A escalada da guerra civil na Ucrania e a perda de prestígio norte-americano

A cada dia que passa se agrava o conflito na Ucrania. Esta semana nazistas ucranianos incendiaram um prédio matando dezenas de pessoas que os combatiam em Odessa. Os que não foram queimados vivos acabaram sendo abatidos a tiros ao tentar sair do prédio. As fotos do episódio inundaram o Facebook para desespero das autoridades norte-americanas que apóiam direta ou indiretamente os nazistas ucranianos.

 

Tenho visto gente surpresa ao ver os EUA apoiando nazistas. Conheço suficientemente a história para ficar surpreso. Os empresários norte-americanos que atuavam ou queriam atuar na Alemanha apoiaram os nazistas nos anos 1930. Alguns investiram pesadamente na Alemanha no princípio do III Reich. É bem conhecida e documentada a admiração mutua que os anti-semitas Adolf Hitler e Henry Ford nutriam um pelo outro. Eles chegaram a ser fotografados juntos nos anos 1930 http://www.everseradio.com/wp-content/uploads/2012/05/hitler-and-fordaeb.jpg .

 

A guerra na Europa já estava praticamente decidida quando os EUA invadiram a França. Os dois anos que os exércitos norte-americanos estacionados na Inglaterra levaram para atravessar o Canal da Mancha causaram vários atritos entre a URSS e os EUA. Os russos tinham boas razões para suspeitar que seus aliados faziam jogo duplo, aguardando uma eventual derrota do Exército Vermelho para fazer as pazes com o Wehtmacht. Os combates entre norte-americanos e alemães na França e na Itália foram pequenos e civilizados se levarmos em conta a selvageria e a amplitude das batalhas que marcaram a Operação Barbarossa e a subsequente Ofensiva Bielorussa http://pt.wikipedia.org/wiki/Frente_Oriental_(Segunda_Guerra_Mundial) .

 

A tragédia da II Guerra Mundial foi criada em grande medida criada pelos empresários norte-americanos que apoiaram financeiramente o partido nazista enquanto Hitler abria caminho até chegar ao poder absoluto. A tragédia está se repetindo como farsa neste momento, mas desta vez é o governo dos EUA que está apoiando os nazistas ucranianos para incomodar a Rússia ou obrigar Putin a iniciar uma guerra que os russos não desejam.

 

O problema é que ao repetir o mesmo padrão (apoiar nazistas contra russos) em épocas absolutamente distintas os EUA demonstram muita falta de imaginação. A opinião pública européia está hoje muito mais dividida do que jamais esteve durante a II Guerra Mundial. A Rússia não representa um perigo iminente como a antiga URSS. Os EUA, por outro lado, não gozam do mesmo prestígio que tinham ao final da II Guerra Mundial. Milhões de europeus desempregados culpam, com toda razão, a crise neoliberal que começou nos EUA pelo fato de não terem trabalho, renda ou benefícios estatais.

 

A farsa nazista na Ucrania, por outro lado, não tem o mesmo potencial que o nazismo alemão tinha nos anos 1930. Dela não surgirá um IV Reich ucraniano destinado a devastar as estepes russas até destruir completamente Moscou. O mais provável é que uma guerra civil sangrenta e inconclusiva ocorra na Ucrania até que a Alemanha, candidata provável a ter sérios prejuízos por falta de abastecimento de gás e petróleo russo, perca a paciência e se aproxime mais da Rússia para por fim ao conflito.

 

O que está em jogo na Ucrania não é a hegemonia planetária dos EUA. Primeiro porque esta hegemonia é bastante discutível neste momento em que a China emerge como maior potência econômica e a Rússia conserva seu status de super potência militar. A guerra civil ucraniana servirá, muito mais provavelmente, como um teste para a capacidade da Alemanha de conservar e projetar seu poder econômico e diplomático (eventualmente militar) dentro da própria Europa. A aliança firmada entre alemães e norte-americanos ao fim da II Guerra Mundial pode dar lugar a um outro arranjo que atribua mais prestígio na Alemanha (e por via de consequencia na Europa) para a Rússia, país que vende energia aos alemães e compra produtos “made in Germany”.

 

A Europa unida está em risco? Como França e Espanha reagirão à uma aproximação maior entre Alemanha e Rússia? Estas perguntas parecem pertinentes, mas são de fato irrelevantes. A desunião européia não será provocada pela guerra civil na Ucrania ou pela eventual aproximação entre os ex-inimigos mortais da II Guerra Mundial. O que abala a União Européia neste momento é a crise neoliberal iniciada nos EUA e que se propagou dentro da Europa porque os próprios europeus seguiram o modelo de desregulação bancária norte-americana. O Euro, moeda forte cria desvantagens para os países que estão em pior situação no bloco (Grécia, Portugal, Itália, Espanha e França), também pode estar ou ser colocado no centro do problema.

 

A Inglaterra, que não aderiu ao Euro e que continua a orientar sua diplomacia procurando minar o poder e o prestígio de seus principais parceiros/adversários continentais (Alemanha, França e Rússia, não necessariamente nesta ordem) certamente seguirá dando apoio aos nazistas ucranianos. Uma grande crise européia fará os ingleses se sentirem felizes e satisfeitos em sua ilha chuvosa, mesmo que eles não tenham emprego ou renda. A família real inglesa precisa desesperadamente desviar a atenção dos ingleses de seus próprios problemas e tem seculos de “know-how” em fazer isto.

 

Para desespero dos EUA, a China tem apoiado a Rússia na questão ucraniana assim como os russos apoiaram os chineses na questão do Tibete. Portanto, um envolvimento militar direto norte-americano na guerra civil ucraniana ou na Crimeia não vai ocorrer. A Rússia não pode ser invadida com um punhado de soldados como Granada, nem  pode ser facilmente derrotada sem danos ao território dos EUA como o Iraque.

O prestígio dos EUA não está em jogo na Ucrania. De fato, me parece evidente que os norte-americanos perderão prestígio por causa do conflito que alimentaram nas proximidades da Rússia para causar prejuízos à Alemanha. Quanto prestígio prestígio a Casa Branca está disposta a perder na Europa? Esta meus caros é a verdadeira pergunta neste momento.

Fábio de Oliveira Ribeiro

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