A “entrevista do século” de Trump oferece mais do mesmo

Dolores Guerra
Dolores Guerra é formada em Letras pela USP, foi professora de idiomas e tradutora-intérprete entre Brasil e México por 10 anos, e atualmente transita de carreira, estudando Jornalismo em São Paulo. Colabora com veículos especializados em geopolítica, e é estagiária do Jornal GGN desde março de 2014.
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A conversa realizada com Elon Musk foi marcadas por atrasos e falta de novidades, frustrando até os veículos alinhados.
Foto: Reprodução. Twitter.

Anunciada pela campanha de Donald Trump como “a entrevista do século”, a conversa realizada entre o candidato à cadeira presidencial estadunidense e o bilionário Elon Musk não trouxe novidades, frustrando até mesmo os meios de comunicação alinhados. No Brasil, meios como O Antagonista apontaram a ausência de conteúdos novos e a participação fraca de Musk, que permitiu uma entrevista “chapa-branca”.

“Será a entrevista do século! Faça América grandiosa novamente!” diz a mensagem da campanha de Donald Trump

A entrevista de duração de 2 horas, sofreu um atraso de 40 minutos devido a supostos ataques cibernéticos, segundo a alegação de Musk. “Parece que está havendo um ataque DDOS em massa contra o X. Estamos trabalhando para acabar com ele”, postou o proprietário do X (antigo Twitter), sem apresentar evidências. Superados os problemas técnicos, o evento realizado na rede social pertencente ao empresário sul-africano reuniu simultaneamente mais de 1 milhão de ouvintes.

Trump, que recentemente foi autorizado a regressar à plataforma de Musk, discorreu livremente por temas como a tentativa de assassinato sofrida por ele, imigração, economia, mudanças climáticas e energia sustentável, política internacional, principalmente em relação à União Europeia, Otan e a Ucrânia, polarização política, segurança pública e projetos para o futuro, além de tentar se diferenciar de sua opositora, a candidata do partido democrata, Kamala Harris. 

“Fala-se muito sobre o aquecimento global e as mudanças climáticas, mas não se fala sobre o ‘aquecimento nuclear’, o que para mim é um problema imediato”, declarou o ex-mandatário ao tentar ponderar que algumas regiões do globo podem estar sofrendo com mudanças climáticas, mas que os combustíveis fósseis não deveriam ser vilanizados. Trump também destacou a existência de cinco países com desenvolvimento nuclear, o que exigiria uma figura presidencial forte, algo que nem Joe Biden, nem Kamala Harris poderiam ser. 

Para Trump, Joe Biden foi “o pior presidente” e que se ele estivesse em seu lugar, não estaríamos vivendo a guerra entre Rússia e Ucrânia ou a agressão israelense à Gaza. 

Quanto à pauta político-econômica, Trump criticou a administração atual, mencionando a “destruição da Califórnia”, afirmando que por essa quebra empresários como Musk haviam se mudado de estado. Também elogiou o atual presidente argentino, Javier Milei, em suas medidas para controlar a inflação comparando o programa do presidente sul-americano com seu próprio (‘Make America Great Again’, ‘Faça a América Grandiosa de novo” em inglês). 

Além disso, o ex-presidente acusou Kamala Harris de não querer dar continuação ao muro fronteiriço com o México como forma de frear a imigração irregular. “Se tivermos ela como presidente ou um democrata, não acho que vamos sobreviver”, concluiu.

Ambos criticaram a forma como a mídia hegemônica está representando Harris como uma moderada, mencionando a capa da revista Time que trouxe um desenho bem trabalhado da candidata, enquanto mostrava a imagem de Trump derretendo e outra edição. 

“Tão óbvio”, diz a mensagem de Elon Musk ao compartilhar as duas capas da revista Time

Por outro lado, a campanha de Kamala Harris acusou Trump de se utilizar do espaço ofertado por Musk para espalhar uma agenda de ódio. “Atuei como senadora dos EUA, procuradora-geral e promotora de Justiça no Tribunal. Nesses papéis, enfrentei predadores que abusavam de mulheres, fraudulentos que enganavam os consumidores e golpistas que quebravam as regras. Eu conheço o tipo de Donald Trump”, respondeu Harris em sua conta do X (antigo Twitter).

Segundo checagem realizada pela CNN internacional, Trump mentiu ao menos 20 vezes durante a entrevista com Musk.

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