A intervenção do Bahia e a democratização do futebol

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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O processo de intervenção do Esporte Clube Bahia. A democratização do futebol.

O Bahia viveu nos últimos anos a maior crise da sua história. O clube que é bicampeão nacional, condição obtida por poucos, caiu para a terceira divisão, alcançou altos índices de endividamento, perdeu vários dos seus jogadores da divisão de base por falta de recolhimento de FGTS e por vendas suspeitas pelo baixo valor das transações, a contratação de 103 jogadores em cerca de três anos, o que dava para armar quase dez times de futebol! Em sua maioria, jogadores que nem mereciam vestir a camisa do Bahia, alguns já no ocaso ou ultrapassados, pagos a peso de ouro.

A reação da torcida veio com o movimento democrático “Bahia da Torcida” que visa abrir a grande “caixa preta” que é o futebol, fato pioneiro no Brasil.

A torcida reage e se mobiliza, suas manifestações alcançam o Brasil e o mundo. A sociedade igualmente se movimenta preocupada com a situação do clube, com a abertura de uma CPI na Assembleia Legislativa, Ações Judiciais que pedem o esclarecimento das suspeitas manipulações das condições de sócios eleitores. O então presidente Marcelo Guimarães Filho montou um esquema de mando que desconhece oposição, calando a voz dos dissidentes. Na relação de votantes estão sócios que não são sócios, conselheiros que não são sócios, caracterizando fraudes, intimidação, falta de transparência, negociatas, transações escusas, desrespeito ao torcedor, à sociedade, à Justiça.

Se a CPI na Assembleia Legislativa reuniu 24 assinaturas de parlamentares – o mínimo para a instalação é de 21 – fracassou com a retirada de assinaturas de deputados ligados ao governo logo após as chantagens do presidente do EC Bahia, Marcelo Guimarães Filho, ameaçando o governo em denunciar supostas irregularidades nas suas ligações com os times de futebol do estado, as Ações Judiciais foram julgadas procedentes e foi determinada a intervenção no clube, com a destituição do seu presidente e de toda a sua diretoria.

A principal Ação Judicial pedia a intervenção, com a destituição do presidente e seus diretores por irregularidades nas eleições indiretas. A peso de ouro o então presidente do ECBahia, Marcelo Guimarães Filho, contratou em nome do clube o advogado mais caro do país o conhecido “Kakai”, Antônio Carlos de Almeida Castro, valores a serem pagos pelo já falido clube.

A justiça reconheceu a ilegalidade nas eleições tanto do Conselho que elege quanto a do presidente eleito MGF.

Do processo e das baixarias do advogado Kakai.

“Kakai” tenta desqualificar o juiz do processo: “Dr. Paulo Albiani é o interventor de fato, ele é atrevido, é inacreditável isso, não tem lógica“.

Tenta pressionar o interventor do Bahia quando afirma que ele tem que ser “coerente” quanto à solicitação do juiz Paulo Albiani que determinou que o interventor Carlos Rátis, em um prazo de 24h, se manifestasse sobre a contratação de Kakay pelo Bahia, já que este tinha afirmado que era advogado do Bahia e não de Marcelo Guimarães.

Kakai ainda tenta chantagear a comunidade do futebol quando afirmou que o caso poderia ser considerado“uma ofensa ao futebol”. “Se isso se alastra, nós temos uma insegurança. Empresário algum vai investir, por exemplo, em um clube sabendo que o poder judiciário pode fazer uma intervenção no Bahia”.

No dia 6 de dezembro de 2011, durante o pleito, a oficial de justiça Cláudia Morais chegou com uma liminar do juiz Paulo Albiani, da 28ª Vara Cível de Salvador, determinando a suspensão das eleições e a intervenção do Bahia, designando o jurista Carlos Rátis como administrador do clube.

Na madrugada de 7 de dezembro, o plantão judiciário do TJ-BA anulou a intervenção no Esporte Clube Bahia, acatando uma liminar de Marcelo Guimarães Filho.

Em março de 2012, foi decretada nova intervenção, e mais uma liminar suspende a sentença. Pelo Twitter,  o presidente Marcelo Guimarães Filho respondeu com um deboche e um achincalhe contra a torcida, a sociedade e a Justiça. MGF zombou: “Ôoooo, a CPU voltou, ôoooo!”, em uma referência direta ao sumiço do computador e das listas dos sócios do Bahia, que ele havia escondido do interventor Carlos Rátis.globoesporte.globo.com/…/presidente-do-bahia-festeja-volta-ao-cargo-e-…17/03/2012 – Através do Twitter, Marcelo Guimarães Filho brinca com sumiço do computador que contém a lista de sócios do Bahia Ôoooo a CPU voltouôoooo!

Finalmente no mês passado por unanimidade os desembargadores Lisbete Maria de Almeida, Edmilson Jataí e Edinalva Pimentel confirmam a sentença do juiz Paulo Albiani.

Doutor Kakay mais uma vez tenta melar a decisão da justiça da Bahia e ingressa com um pedido de liminar no STJ que foi indeferida pelo ministro Marco Aurélio Buzzi.

Na prática, significa que tudo segue como está no Novo Bahia, bem dentro e se reestruturando fora dos campos. Prevalecem as decisões do Judiciário baiano. Inclusive a auditoria, tão temida por eles.

Os efeitos imediatos da intervenção.

O interventor Carlos Rátis abriu uma campanha para a associação em massa e no período de apenas vinte e quatro horas se associaram nove mil novos sócios e 15 mil sócios acumulados em uma semana.

O Bahia nestas dez primeiras rodadas após vitorias históricas de virada contra o líder Botafogo e contra o Internacional em Porto Alegre se colocou em terceiro lugar no campeonato nacional a apenas um ponto do líder.

