A disputa da presidência da Câmara dos Deputados e a possibilidade de impor a primeira derrota ao bolsonarismo, por Daniel Samam

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
[email protected]

A disputa da presidência da Câmara dos Deputados e a possibilidade de impor a primeira derrota ao bolsonarismo

por Daniel Samam

O acordo de Rodrigo Maia (DEM-RJ) com o partido de Bolsonaro, o Partido Social Liberal (PSL), não passa de uma aliança formal do DEM com o governo Bolsonaro. Se eleito, Maia entregará as duas principais Comissões da Câmara, a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) e a de Finanças e Tributação. Com isso, na prática, o Governo controlará a Câmara. Cenário pior, não há.

Pelo campo democrático, o PSOL se antecipou e lançou Marcelo Freixo à Presidência da Câmara dos Deputados em nome da unidade do campo popular. Freixo é um ótimo quadro, dos melhores, mas o momento exige ampliação para se construir uma oposição progressista e democrática. Infelizmente, o momento não está propício para quadros do PSOL, PT e PCdoB assumirem tal desafio por razões óbvias. Diante disso, a oposição precisa dialogar, se organizar, se entender.

Não se trata aqui de escolher o melhor em competência, representatividade ou carisma. Trata-se de pragmatismo. Temos que parar com essas disputas por protagonismo, de um partido indicar um nome para marcar posição. É legítimo, é verdade, mas pode atrapalhar também. Parece que não aprendemos com o ocorrido em 2015, como o bate-cabeça do campo popular, com o PT, PSOL e PSB lançando candidatos próprios e facilitando a eleição de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à presidência da Câmara. O processo que desencadeou depois disso, todos lembram, não é?

O campo democrático-popular, a centro-esquerda, se quiser impor a primeira derrota ao bolsonarismo, precisará mais do que os 136 votos (PT, PSOL, PDT, PSB e PCdoB) que dispõe hoje, mas de um candidato que consiga dialogar e transitar com a centro-direita republicana que não aderiu ao bolsonarismo. Ou seja, com setores do PSDB, do PPS, com o PV e boa parte do MDB. Nesse quesito, o que não falta é nome com alta capacidade de trânsito e diálogo para se colocar à disposição de tal desafio: Molon (PSB-RJ), Orlando Silva (PCdoB-SP) e, em especial, a combativa deputada Lidice da Mata (PSB-BA), que seria um ótimo nome da oposição para governar a Câmara.

Também não podemos excluir a possibilidade de se apoiar um nome da centro-direita, desde que seja minimamente comprometido com valores republicanos e democráticos que o afastam do bolsonarismo. Pra isso, também precisaremos dos nossos parlamentares mais qualificados e capacitados para construir pontes de diálogo e consensos. Para que se possa ter uma ampla coalizão democrática, os atores precisam deixar suas armas do lado de fora e sentar na mesa para conversar, com um único pré-requisito: a defesa da democracia nos marcos da Constituição cidadã de 1988.

O esforço da oposição democrática deve ser no sentido de fazer com que o Congresso não se alinhe ao bolsonarismo. Maia tem hoje como certos os votos dos parlamentares do PSL, PRB e do próprio DEM, que são insuficientes para elegê-lo. Derrotar Maia na eleição da Câmara dos Deputados significa impor a primeira derrota ao bolsonarismo.

 
Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

8 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. É flórida ter que admitir

    É flórida ter que admitir isso e participar dessa merda, mas talvez o articulista tenha razão! Molon, Lídice… só não dá para embarcar nessa de centro direita, são GOLPISTAS e não vão deixar de ser, votar neles é cair em mais uma armadilha, eu acho!

     

  2. É flórida ter que admitir

    É flórida ter que admitir isso e participar dessa merda, mas talvez o articulista tenha razão! Molon, Lídice… só não dá para embarcar nessa de centro direita, são GOLPISTAS e não vão deixar de ser, votar neles é cair em mais uma armadilha, eu acho!

     

  3. a presidência da câmara dos deputados

    Curto e grosso. Não é assim que se começa uma negociação, com seiscentos mil capetas! Nunca se começa pelos nomes! A questão é determinar, de saída, os temas e os termos de uma aliança entre partidos políticos com representação na Câmara dos Deputados Federais. Depois disto é que se analisam os nomes. Nada mais! 

     

  4. Fator Norte/Nordeste

    Talkei…massss como ficam os votos do Norte/Nordeste desprezados até a medula pelo “coiso”?   São quantos votos? Farão falta na hora de abrir as cumbucas ? 

  5. Sonhar não custa… Ou será que sim?

    Olha, não sou vidente nem futurólogo, mas me parece que essa vontade de que Bolsonaro sofra uma derrota seja mais uma pataquada esquerdista.

    (Não vai ter golpe, Lula não vai ser preso, Haddad ganhará em 1º turno).

    Quem compõe (e controla) o congresso nacional é a burguesia brasileira e seus acólitos. Se não houver um candidato conservador para se contrapor a Rodrigo Maia, não leva.

    O PSOL, desculpe lhe dizer, é absolutamente insignificante. Não no plano político geral, mas no congresso nacional.

    A esquerda deveria despertar dessa hipnose de achar que uma foça celestial vai interceder por nós e nos lançar no rumo do socialismo e cair na real: vivemos num país sinistro, comandado por uma burguesia capitalista sem dó nem piedade de nós. Inclusive a esquerda enfrenta uma ameaça existencial.

    A luta é de verdade. Gente vai morrer de verdade. E Marcelo Freixo não é ninguém na câmara.

  6. centr

    Centro-Direita, nem um engana-bobo consegue ser mais. Assim como a falecida Terceira Via.

    Nada mais que eufemismos para uma direitona covarde e dissimulada.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador