A força dos belos gestos na construção de um país, por Luis Nassif

Boteco em Poços de Caldas, melhor costela da cidade. Na mesa perto da saída quatro rapazes, tipo motoqueiros, de barba e camiseta expondo os músculos. Passa uma menina por eles e o gracejo é inevitável. Minutos depois um rapazinho, com seus 16, 17 anos, de óculos, magro, sem nenhum biotipo de atleta, chega na mesa com os braços esticados e a mãos fechadas.

  • Vocês falaram da minha namorada. Ela tem namorado.

Imediatamente, dois valentões do grupo se levantaram para brigar, sendo contidos com esforço pelos garçons. Calmo, o líder do grupo se levantou, abraçou o rapaz e lhe disse:

  • Você ia brigar pela mulher da sua vida. Você é uma grande pessoa.

E, para ela:

  • Ele é o homem da sua vida. Não o perca de vista,

Imediatamente, as bestas feras se acalmaram. Se entreolharam surpresas até cair a ficha e se curvaram à liderança e ao discernimento do motoqueiro mor. E o jovem herói saiu abraçado com seu amor.

O discernimento do motoqueiro mor, sua sensibilidade para entender a grandeza do gesto do jovem namorado, ensinaram aos seus companheiros regras sociais, civilizatórias.

Ao mesmo tempo, vem a realidade chocante da carência absoluta de belos gestos na vida nacional. Os exemplos da nova geração são os Temer, Cunha, Barroso, Fachin, os Moros e Dallagnols, homens públicos sem um pingo de responsabilidade pública,  nessa quadra terrível da vida nacional.

Minha geração pelo menos teve Sobral, Brossard, Mangabeira, Evandro, Covas. E as novas?

Luis Nassif

13 Comentários

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  1. As novas… bem tem o… 03; 02; 01; 00 (eles não tem nome); queiroz; wajngarten; fux; barroso; carminha; damares goiabeira; ffhhcc; serrote; picolé de xuxu; aecin; bozodoria; witzelllll; galheleno; morinho; deltanzinho; temerário; e a lista vai longe de mal caráter e escrotos.

  2. Os de hoje apoiam queimar livros de Machado de Assis, Eça de Queiroz, enfim, são avessos ao conhecimento e por isso adotaram a ignorancia como politica de estado

  3. Não concordo que haja carência absoluta de belos gestos atualmente. O que há é a valorização pelo sistema de notórios maus caracteres e criminalização de outros tantos bons, como Lula e Dilma, por exemplo. E isso tudo tendo como escudo uma falsa moral e amplo uso de pós-verdades.

  4. Querido Nassif
    Seu coração me toca a cada dia que o leio, e o faz de maneira especial. Ele se expressa no desejo do melhor, na busca da honestidade, do foco no que de melhor se pode achar na alma humana, sem nunca deixar de denunciar quando aqueles que poderiam ser e expor a melhor versão de si mesmos optam por se amesquinhar. Obrigado por este textos e pela enorme maioria de seus textos e por não desistir de insistir que nós e este país podemos também exibir a melhor versão de nós.

  5. A sua geração não apenas teve os exemplos citados acima por você, mas teve um tempo histórico de existência em que a civilidade e o respeito ainda eram valores sociais comuns. O que existe hoje é a completa falência moral da sociedade brasileira (civil e política), e quando eu falo de falência moral não estou me expressando em termos religioso ou de moralismo ético, absolutamente. Estou me referindo simplesmente à capacidade e coragem exigidas pela vida comum de olhar objetivamente para as condições, para as circunstâncias de sua existência atual e encontrar respostas dignas, satisfatórias, para a sustentação e para elevação desta mesma vida. Hoje nós padecemos de um extremo subjetivismo cínico e de um individualismo mortífero terríveis, e quando digo hoje me refiro à todo um tempo histórico que vai desde o período da redemocratização e chega ao Brasil atual, que teve o contributo essencial da direita brasileira (da assumidamente reacionária e da pseudo social democrática) e também da ineficiência dos partidos de esquerda. Os governos do PT, que representaram um mínimo intervalo (um curto e imperfeito exílio) na barbárie civilizatória da história política brasileira, também não escaparam à essa falência moral. E da parte deste partido a contribuição maior à tal falência tenha sido talvez o seu afastamento político da massa da população, da existência política dos pobres (paradoxo, não?), mas que foi signo e sinal dos tempos. Quando eu falo do partido quero dizer, especificamente, as lideranças e a cúpula políticas dirigentes , que pareceram assumir para si uma existência absolutamente tecnocrática e satisfeita de ser uma pequena aristocracia sindical (pós vida sindical). É claro que existiram vozes contrárias e resistentes à esse processo de afastamento político do povo, da camada mais pobre da população pelo partido, é claro também que o presidente Lula permaneceu como o elo de ligação entre o partido e está camada mais pobre da população brasileira (ainda que com um caráter político já mais populista do que popular, no sentido mais de manter uma base razoável de votos para o partido do que para despertar uma consciência política mínimas tanto da população pobre do país como do próprio partido), mas o que isso significou politicamente senão, de um lado dispersão e do outro dependência.

  6. nossa geração teve:
    Drummond, Fernando Sabino, Otto Lara Resende, Nelson Rodrigues, Jorge Amado, João Cabral
    Chico, Caetano, Gil, Gal, Tom, Vinícius, João Gilberto
    Ivan Lessa, Millor, Francis, Sergio Augusto, Callado, Nassif,
    Glauber Rocha, Nelson Pereira
    Tostão, Jairzinho, Pelé, Rivelino, Gerson, Tele Santana
    JK, Milton Campos, Ulysses, Brossard, Tancredo (apesar dos pesares)
    e tantos homens públicos, funcionários públicos, cientistas, pesquisadores, mais ou menos anônimos (Parasitas!!!!)
    Vivemos o auge do Brasil e não sabíamos
    Hoje a única vontade é fazer igual ao Ivan Lessa
    Se mandar desse ambiente tóxico e nunca mais por o pé no Bananão.

  7. gente que não tem nomes para reverenciar -como drummond, vina, chico tom, Deus.etc. – não tem como se sustentar….isso é cultura, história, feita tb de ruínas e violência.
    dessa dialética, as saídas…
    aí vem o nietszche e diz que Deus morreu mas Deus mostra quem verdadeiramente morreu…aí o poetA alemãO PODE DIZER qUE dEUS AUSENTOU-SE E ALGUEM ABRE UM SORRISO.
    ou um iconoclasta afirma categorico que é preciso acabaAR COM A PIEGUIUCE DA MUsICA POPuLAR BRAILEIRa, “UM CÂNCER”…. pior é que o cara pode ter razão, mas como já estamos contaminados de beleza, aguentamos o tranco até novas blasfemias iconoclásticas.

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