A morte da “locomotiva” Lourdes Catão, um dos destaques da época de ouro do Rio de Janeiro

Na penumbra dos apartamentos voltados para o mar, era um Rio com hábitos sexuais altamente elásticos - que acabei não abordando em meu livro. Aliás, o período merece um volume da História da Vida Privada.

Tereza Souza Campos e Lourdes Catão

Morta ontem,  socialite carioca Lourdes Catão foi classificada como uma “socialite bolsonarista”, graças a um perfil falso em seu nome. Foi mais que isso. Na era de ouro do Rio de Janeiro, nos anos 50, quando a cidade era o modelo cosmopolita brasileiro, e cada espirro ribombava por todo o país, Lourdes Catão fez parte de um time de socialites célebres, como Carmen Mayrink Veiga, Tereza Souza Campos, Lais Gouthier e Elisinha Moreira Salles.

A internacionalização iniciada nos anos da guerra tornou o Rio de Janeiro a cidade mais badalada internacionalmente, ombreando-se com o circuito Elizabeth Arden, Paris, Londres e Nova York. Era visitada por grandes bilionários, playboys internacionais, artistas internacionais. E essas figuras passavam pelas recepções organizadas pelas “locomotivas”  – como eram tratadas essas anfitriãs.

No lançamento no Rio de Janeiro da biografia de Walther Moreira Salles, minha amiga Hildegard Angel me ofereceu um jantar e perguntou que tipo de pessoas eu gostaria de rever: artistas, políticos ou a sociedade carioca dos anos  50. Não tive nem dúvidas: os personagens dos anos 50. E Hilde, que sabe receber como nos tempos dourados do Rio, reuniu quase duas dezenas de figuras históricas, com Lourdes Catão em lugar de honra, mais Lais Gouthier, o ex-playboy Marcondes Ferraz, a simpaticíssima Bebel e Paulo Niemayer, e o embaixador Marcos Azambuja, a língua mais ferina e divertida dos tempos em que o Itamaraty rescendia inteligência.

Foram tempos retratados pela revista Sombra, depois pela Vogue, pelas semanais Manchete e Cruzeiro e pelo sistema de rádios do Rio, da rádio Globo à Mayring Veiga e Tupi. A relação das mais elegantes de Jacinto de Thormes era acompanhada por todo o país. Mesmo depois, quando a crônica social ganhou a semi-vulgaridade de Ibrahim Sued, permaneceu a repercussão.

O patriarca dos Catão,  Álvaro, dos Monteiro de Barros, Visconde de Congonha do Campo. Casou-se com uma Bocayuva e teve os filhos Álvaro, o marido de Lourdes – que chegou a senador por Santa Catarina – Francisco João e Riza. Fez carreira em Santa Catarina como representante do armador português Henrique Lage – um dos grandes empresários brasileiros do início do século.  Morrendo Lage, Álvaro assumiu minas de carvão e portos de Santa Catarina.

.Na penumbra dos apartamentos voltados para o mar, era um Rio com hábitos sexuais altamente elásticos – que acabei não abordando em meu livro. Aliás, o período merece um volume da História da Vida Privada. Menages, bissexualidade de grandes figuras históricas, traições, machismos configuravam uma Sodoma interessantíssima, charmosa, de um país dominado por não mais que cem famílias.

Lourdes Catão deu sua contribuição ao revelar que um de seus filhos tinha como pai seu cunhado. A revelação fio feita em 2001, um ano após a morte do marido Álvaro. Em jogo, a herança do cunhado, Francisco.

 

 

 

 

Luis Nassif

7 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Olá, Nassif
    Sobre o suposto “bolsonarismo” de Lourdes Catão, dê uma busca no Twitter da Hildegard.
    Lá ela descreve que foi criada uma conta fake em nome da socialite defendendo grosserias e valores que ela nunca acreditou, segundo Hildegard, que a conheceu de perto.
    Parece que ela sempre foi avessa a exposição pública em termos de posicionamento político.
    Há inclusive postagens que datam o período que ela já estava internada, e algumas após a sua morte.

