A ilusão do outro, por Jefferson Viscardi

A ilusão do outro

por Jefferson Viscardi

Resposta de Jefferson Viscardi* a um pedido de esclarecimento

BUSCADOR: Querido Jefferson, eu venho pensando muito na questão do Deus estar também dentro de nós, e não fora, e sobre como as religiões podem causar prejuízos por convencerem as pessoas de que há um Deus personificado, externo e punitivo. Os seus diálogos falam muito sobre isso, inclusive. Os espíritas acham que eles não propagam essa visão, mas O Livro dos Espíritos é claro no começo dele, quando rebate o Panteísmo, ao dizer apenas que Deus é causa, que é o criador etc., sem observar que também está dentro de cada um, que somos co-criadores. Acho que a intenção era colocar o ser humano em posição de humildade, como uma das respostas indica, mas termina não resolvendo o problema criado pelas religiões cristãs. O que acha?

JEFFERSON VISCARDI: A intenção do Diálogo com os Espíritos é criar a ambientação para que o amor seja o alicerce. Então, sobre bases bem estruturadas as pessoas podem construir o que for cabível viver, até que as experiências e o aprofundamento rasguem o véu da ignorância que a todos nós acomete, para novos horizontes; sempre porém, com serenidade.

O que determinei ser mais importante na questão de Deus, ensinada pela literatura espírita na codificação de Allan Kardec, é que se trata de uma inteligência suprema e da causa primária de todas as coisas. Foi asseverado que nos falta um sentido para compreendê-lo e, por último, que melhor seria para a humanidade conhecer suas próprias imperfeições porque acreditaría haver devassado um mistério inacessível que apenas a tornaria mais orgulhosa e prepotente.

Vamos ponderar brevemente a respeito da colocação de que as religiões podem causar prejuízos por convencerem as pessoas de que há um Deus personificado, externo e punitivo. Se você partir do ponto de que há uma lei de equilíbrio que agrupa as pessoas segundo afinidades e que a sintonia representa o emanar de um agrupamento de sentimentos que definem o estado de espírito, você compreenderá que não há prejuízo em qualquer instância.

O que existe é esclarecimento do que sou, onde estou. Neste processo de autoconhecimento, conforme vai acessando maior clareza interior, o encarnado gravita naturalmente para o ambiente que melhor redefine esse conjunto de vibrações que passa então a emanar de si.

Ele emite, como ondas de rádio, uma outra matemática vibratória de sintonia e afinidade, e a vida o coloca em contato com o novo grupo de “estagiários do autoconhecimento”, com passagem para outras realidades e paradigmas para que, com o tempo e as experiências, ele obtenha maior clareza e reinicie de lá outra viagem sempre ancorando maior luz em seu interior, abrindo mão da personalidade que acha que sabe alguma coisa e exige ser servida.

Quando dizemos “os espíritas acham que não propagam a crença nesse Deus externo e personificado, crença essa causadora de prejuízo, mas  que está evidente na literatura no combate ao politeísmo”, será que não estamos generalizando, calculando uma definição e adjetivando o todo dentro de um achar atribuível apenas a um determinado grupo que desconhecemos e não fazendo jus à totalidade ou à realidade da codificação, asseverando por conta e risco que esta doutrina não serve para nos guiar, e que como as outras o que nos oferece é prejuízo?

Ora, se admitimos que há prejuízo em seguir o ilusório externo, devemos agir com sobriedade quanto ao que as paixões humanas alheias e nossas fazem da sabedoria divina que nos é passada constantemente na forma de alegoria ou não. Alegorias estas que, na maior parte, conversam com cada consciência no seu degrau de capacidade de assimilação de realidades, muitas vezes aquém, ou seja, incompreensíveis até para as mentes mais amorosas e humildes.

Considerando a preocupação colocada na pergunta, acredito que não importa a visão que é propagada já que aquilo que é trevas, ou seja, ignorância só permanece e prolifera em ambiente onde não há luz a sua volta. Isso equivale a dizer que, se formos a luz, a diferença que queremos ver no mundo, nossos irmãos naturalmente verão os erros que tomam por verdades e verdades que tomam por erros, e abandonarão aquelas ilhas vibratórias que não mais definem o estado de seus espíritos, sem precisarem ser constrangidos a isso.

