A disputa pela liderança do governo na Câmara

Do Valor

Insatisfação leva PT da Câmara trabalhar contra Vaccarezza

Paulo de Tarso Lyra | De Brasília
24/01/2011

A disputa por espaço político e cargos na máquina pública está provocando uma guerra interna na bancada do PT na Câmara. Parlamentares insatisfeitos com o distanciamento do núcleo decisório do governo Dilma Rousseff que trabalharam para a escolha da candidatura de Marco Maia (PT-RS) à presidência da Câmara, agora buscam minar o apoio do Palácio do Planalto ao atual líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), e reclamam que o atual presidente do PT, José Eduardo Dutra (SE), é fraco para administrar os conflitos internos da legenda.

Segundo apurou o Valor, os principais personagens dessa insatisfação são os deputados Arlindo Chinaglia (SP), Ricardo Berzoini (SP) e Odair Cunha (PT-MG). Eles buscam o apoio de outros petistas com menos poder no partido para verbalizar suas queixas e pressionam o atual líder da bancada, Paulo Teixeira (SP). Mesmo tendo sido escolhido por unanimidade, Teixeira está recebendo cobranças do grupo que, agora, estaria lhe “cobrando a fatura”.

AsinAs insatisfações e desejos do grupo são distintas. Chinaglia teve ascensão meteórica no PT no período 2004-2008. Foi líder da bancada na Câmara, líder do governo na Casa e presidente da Câmara, num acordo político fechado com o PMDB. Depois, não conseguiu mais obter novos cargos de destaque. Seu nome foi cogitado para os ministérios da Saúde, da Previdência e da coordenação política, mas ficou nisso.

Durante a transição, Chinaglia voltou a sonhar em suceder o então ministro da Saúde, José Gomes Temporão, mas a presidente Dilma Rousseff optou por outro petista: Alexandre Padilha, que jamais concorreu a um cargo eletivo, mas tem trânsito na burocracia partidária. Chinaglia tentou, então, apresentar-se como candidato do PT à presidência da Câmara, mas acabou retirando sua candidatura para apoiar Maia.

Berzoini acumula mágoas do partido e do governo Dilma. Ministro da Previdência e do Trabalho no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, assumiu a presidência do PT em dois momentos – o primeiro, durante o escândalo do mensalão; depois, no período que consolidou a pré-candidatura de Dilma Rousseff à Presidência, sendo sucedido pelo atual comandante petista, José Eduardo Dutra (SE).

Deputado originário do sindicalismo bancário em São Paulo, Berzoini perdeu, no entanto, postos-chaves no governo, principalmente no Banco do Brasil e na Previ, o fundo de pensão dos funcionários do BB. Além disso, segundo fontes petistas, não conseguiu emplacar Carlos Eduardo Gabas como ministro da Previdência e queixou-se de que Dutra não o convida para debater os rumos do partido. Como Dutra também não conseguiu assumir uma cadeira no Senado – ele é suplente de Antônio Carlos Valadares (PSB-SE) -, Berzoini e seus aliados disseminam a tese de que o sergipano é fraco e tímido em excesso para ocupar o cargo. “Ele [Dutra] está acuado”, reconhece um aliado do presidente do PT.

Odair Cunha (PT-MG) ocupa a terceira-secretaria na Mesa Diretora da Câmara, mas seu maior receio é perder a diretoria de Gestão Corporativa de Furnas, ocupada por Luís Fernando Paroli Santos, indicado por ele. Um petista contou ao Valor que cargos dessa importância geralmente são apoiados pela bancada ou pelo partido, jamais individualmente. A questão foi descoberta recentemente, quando parlamentares petistas reclamaram às lideranças que Paroli não atende os deputados, respondendo apenas a Odair Cunha.

O atual líder da bancada, Paulo Teixeira (SP), estaria sendo pressionado pelo grupo descontente a estimular a disputa interna. Mas ele próprio também almeja espaços privilegiados no governo Dilma. Conseguiu emplacar Paula Maria Mota Lima como chefe de gabinete da Secretaria de Patrimônio da União (SPU). Paula trabalhou com Teixeira na Secretaria de Habitação de São Paulo.

Nos últimos dias, a pressão dos insatisfeitos intensificou-se contra o atual líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza. Derrotado na disputa da escolha do candidato do PT à presidência da Câmara, ele começou a ver sua vaga de líder do governo na Casa ameaçada. Mas a presidente Dilma tem dito a pessoas próximas que não pretende tirá-lo do cargo. Vaccarezza é visto como um líder “corajoso”, que se expôs na defesa dos interesse do Planalto em matérias difíceis como o reajuste dos aposentados e a equiparação salarial de bombeiros e policiais militares aos vencimentos recebidos pela categoria no Distrito Federal.

Embora compreenda que os primeiros meses de gestão do governo são, em geral, o momento dos embates políticos e de busca de espaços, o Palácio do Planalto acompanha o caso com preocupação e cautela. Não interessa ao governo que o PT se torne incontrolável neste início de mandato da presidente Dilma. Como disse um integrante da direção partidária, chega a ser “estranho um partido ter vencido as eleições, levado a primeira mulher à Presidência da República após oito anos de sucesso de Lula e enroscar-se numa disputa violenta interna”.

Na cúpula do governo, a intermediação da crise está sendo feita pelo chefe da Casa Civil, ministro Antonio Palocci, e pelo ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio. Embora seja visto como “inoperante” pelo grupo de petistas insatisfeitos, Dutra é bastante prestigiado por Dilma, tendo almoçado com a presidente pelo menos duas vezes nas últimas três semanas, em encontros fora da agenda oficial. A presidente conta com os três para amainar a pressão na bancada petista.

Procurados pelo Valor, Chinaglia, Berzoini e Paulo Teixeira asseguraram que o apoio dado à candidatura de Marco Maia para a presidência da Câmara não tem nenhuma relação com desavenças com o governo. “Ao retirar minha candidatura para apoiar Maia, consultei diversas tendências internas do partido que mostraram que Vaccarezza não teria votos para vencer em um eventual segundo turno, já que a eleição interna não se resolveria em uma primeira votação”, explicou Chinaglia.

O ex-presidente da Câmara recorreu à psicologia ao sustentar que é uma “projeção, prática pela qual o indivíduo projeta em outrem aquilo que pretende ele próprio fazer”, as informações de que ele estaria promovendo uma disputa interna em busca de mais espaço político ou cargos no primeiro escalão. Berzoini respondeu que, ainda durante a disputa pela presidência da Câmara, sempre deixou claro que “as decisões eram pontuais”. E Teixeira afirmou que sua principal missão é “unir a bancada, não tensionar as relações”. 

Luis Nassif

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