nem resposta nenhuma, me refiro também quanto a proposta de uma regulamentação no blog, uma regulamentação, não uma censura, assim como uma Lei dos Meios não deve ser uma censura. Pelos exemplos dados, e por outros que vi ao trocarem insultos, é bobeira acreditar que haja um vago “bom senso” ou um click de denúncia). Mas a equipe, seu dono e a turma se omitem, talvez por acharem que está o blog indo bem – melhor ainda como gente como eu – satisfeitos por o blog já ter tido a saída de bons comentaristas, satisfazendo-se com os mesmos, cuja qualidade o blog merece, reciprocamente. E não importam as estrelinhas de reciprocidade, de grupo). “Até amanhã, minhas flores”

  12. Nunca assisti

    Nunca assisti programa apresentado pelo William Waak na Globonews. Apesar de já ter lido comentários do Nassif elogiando o Waak e a Cristiane Pelajo, apresentadores do Jornal da Globo, o que vejo é os dois até torcerem o nariz para quaisquer iniciativas dos governos petistas, além de servirem de “escada” para os “brilhantes” comentários econômicos do Sardenberg.

  13. A explicação da súbita

    A explicação da súbita  docilidade da GLOBO e seus serviçais , está  na menção  à “Ilha da Globo”,feita por Paulo  Roberto Costa,ex diretor  da Petrobras, que intermediou negociações  à frente  de sua empresa de consultoria, da referida ilha,durante seu depoimento perante à CPI.

  14. Coragem

    Vejam a que ponto chegou o exercício da liberdade de expressão no país.

    Um intelectual do iFHC portanto, de oposição ao atual governo, tímidamente contraria a linha de reflexão que o entrevistador da mais poderosa rede de mídia do país pretende dar ao tema em discussão no seu programa e, então, passa a ser classificado como detentor de uma coragem épica.

    E os outros dois debatedores no caso, muito justamente, pois seguem caninamente o pensamento do entrevistador, passam a ser caracterizados como vira-latas.

    É difícil acreditar que depois de 21 anos de ditadura civil-militar e da realização de uma Assembléia Nacional Constituinte, intelectuais, professores, sociólogos, cientistas políticos, engenheiros, médicos, economistas sindicalistas, políticos, etc, ainda se deixem intimidar por jornalistas que mal entendem o que estão perguntando e mal entendem sobre as respostas dadas. 

    São nesses momentos que se percebe o prejuízo que a Ditadura causou ao desenvolvimento de idéias no país. A Ditadura gerou um país de medrosos que se intimidam com a ousadia de retardados herdeiros do regime militar.

    E não é só na relação com a imprensa oligárquica que essa cultura se impõe.

    Enquanto essa cultura de intimidação se mantiver intacta, o país vai permanecer uma república de bananas..

     

     

    1. Bravo!

      Bravo! Não estranhe se não ganhar nenhuma estrelinha. “São nesses momentos que se percebe o prejuízo que a Ditadura causou ao desenvolvimento de idéias no país. A Ditadura gerou um país de medrosos que se intimidam com a ousadia de retardados herdeiros do regime militar.

      E não é só na relação com a imprensa oligárquica que essa cultura se impõe”.

  15. O PT ( ou determinada ala

    O PT ( ou determinada ala dele) pode acabar tendo uma surpresa ao pensa em criar algo pra fazer valer determinados pontos de “polìtca social” que considera que o congresso atrapalha.   De repente acaba vendo que não é congresso,mas,parte da sociadade que atrapalha e que ele tem insistido em desconsider taxando-a de “conservadora e atrasada…  Isso vai mostrar que há é uma luta intestinal dentro da sociedade e não no congresso,que só a expressa,mais ainda,há uma força intestinal dentro do PT,expressa no “volta Lula”.  Coisa que um vai matar o outro,vai prevalecer a parte do PT menos “social”,mas,mais pé no chão e mais lúcida,pouco importa que acabe por fazer um racha na base social do partido.  Pelo menos depois da reeleoção da Dilma se terá mais tempo para lidar com a parte que ficará no PT,não por interesse financeiro e nem por ele ser neocom…. Os que ficarem, ficaiarão por algo que o PT tinha antes de chegar ao poder: Ideologia.  Só que agora com menos frescura novidadeiras e mais certeza de onde se quer chegar,além de manter-se no poder.   E isso,pode ser que esses “conselhos sociais” da Dilma expresse melhor ( isso se eles sairem…),pois,já estou vendo que os tais estão prontinhos para serem usados por minorias na sua luta por conduzir maiorias…  Mas,como aconteceu com o assassianto por índios aqui no RS,pode se ver que não vai ser na conversa mole que vão levarem a maioria d roldão.   Afinal em tudo haverá “ação e reação” e se as mionorias redicalizarem…  Elas nunca se esqueçam que são minoria e em caso de luta física a maioria se imporá,caso eles queiram radicalizar,não vão vencerem nunca.

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