Todo aquele que caminha em ambiente escuro tropeça, mas, ao ter a luz acesa, apesar de não sair daquele ambiente automaticamente, já sabe onde pisar e descobre o rumo da porta. É o maior favor, o maior serviço que podemos fazer uns aos outros: sorrir, estar bem conosco, fazer da melhor forma a nossa parte, ter esperança e agir sempre nos limites da compaixão (perdoar) e da misericórdia (nem ver o erro), ou seja, viver dentro dos princípios do amor, da humildade e da tolerância que gostaríamos de receber dos outros.

Finalizando, vamos conversar um pouco sobre essa colocação: ” […] mas termina não resolvendo o problema criado pelas religiões cristãs!” Sob a luz destas últimas colocações que teci, acredito que agora está fácil compreender que o problema jamais é criado pelos outros, por aqueles que caminham na escuridão dos seus apegos, da vaidade e do orgulho.

O problema é consequência que precisa ser vivida por aqueles que, já tendo a luz do discernimento, mantêm-na apagada. Os que mantêm sua luz apagada são aquelas pessoas que se ofuscam na busca do reconhecimento e afeto alheios, na busca da compreensão externa, fatores estes que elas se encontram indispostas a achar lá onde sabem existir na quantidade exata para cada um: dentro de si mesmas.

Ora, se para com as crianças que se ocupam com os brinquedos e entretenimentos da tenra idade, onde o cérebro ainda não se encontra preparado para os desafios diários da fase adulta, somos tolerantes e agimos no sentido de proteger e orientar, provando nossa íntima compreensão desse ciclo natural; por que deveria ser diferente entre um irmão mais lúcido e outro que ainda se descobre?

Por que deveria ser diferente a interação de uma alma que já conquistou a si mesma para o bem e para a paz, e que cultiva o caminho do meio com as outras que não vêem tão claramente por estarem num ambiente escuro? Não era esta mesma escuridão que os adulto espiritual tem responsabilidade de abreviar (no lugar de viver reclamando e contrariado, na esperança de ficar a espera de receber o amor,a gratidão, o reconhecimento)?

Não seria antes compromisso moral de grandeza, relativa à emancipação de cada um, ser mais uma luz no mundo na extensão de suas forças e inteligência? Aquele que mais carrega luz mais luz propaga por onde passa, sem esforço ou segundas intenções. Não faz parte das proposições da física básica que uma luz acesa dissipa quilômetros de trevas e quilômetros de escuridão não dissipa uma luz acesa?

Assim, fiquemos alertas; o problema jamais é criado pelo ignorante. É quem tem discernimento e não o emprega que mantém o coletivo no quociente (na quantidade) de escuridão, que vibra o conjunto na sua totalidade. Sócrates teve a oportunidade de asseverar, com muita sabedoria, a seguinte afirmação que vou parafrasear, o que virá a ilustrar aquilo que compartilhei nas colocações acima: “Não chamo estas ou aquelas pessoas de maldosas, prefiro vê-las como ignorantes”.

É isso! “_La Terre deviandra un paradis terrestre lorsque les homens seront devenu bons.” _Em outras palavras, a Terra vai se tornar um paraíso terrestre somente quando os homens houverem se tornado bons, como nos ensina a resposta da questão 185 de O Livro dos Espíritos. Perceba que ao lermos: “[…] quando os homens houverem se tornado bons.”, sempre pensamos nos ignorantes, e não nos sábios; nos materialistas, e não nos espiritualizados; nos de boa vontade, que são os que mais não agem em conformidade com a luz que já conquistaram.

Ora, a mudança sempre veio de quem pode realizá-la e não de quem não pode, não é assim?

Acredito que todos somos muito mais importantes, no contexto geral, do que imaginamos e que essa luz interior (de igual força existente em cada um de nós) é o que pode e vai fazer a diferença nos bairros, cidades e países da superfície da crosta terrestre. Os agrupamentos vibratórios são escolas que nos ensinam quem estamos sendo. A graduação desses estágios é naturalmente a emancipação da alma que haverá de encontrar em todo ser da criação o grupo que lhe é cabível, universalizando-se.

Eu agradeço a confiança depositada em mim para tal esclarecimento, pedindo a devida licença, já que não tenho e nem o Diálogo com os Espíritos tem a pretensão de falar em nome de qualquer religião ou corrente filosófica.

Jefferson Viscardi é autor, coach e palestrante; bacharel em Filosofia e doutor em Ciências da Metafísica; Produtor do projeto humanitário Diálogo com os Espíritos: www.dialogocomosespiritos.com_ [1]

Links:

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[1] http://www.dialogocomosespiritos.com/

 

Redação

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