Jornal GGN – Um menino de 5 anos, filho de empregada doméstica, entra no elevador parado no quinto andar de um apartamento de luxo no litoral do Recife. A patroa, flagrada pelas câmeras de segurança, sabe que a criança procura pela mãe – que saiu com os cachorros a pedido da própria empregadora – e não intercede. Na sequência, o pequeno chega sozinho ao nono andar, de onde caiu de 35 metros de altura, porque a área próxima da casa de máquinas não tinha tela de proteção.
Trabalhando em plena pandemia de coronavírus, a doméstica Mirtes Renata Souza perdeu o filho Miguel. E precisou vir a público, numa emissora de televisão, para que a identidade da patroa fosse revelada. Até então, a Polícia Civil, que investiga o caso, vinha mantendo o nome de Sari Corte Real em sigilo. Ela é esposa do prefeito de Tamandaré, Sérgio Hacker, do PSB.
“Se fosse eu, meu rosto estaria estampado, como já vi vários casos na televisão. Meu nome estaria estampado e meu rosto estaria em todas as mídias. Mas o dela não pode estar na mídia, não pode ser divulgado”, disse Mirtes à Globo.
— Marciano Brito (@MarcianoBrito13) June 4, 2020
Presa, Sara pagou fiança de R$ 20 mil e deixou a prisão. Responderá em liberdade à acusação de homicídio culposo, quando não há intenção de matar.
A negligência da patroa gerou comentários sobre o racismo estrutural nas redes sociais.
A ex-deputada Manuela D’Ávila questionou por que a patroa não foi capaz de acolher e cuidar da criança enquanto a doméstica não estava presente.
Miguel, querido Miguel. Eu olho pra você e penso que você tinha a idade da Laura. O que fez com que você entrasse naquele elevador aos prantos, procurando sua mãe? O que fez com que você não fosse acolhido como minha filha é cada vez que chora quando me acompanha no trabalho? pic.twitter.com/d9rvYw4k4y
— Manuela (@ManuelaDavila) June 4, 2020
O deputado federal Valmir Assunção, do PT da Bahia, associou o caso ao “retrato da desigualdade social, de como são tratadas as vidas negras.”
Eu sinto dor. A notícia da morte do menino Miguel é devastadora. Retrato da desigualdade, de como são tratadas as vidas negras, de como o racismo é entranhado de forma mesquinha. À Mirtes, mãe, preta e doméstica, minha solidariedade. Miguel, presente! #justicapormiguel
— Valmir Assunção (@DepValmir) June 4, 2020
A deputada Talíria Petrone endossou.
Miguel, 5 anos, estava no trabalho com a mãe, em plena pandemia. A patroa mandou a mãe passear com os cachorros enquanto fazia as unhas em casa. Irritada com o choro do garoto, o colocou no elevador. Ele caiu do 9 andar. Esse é o retrato da elite escravocrata.#JustiçaPorMiguel
— Talíria Petrone (@taliriapetrone) June 4, 2020
A chef Paola Carossela falou da “complexidade do racismo”.
O que aconteceu em Recife, é um triste exemplo das complexidades do racismo. A negligência com a vida de Miguel é resultado de uma lógica racista onde os filhos de mulheres negras tem menos valor que as vaidades de mulheres brancas.#justicapormiguel
— Paola Carosella ⚡️+ @winniebueno (@PaolaCarosella) June 4, 2020
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Homicidio culposo!
Caso tudo tenha acontecido como alguns relatos que apontam para a patroa permitindo que o menino entrasse sozinho no elevador, alguem poderia me explicar o que existe de acidental na morte de uma criança de 5 anos deixada à sua própria sorte dentro de um elevador?
Pois é uma boa pergunta a fazer-se. Pelo vídeo a que tive acesso, na segunda vez em que Miguel ingressa no elevador em busca da mãe, a “patroa” parece apertar o botão do último andar e indiscutivelmente fecha a porta do elevador com o menino dentro. Se isso não é dolo, eu não sei mais que poderia ser.
Link para uma postagem que inclui o vídeo, ao final: https://www.brasil247.com/regionais/nordeste/primeira-dama-de-tamandare-sari-corte-real-e-a-patroa-autuada-pela-morte-do-menino-miguel-no-recife?amp
Porque a moça apertou o botão do 9o. andar e não outro? Porque o menino não saiu do elevador antes de que chegasse ao 9o. andar?
Acidentes mesmo são os que possibilitam a existência de pessoas incapazes de reconhecer como seus semelhantes, outras pessoas tradicionalmente rejeitadas por variados tipos de discriminação. Acidentes mais graves ainda são aqueles em que algumas dessas pessoas, por seu livre arbítrio, não se permite possuir um mínimo sequer, de um resquício da precaução, de diminuto senso da prudência ou de uma ínfima valorização pela segurança e pela vida de seu semelhante. Porém, quando o semelhante é um ser de 5 anos de idade, a justiça maior raramente será feita nesse mundo de barbaridades, em todos os níveis.
Curiosidade, apenas: Como vive a população da pequena cidade de Tamandará/PE?