A entrevista do pai de Assange

Por MiriamL

Do UOL

“Julian não era Dom Quixote”, diz pai de Assange, fundador do WikiLeaks

EL PAÍS

Joseba Elola

Julian Assange deixa a corte britânica nesta quarta-feira, em Londres, após dois dias de audiências
Julian Assange deixa a corte britânica nesta quarta-feira, em Londres, após dois dias de audiências

Dois dias de julgamento em máxima discrição, tentando passar despercebido. Dois dias sentado nas bancadas traseiras da Corte número 4 do Tribunal Superior de Londres, no lugar oposto àquele onde se encontravam seu filho e seus mais estreitos colaboradores. O homem de cabelo branco e olhar limpo, um senhor alto e robusto, de calça jeans e camisa pretas, sentado no extremo da quinta fileira da bancada direita, era o pai de Assange. É o pai de Assange. O homem que não concedeu uma única entrevista para falar de seu filho. “Mantive a boca fechada para não prejudicá-lo.” Esta é a primeira vez que concede uma. “E provavelmente a última”, diz, sentado em um terraço no centro de Londres.

Julian Assange conheceu seu pai aos 25 anos.

Assim começa a história: John e Christine se conheceram em uma loja de antiguidades. Ele ia para uma manifestação contra a guerra do Vietnã e ela o acompanhou. Apaixonaram-se. Tiveram um filho, que chamaram de Julian.

Quando o menino tinha 1 ano, John e Christine se separaram. Brett Assange, novo marido de Christine, produtor de teatro, fez as vezes de pai.

Passaram 24 anos. Um dia o telefone tocou na casa de John. Era Christine. Dizia-lhe que iria passar por Sydney, e seria uma boa ideia que John conhecesse seu filho.

Foi então, em 1996, que John e Julian se conheceram. “Foi extraordinário. Por certos processos de pensamento, foi como se olhar em um espelho, eu não podia acreditar. A mesma lógica, a mesma intensa curiosidade, a mesma forma obtusa de construir as frases, frases que nunca acabam.”

Sim, ótimo. Mas neste último aspecto o filho ganha do pai. O das frases intermináveis.

“Nesses dias parecia que Julian amava lutar contra moinhos. Mas acontece que não, demonstrou que não era o homem de La Mancha, que não era Dom Quixote. Quando alguém lhe diz que quer pôr o mundo de pernas para o ar, você diz: “Está bem, experimente. Mas não é tão fácil por o mundo de pernas para o ar!” Pois é.

Aos 66 anos, Shipton é um homem que transmite paz. Sua voz é suave e seu falar, pausado. Diz que nunca se estressa e que seu filho herdou essa qualidade dele. “Sempre está concentrado em resolver o problema seguinte.”

Esse homem de modos educados, arquiteto, devoto de Gaudí, assistiu esta semana pela primeira vez a um julgamento de seu filho. “Estava muito preocupado com o que poderia lhe acontecer.” Considera que Julian é vítima de uma armadilha. Que os telegramas que publicou sobre as conversas de políticos suecos sobre as leis de propriedade intelectual na Embaixada americana, pouco antes de ser detido, lhe conquistaram muitos inimigos no país escandinavo. “Creio que tudo foi organizado. Mas não quero ferir ninguém”, diz, referindo-se às denunciantes. “As agências de inteligência se envolveram nisso desde o primeiro momento.”

O WikiLeaks denunciou ontem diante da Comissão Europeia a Mastercard e a Visa por violação das leis de livre concorrência do Tratado da União Europeia – as duas empresas fecharam o caminho para as doações ao WikiLeaks em dezembro. “Tudo correspondeu a um ato político dos EUA”, explica Shipton. “Não há separação entre os governos e a indústria financeira.” Ele diz isso devagar, com calma, suavemente, mas diz.

Com a mesma suavidade conta que seu filho sempre foi um lutador, como a mãe. “É um grande dissidente polido pelos novos tempos, nos quais a ação direta está na Internet.” Envolve-o na tradição dos Che Guevara, Che Guevara, Buñuel, Apollinaire ou Simón Bolívar: “Há muita gente inteligente no mundo, mas a maioria parece ser má, enquanto Julian parece ter coragem moral e engenhosidade para levar a cabo sua visão. Parece ter um imenso desejo de justiça para este mundo”.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/elpais/2011/07/16/julian-nao-era-…

Luis Nassif

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