  2. “Hábitos sexuais altamente elásticos…Sodoma interessantíssima…”
    Fico me indagando se, algum dia, ao retratar a História da Vida Privada dos morros e favelas cariocas, algum cronista usará terminologia e adjetivação semelhante, ou se servirá de termos mais corriqueiros e vulgares, “suruba”, “zona do meretrício”, etc.
    Nenhuma crítica ao Nassif, por se servir de linguajar elegante para se referir aos hábitos de alcova dos ricos e poderosos (e de seus áulicos de todas as origens e inclinações), mas, que diabo, não pude deixar de me incomodar com isso. Acaso a depravação pode ser elegante nas altas rodas, ou vista como tal, dadas as condições de opulência e refinamento social, e vulgar apenas – e definitivamente – na pobreza ostensiva, imunda, das ralés? Uma é nobre, e portanto desculpável, podendo ser descrita e até certo ponto elogiada como expressão de um hedonismo inevitável, e a outra inevitavelmente rejeitada como nojenta, suja, expressão máxima da degradação humana?
    O endereço mais nobre em que morei foi Copacabana, quando já havia deixado de ser a Princesinha do Mar, e já fora devidamente invadida pela classe média baixa, egressa de grotões inferiores (minha família, inclusive), quando as famílias porcinas (que foram sem nunca ter sido) que se julgavam, ao menos moral e mentalmente, uma espécie de apêndice negligenciado dessa elite que o Nassif retrata, já haviam migrado para a Barra da Tijuca. Cheguei a conviver com algumas dessas famílias – que, afinal, perderiam o salvo-conduto que as levaria à Miami prometida do Rio – e confesso que jamais conheci gente mais patética. E justamente esse ar ridículo de quem se julgava injustiçado (pelo destino, ou por algum pacote econômico mal-ajambrado, não sei) é que lhes dava uma aura de humanidade rastreável – o resto era só rancor e esnobismo, e narizes empinados. Uma família vizinha nossa andava na rua assim, três ou quatro mulheres de narizes empinados. Minha mãe, pródiga em dar apelidos, as chamava de “Família Cheira-céu”.
    Mas chega de querer meter o nariz (êpa!) na História da Vida Privada dos outros. Mas, francamente, gostaria de um dia ler tal história, pela pena do Nassif, mas, de preferência com as coisas sendo chamadas pelo nome. Afinal, a nudez do Imperador e de sua Côrte é a mesma da plebe, e o que eles fazem nessas circunstâncias também são as mesmas coisas. Regada à champanhe ou à cachaça, uma suruba é sempre uma suruba.

    1. Antonio Uchoa Neto : Puteiro financiado a muito dinheiro público. Bordel para Gringo é o que o Fascista transformou a então Capital da República. É a História do Brasil depois de 1930. As Elites Parasitárias, Imprensa Chapa Branca da República de Juiz de Fora e centenas de Jornalistas que saíram desta região, embaixo das asas do Familiar do Fascista, um tal Tancredo Neves, para Redações de Jornais do RJ e principalmente SP. Quer a relação? Apenas alguns, de Juca Kfouri, a uns três que morreram este meses, até Milton Neves. São centenas. Mas desde já alerto: Elites são os outros !! Trabalhar para que? Conversa fiada de Meritocracia !! Trabalhar é pra Paulista. Vinicius, cantava e comia a ‘Garota de Ipanema’, enquanto fingia que era Embaixador. O dinheiro todo mês na conta enquanto vivia de beira de mar e poesia. Ontem, aqui neste Veículo, o “Comunista” João Saldanha. Um Cartório no RJ para a Família, ganho do Fascista Getulio Vargas, enquanto se brinca de ‘ Revolucionário Tupiniquim ‘. Afinal, ter que fazer uma revolução socialista e trabalhar ao mesmo tempo?!! Pobre país rico. Como chegamos até aqui em 90 anos? Mas de muito fácil explicação.

    2. Sabe o que é, Antonio, é que os ricos e bem nascidos têm dinheiro para recompensar as boas palavras ditas a seu respeito, já os pobres, só resta xingá-los pela miséria de seus hábitos.
      O melhor que se pode dizer deles, os pobres, é que eram limpos, de bom costumes e trabalhadores.

  3. Lá pelas tantas. quando todos nós cantávamos bossa nova, víamos o Eder jofre nocautear todo mundo e tínhamos estômago para suportar as afirmações do Pelé, de que o Brasil não tinha racismo, – e lembro agora, tinha ainda a ou O Madame Satã, não faltava também o engraçadinho na roda dizendo que carioca tem o rosto fino, de tanto o pai alisar carinhosamente e perguntar:” será que é meu?” São os tais hábitos sexuais elásticos!!! Devo imaginar como há de ser hoje, nas favelas. De toda forma, o Rio é o Rio, um celeiro de intelectuais e artistas que se não são gênios, estão no limite.Como músicos e atletas e escritores. Quanto a São Paulo, não é mais o túmulo do samba, agora é a casa da insensatez – não aquela do Tom, mas aquela dos Arnestos- idiotas de nossa atual e desordenada vida, ” que nóis num sabe mais nem para onde currê!!!

  4. E aquilo deu nisso. Uma elite sem valores que destruiu uma das cidades mais bonitas e charmosas do mundo e que se dá o direito de ser fascista. O resto, me desculpe Nassif, é luar de Paquetá. Enquanto isso, milionários americanos são conhecidos pela perpetuação do seu nome em universidades, museus e bibliotecas. Stanford, Guggenheim, Carnegie, Morgan (construiu 3 mil bibliotecas), Rockfeller e por ai vai até nossos dias. Exploraram e exploram o país e sua mão de obra mas dão alguma coisa em troca.
    A sociedade brasileira é tacanha, mesquinha, acostumada a escravidão e com valores tão indecentes que como resultado construiu o país que temos. Sem esquecer que o Lemann doou milhões para universidades … americanas e a Setubal banqueira amiga da Marina pegava dinheiro do governo petista para tocar um projeto educativo numa favela de São Paulo. A biografia do Assis Chateaubriant, do Fernando Morais, traz um capítulo sobre o MASP onde ele faz uso de chantagem junto aos milionários paulistas para a aquisição do seu acervo. É o Brasilsilsil. E todos esses milionários e suas madames mamaram nas tetas do estado brasileiro. Não foram empreendedores como os americanos.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador