A invasão dos importados

EDITORIAL ECONÔMICO

Do Estadão

Brasil importa cada vez mais produtos acabados

O Estado de S.Paulo, 04 de agosto de 2010 | 0h 00.

Nos sete primeiros meses de 2010, o saldo da balança comercial foi de US$ 9,237 bilhões, acusando queda de 45% em relação ao mesmo período de 2009. Uma mostra das dificuldades que teremos para chegar aos US$ 13 bilhões previstos pelo Banco Central (BC), não por falta de exportações, que provavelmente ultrapassarão a previsão do BC, mas pela alta das importações, que pela segunda vez consecutiva ultrapassaram as vendas externas.
O problema é tentar explicar o fenômeno que parece se fortalecer. Não há dúvida de que a taxa cambial continua favorecendo maiores compras no exterior, levando em conta a pesada carga tributária que recai sobre os produtos brasileiros.

É possível que, diante da deterioração do resultado da conta de transações correntes, os importadores tenham apostado numa desvalorização do real ante o dólar, e adiantaram suas compras no exterior.

AnalA análise do comércio exterior em julho mostra que a exportação de produtos básicos ultrapassou a de bens manufaturados. Ora, os produtos básicos sofrem fortes variações de preços, além de serem de menor valor adicionado. No ano passado, a participação dos produtos básicos era ligeiramente inferior à dos produtos manufaturados: 42,6%, ante 42,9%. Neste ano, para os sete primeiros meses, a situação mudou: 43,6%, ante 40,2%. Os preços dos manufaturados, em certos casos, aumentaram mais em relação ao mesmo período do ano passado. Além do minério de ferro (151,4%), certos manufaturados tiveram uma elevação de preços muito importante, como os veículos de carga (145,4%) e as máquinas de terraplenagem (135,4%), para citar dois produtos que mais foram exportados entre os manufaturados.

Examinando as importações para os sete primeiros meses, verifica-se que as de bens de capital diminuíram de 24,9%, em 2009, para 22%, neste ano; as de bens intermediários aumentaram de 46,6% para 46,7%; mas as de bens de consumo duráveis cresceram de 8,3% para 9,7%, o que parece resultar de certo grau de desindustrialização.

Tudo indica que as empresas brasileiras, que vinham aumentando suas importações de bens intermediários já há algum tempo, agora estão importando mais bens de consumo duráveis prontos que, antes, eram montados no Brasil.

Em julho houve mudança na distribuição geográfica do comércio exterior: a China assumiu o primeiro lugar nas vendas para o Brasil, com US$ 3,268 bilhões, que aumentaram 13,1% em apenas um mês.

Luis Nassif

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