O Bahia voltou a contar com bons públicos após a intervenção, como no último jogo na Fonte Nova em que venceu o Flamengo por 3X0 onde colocou 26.030 pagantes, ainda muito pequeno para a sua força e que o coloca na tímida 7º posição entre as maiores médias com 16.368 pagantes por partida. Público pequeno para quem em 2011 ficou em segundo lugar no total de público que compareceram aos estádios com 432.087 torcedores e média de 22.741 por partida, perdendo apenas para o Corinthians com média de 29.424 torcedores. Tudo isso no ano em que o Bahia lutou até a última rodada para não ser mais uma vez rebaixado.

O Bahia em apenas poucos meses de intervenção conseguiu pagar boa parte dos salários dos jogadores e funcionários que estavam atrasados.

Das dificuldades do interventor e as manobras do ex-presidente para dificultar o cumprimento da determinação da justiça.

Cofres trancados e computadores bloqueados que obrigaram ao interventor Carlos Rátis a recorrer à justiça e à Polícia Técnica para abrir o acesso às CPUs e arrombar os cofres, funcionários que se recusaram a ir trabalhar mesmo após convocação oficial do interventor e muito mais manobras para evitar o cumprimento da Sentença Judicial.

Do blog: http://www.ecbahia.com/imprensa/noticia.asp?nid=25560:

O interventor Carlos Rátis deu nova entrevista nesta quarta-feira. Desta vez, ao jornalista André Uzêda, do jornal A Tarde. E nela ele deixa evidente o estado periclitante em que o Esquadrão se encontra, contrariando o ufanismo dos dirigentes depostos. Confira o texto:

“A interventoria que administra os trabalhos no Bahia terá dificuldades para quitar a folha salarial do próximo mês, que vence na quinta-feira, dia 8 de agosto. Em visita à redação de A Tarde, o interventor Carlos Rátis definiu a situação financeira do clube como “caótica e preocupante”.

Três são, segundo Rátis, os principais problemas que inviabilizam as contas do Tricolor. A mais preocupante delas é uma antecipação de receitas tomadas pela gestão do presidente destituído Marcelo Guimarães Filho,que compromete o orçamento administrativo do Bahia em até 36 meses.

Embora o interventor não tenha informado os números da cota adiantada e nem quais foram as empresas que a realizaram, a reportagem apurou que as parcelas são referentes ao contrato de televisão com a Rede Globo, firmado em R$ 35 milhões por temporada.

Quando a intervenção assumiu o controle do clube, encontrou as contas bancárias zeradas e credores com data de cobrança próximas ou já vencidas.

“Tivemos que fazer um esforço para viabilizar a realização do Ba-Vi, por exemplo. Estávamos com dificuldades em áreas como alimentação, pagamento da agência de turismo e até da empresa que de manutenção da grama”, afirmou o interventor.

Só de alimentação, a dívida do clube era de R$ 400 mil –apenas R$ 100 foram quitadas– e o restante negociado. “Não pagamos nenhuma dívida completa por enquanto. A situação é tão crítica que todo dinheiro que vamos recebendo pagamos algo pendente”.

CONTAS BLOQUEADAS

Um outro problema é de ordem trabalhista. O Bahia tem um passivo de 20 reclamantes distintos na Justiça do Trabalho do Estado. O valor ultrapassa cifras milionárias e foi preciso fazer, ainda na gestão anterior, um arranjo jurídico chamado conciliação global para incluir todas as ações em conjunto.

O problema é que o Bahia deixou duas parcelas desta conciliação sem serem pagas, o que pode barrar as contas do clube, além de penhorar renda dos futuros jogos na Fonte Nova.

“A prioridade é o pagamento destes valores. Só assim podemos administrar o clube sem sustos futuros”, disse Cristiano Possídio, advogado trabalhista constituído pela interventoria.

Segundo Rátis, a primeira parcela deste valor –não informado pelo interventor por questões éticas– serão pagos até sexta-feira. “A segunda parcela vamos tentar negociar com a Justiça, explicando que o clube está sob uma intervenção”, diz.

O último dos grandes problemas para equilibrar o financeiro do Bahia é obter fontes de receitas para arcar com as demandas. A própria intervenção, embora não confirme as empresas, pediu adiantamento de verba com a Arena Fonte Nova e uma sobra de dinheiro de TV para sanar o clube. São estes valores que têm possibilitado pagar salários de jogadores e demais funcionários. Até aqui o interventor quitou três meses de dívidas salariais.

Para pagar a próxima folha, Rátis conta com o montante amealhado dos valores dos sócios patrimoniais que se recentemente filiaram ao clube (aproximadamente R$ 750 mil).

Procurado para comentar o assunto, o ex-presidente Marcelo Guimarães Filho não atendeu as chamadas da reportagem.

PROGRAMA DE SÓCIOS

Carlos Rátis não especificou o que será feito, mas revelou que representantes da Arena Fonte Nova, impressionados com os 15 mil sócios acumulados na última semana, já iniciaram conversas para que esses associados possam ter vantagens em relação ao uso do estádio.

Por fim, Rátis anunciou que o prazo do recadastramento de sócios foi adiado do dia 2 para o dia 7 de agosto. “Estamos publicando isso num edital no A Tarde e em outros meios de comunicação”, finalizou.”

Pelo visto, a situação financeira do clube é bem pior que o déficit de R$ 2 milhões anunciados antes da intervenção. O torcedor mais uma vez pode ajudar o clube, regularizando-se por meio do recadastramento ou se associando e se mantendo adimplente.

http://assisprocura.blogspot.com.br/2013/08/o-processo-de-intervencao-do-esporte.html

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

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