A Grécia e a crise constitucional da UE

Tenho feito aqui mesmo no GGN algumas reflexões sobre a Grécia e sua crise https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/esquerda-volver-marcham-os-gregos-por-fabio-de-oliveira-ribeiro e http://www.jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/grecia-2015-dc-uma-nova-corcira-427-ac. Volto ao assunto porque há novidades.

Intensamente pressionado pela União Européia, o governo grego capitulou. A austeridade continua. A reação do povo grego já pode ser vista nas ruas https://www.facebook.com/RTvids/videos/1043323199011266/?pnref=story.

A crise grega tem todos os ingredientes de uma crise bem maior. A democracia, fundada na soberania popular, já não é ou não pode ser uma realidade política. O poder avassalador dos Bancos se colocou acima de qualquer controle republicano e é capaz de submeter totalmente a vontade dos Estados. Os territórios continuam tendo fronteiras e povos, mas a existência de organização política não significa nada. A soberania deixou de ser um atributo estatal. Na prática a Grécia já vive sob uma rígida bancocracia transnacional. O governo eleito não governa, o voto popular não tem qualquer valor real. Apenas os interesses dos banqueiros podem se expressar através das políticas públicas daquele país.

Sou advogado e há décadas estudo o Direito Constitucional. Em razão disto, me parece que estamos diante de uma crise de paradigmas. E o resultado dependerá da solução do conflito entre as forças de segurança gregas e a população que não quer aceitar ou não pode aceitar a o golpe de estado bancocrático imposto à Grécia pela UE.

Ao ver as imagens do conflito na Praça Syntagma não fiquei surpreso. Os arquitetos financeiros da UE e o governo grego também não devem ter ficado surpreendidos. A reação da população é previsível e decorre, de certa maneira, da própria reação eleitoral à austeridade imposta ao povo pelo governo anterior.

A esperança é a última que morre! – diz um ditado popular. Na Grécia a esperança morreu primeiro, pois o Mercado não acredita em direitos humanos e não se importa em distribuir infelicidade.

Distante dos fatos e das interpretações deles que tem sido vendidas pela imprensa pró-Mercado, não posso deixar de notar uma tripla injustiça cometida pela UE. A Grécia foi invadida pela Alemanha e não foi compensada. A UE não foi criada para interferir severamente nos países membros e não ousa fazer isto no caso da França, Itália e Espanha. No momento em que a Grécia está passando por grande fragilidade, a UE se recusa a ajudar o país de maneira incondicional.

Pouco antes do fim da II Guerra Mundial, já escondido em seu bunker sob a Chancelaria do Reich, Adolf Hitler decretou a “terra devastada”, política que preconizava a destruição de toda a infra-estrutura que ainda existisse na Alemanha. O encarregado de implementar esta diretriz foi Albert Speer, mas ele sabotou a ordem do seu líder apesar de ter sido fiel ao nazismo antes da guerra e durante a mesma.

Os banqueiros e as autoridades da UE submetem os gregos à uma política financeira de “terra arrasada”. A única solução para o conflito entre a democracia grega e a bancocracia internacional que governa o país é uma guerra civil, uma guerra externa ou ambas, que também resultarão em… “terra arrasada”. Curiosamente, não há um só europeu capaz de seguir o exemplo de Albert Speer. O bem estar mínimo do povo grego não tem qualquer significado ou representação. A submissão deles à “terra arrasada” é um imperativo categórico, uma verdade impossível de ser questionada.

A crise grega tende a piorar. Afinal, é impossível fazer uma escolha racional entre duas opções igualmente aterradoras. Neste caso, é bem provável que o ódio supere a razão. Aqueles que se sentem abandonados e/ou traídos ou se vêm acuados geralmente decidem vender caro a própria destruição. As imagens da Praça Syntagma são apenas o começo do fim da UE? Esta, meus caros, é a verdadeira pergunta.

Nas livrarias européias, norte-americanas e brasileiras proliferam obras que pretendem revelar os segredos da economia, administração de empresas, mercado financeiro, etc… utilizando como pano de fundo a obra de Sun Tzu. O neoliberalismo nega a validade conceitual da “guerra de classes” forjada por Karl Marx, mas na sua estrutura mais profunda admite a mesma ao tratar a criação e concentração de riqueza como uma dimensão da “arte da guerra”.

Economia é guerra e os generais tem seus duplos no campo neoliberal: os economistas, os capitalistas e os burocratas da UE. Um estadista francês, Georges Clemenceau se não me engano, dizia que a guerra é um assunto muito sério para ser deixada nas mãos dos generais. Impossível não admitir, portanto, que a economia é um assunto muito sério para ser deixado nas mãos dos economistas, capitalistas e burocratas da UE. A submissão da Grécia a diretriz da “terra arrasada”, que pode levar os gregos a arrasar política e economicamente seu país e alguns países da UE se mergulhar numa guerra civil e/ou externa, é uma prova da incompetência deles.

 
Fábio de Oliveira Ribeiro

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