A greve dos caminhoneiros, a Petrobrás e a luta por eleições livres

Carlos Norberto Souza

A saída de Pedro Parente da presidência da Petrobrás é uma óbvia consequência da greve dos caminhoneiros. A paralisação pôs em primeiro plano a contradição entre caminhoneiros/ empresários e a política de preços da empresa. O maciço apoio popular desta greve é justificado. Afinal, todos sentem as consequências dos preços criminosos dos combustíveis, percepção amplificada pela insatisfação geral com a situação do país, a ausência de popularidade de Michel Temer e a falta de legitimidade deste governo. Conjuntura potencialmente explosiva, de muita incerteza.

Assim, o Governo e o “mercado” não poderiam correr risco, desta vez, com a greve dos petroleiros, mais lúcida quanto aos interesses em torno da Petrobrás. Vem daí a violenta ofensiva do TST, acolhendo pedido da Advocacia Geral da União, para criminalizar a greve de advertência da Federação Única dos Petroleiros e impondo multa que, de R$ 500 mil, chegou a R$2 milhões, por dia de greve. O que forçou um recuo estratégico da FUP e demais entidades dos petroleiros, antes dos três dias que duraria a greve de advertência, para se preparar melhor para as próximas batalhas. A Justiça mostra, mais uma vez, a quem ela serve.

Quem analisar as coisas de modo simplista ou mecânico vai continuar batendo cabeça. Não entendendo nada. A contradição é uma categoria filosófica, por excelência, brasileira. Neste texto apenas articulo algumas ideias, opiniões e impressões, no esforço de dar conta das contradições, sem ter a pretensão de estar conseguindo fazer isso.

Discordo da tese de que a esquerda inteira deveria ter mergulhado de cabeça no apoio a esta greve. Fazer isso seria negligenciar o reacionarismo que permeia boa parte da categoria, apostando todas as fichas num movimento heterogêneo, que foi manipulado por grupos que exigem “intervenção militar” — solicitação que, ironicamente e de certa forma, foi atendida pelo Governo Federal, só que para liberar as rodovias e acessos ao Porto de Santos. 

O que não significaria deixar de conversar ou se solidarizar com os grevistas onde fosse possível, mostrando que a raiz da questão do combustível está na política da Petrobrás e do Governo Federal, política voltada aos interesses dos acionistas privados, petroleiras estrangeiras, ou seja, atrelada à instabilidade do mercado internacional. Um grande exemplo foi o MST, que chegou a fazer comida para grevistas.

Na esquerda, em parte, havia uma crença de que a greve dos caminhoneiros estaria a um passo de uma ‘greve geral’ para derrubar Temer e, numa tacada só, de uma ruptura revolucionária. Mas a falta de inserção do campo progressista e da esquerda entre os caminhoneiros não seria revertida em poucos dias. O diálogo é algo trabalhoso de ser construído. Variados interesses disputaram os rumos do movimento dos caminhoneiros. Cautela e canja de galinha.

Negar todo o movimento grevista dos caminhoneiros como uma grande conspiração intervencionista também não era o caminho mais correto, porque na raiz da raiz deste movimento estão questões concretas da exploração sofrida por esses trabalhadores.

Precisamos entender melhor esse fenômeno. Mas penso que a esquerda fez e está fazendo o melhor para pressionar pela defesa da Petrobrás, a demissão de Parente e pela redução do preço dos combustíveis, luta que deve principalmente à força da greve dos caminhoneiros. Lembrando que a “esquerda” não é homogênea, e por isso é louvável a relativa unidade nesta luta.

>>>>>>>>>Lei na íntegra<<<<<<<<<

 

Redação

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