Eu posso te dar uma abraço meu querido? Foi o que eu perguntei a um garoto de 09 anos aluno de uma das escolas em que fui diretor quando ele, espontaneamente, me disse: “diretor, quando eu crescer e ir para a prisão vai ser muito bom, minha mãe irá me visitar todos os domingos e me levará um monte de coisas boas: bolachas recheadas, doces, chocolates, lasanha e eu vou poder comer tudo sozinho. Sabe diretor, eu tenho muita saudade do meu pai, eu queria ir visita-lo na prisão, mas me disseram que não posso. Tudo o que eu queria era dar um abraço nele.”
Ouvir isso de uma criança de 08 anos doeu muito. O sonho de futuro, na inocência daquela criança, seria a prisão para que ele recebesse da mãe aos domingos uma cesta de comida e algumas iguarias.
Mesmo sendo educador há tantos fiquei emocionado, o que consegui fazer naquele momento, minha reação inicial, foi somente o abraço. Ficamos ali abraçados por um bom tempo sem dizer uma palavra. Fiquei com o meu rosto afastado da visão dele, não queria que ele percebesse que meus olhos tinham ficado repentinamente úmidos.
Ele me contou, ao seu modo, que o pai estava preso e que a mãe vendia doces pelas ruas para sustentar três filhos. Depois, descobri que ele morava com a mãe e os dois irmãos num barraco improvisado.
Aos domingos, ela ia visitar o marido na penitenciaria numa cidade próxima e fazia todo o sacrifício para preparar uma cesta ao marido presidiário. Evidentemente que a mãe não privava as crianças dessas iguarias, mas era tudo muito regrado. Ele imaginava que se fosse preso poderia comer a vontade.
A gente fica sem entender, não faz sentido tanta miséria. Não é exceção, não é casualidade, não é coincidência. Existe um padrão. A vítima, geralmente, é negra, é da escola pública, é da periferia, é pobre. Mas, a felicidade de uma criança é essencialmente pobre, ela só necessita basicamente de carinho, de um abraço, de amor, de algumas iguarias, de um prato de arroz com feijão e um bife bem passado.
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