“A guerra de extinção no Brasil também se aplica à Ciência”, diz Miguel Nicolelis ao GGN #FracassamosComoNação?

Jornal GGN – A ciência brasileira sobrevive à pandemia de coronavírus e ao pandemônio que é o governo Bolsonaro? Para o neurocientista Miguel Nicolelis, no de que depender dos cientistas, sim. Mas entre os fatores externos, enfrentar a asfixia nos recursos destinados a investimento talvez seja o principal desafio. “Não está fácil. A guerra de extinção que estamos tendo no Brasil também se aplica à Ciência”, afirmou em entrevista exclusiva a Luis Nassif, na tarde desta segunda (20).

Na visão dele, a pandemia do novo coronavírus ensinou algumas lições valiosas ao Brasil e ao mundo. Em primeiro lugar, “expôs todas as fragilidades do modelo de desenvolvimento imposto à humanidade desde a revolução industrial.” Em segundo, mostrou que “saúde pública e ciência de ponta são investimentos estratégicos, não podem ser considerado gastos” triviais.

“A China investe, em média, 130 bilhões de dólares ao ano. O investimento americano é 126 bilhões de dólares. O investimento por ano brasileiro é piada. A ciência e o próprio Ministério da Ciência e Tecnologia nunca foram tratados como estratégico. Acho que, no futuro, a Ciência tem que voltar para o MEC para ter um dinheiro verdadeiro, porque o dinheiro que se investe em Ciência hoje é menos de 1.2% do PIB e nenhuma Nação que investe isso tem condições de ser soberana”, disse.

UMA NOVA GERAÇÃO

Nicolelis disse que a ciência brasileira “resiste talvez numa das piores situações da história.” Muito disso, em função dos novos cientistas formados no bojo de programas como o Reuni e o Ciência Sem Fronteiras.

“No começo dos anos 1990, fui embora do Brasil porque não tinham condições mesmo de eu fazer o que eu queria, depois que terminei meu doutorado. Com o governo Collor e depois o governo Fernando Henrique, as federais e as universidades estavam sendo depauperadas de uma maneira terrível. Agora o que temos de vantagem é que a infraestrutura instalada nas federais é muito melhor. Houve um crescimento muito grande. O Reuni [programa Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, criado no governo Lula] 1 e 2 permitiu a contratação e renovação dos quadros. O Ciência Sem Fronteiras deu outra força do ponto de vista de formação de quadros. Só que o estrangulamento econômico é uma loucura.”

Estou interagindo com jovens no projeto Mandacaru e no comitê científico [do Consórcio Nordeste], interagindo com a geração pós-Reuni ou pós-Ciência Sem Fronteiras, e é uma coisa espetacular”, disse. “Estou tendo a maior experiência da minha vida interagindo com jovens físicos, jovens ecologistas, que estão fazendo coisas do arco da velha mas não são do eixo Rio-São Paulo e são brilhantes. Essa moçada está levando a bronca do comitê científico do Consórcio Nordeste”, comentou.

Para ele, o Nordeste foi a única região do Brasil com a atitude de adotar um comitê científico como consultor. “A acho que temos mais independência [do que os consultores do Sudeste]. Tenho essa sensação. Nenhum gestor interfere e temos independência de comunicação completa.”

A entrevista de Nicolelis a Luis Nassif faz parte da série especial “Fracassamos como Nação?”, que todos os dias da semana, às 15h, entrevista um intelectual a respeito dos rumos que trouxeram o País à situação atual. Confira a playlist aqui.

Assista à entrevista completa:

 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

View Comments

  • Hoje li no Granma a razão pela qual Estados Unidos e Brasil sustentam a ditadura na Bolívia: gente morrendo na rua.
    Também li no Granma a razão pela qual querem invadir a Venezuela: até agora 112 óbitos por covid 19.
    Eis a quantas anda a chamada democracia.

Recent Posts

Governo federal faz mais um aceno às Forças Armadas com acordo

Ministério da Defesa e BNDES fecham convênio para otimizar imóveis das Forças Armadas, com foco…

10 horas ago

Justiça reflete valores e necessidades pela lente do homem branco

“Ele [homem branco] reflete o repertório dele, mesmo tendo empatia, mas não traz a visão…

10 horas ago

Manifestos pela universidade pública tomam a Argentina

Enquanto Milei diz que manifestos tem "causa nobre, motivos obscuros", milhares de estudantes tomam as…

11 horas ago

Preços chineses são baixos demais para se preocupar com tarifas

Em feira comercial, visitantes se dizem otimistas com exportações e destacam vantagem competitiva em meio…

12 horas ago

O desafio real do futuro do Brasil, por Ricardo Berzoini e Guilherme Lacerda

Uma questão que necessita de um olhar mais profundo é a correlação entre o crescimento…

14 horas ago

Câmara dos Deputados homenageia Acampamento Terra Livre

A pedido da deputada federal Célia Xakriabá, o maior evento de articulação indígena no país…

14 horas ago