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A natureza como limite da economia

http://www.agencia.fapesp.br/materia/12069/economia-da-natureza.htm

 

Livro aborda a contribuição do economista romeno Nicholas Georgescu-Roegen no debate sobre economia sustentável

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Economia da natureza

22/4/2010

Por Alex Sander Alcântara

Agência FAPESP – Seria a natureza a única limitante do processo econômico? Existem barreiras biofísicas que impediriam o crescimento exponencial de produção de bens de consumo de tal forma que o mundo caminhasse para uma “estabilização das atividades econômicas”?

Essas e outras questões envolvendo economia e ecologia estão presentes no livro A natureza como limite da economia – a contribuição de Nicolas Georgescu-Roegen, de Andrei Cechin, lançado na segunda-feira (19/4) na livraria da Edusp, a editora da Universidade de São Paulo (USP). Antes do lançamento, o autor e convidados debateram os principais pontos abordados na obra, na sede do Instituto de Estudos Avançados (IEA).

O livro é resultado da pesquisa de mestrado de Cechin, com Bolsa da FAPESP, defendido em 2008 no Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais (Procam) da USP, com orientação de José Eli da Veiga, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP.

O título faz referência ao pensamento de Nicolas Georgescu-Roegen (1906-1994), matemático e economista romeno considerado o precursor do conceito de desenvolvimento sustentável. Segundo Georgescu-Roegen, a natureza é a única limitante do processo econômico.

De acordo com Veiga, um dos debatedores do encontro no IEA, o livro aborda interrelações entre economia e natureza e resgata o pensamento do economista romeno na moderna discussão sobre clima, sustentabilidade e governança corporativa.

“Quando, nos anos 1980, ele disse que a economia, no futuro, seria mais um capítulo da ecologia, foi ‘expurgado’ totalmente e caiu no esquecimento. O livro do Andrei traz uma contribuição inédita porque permite que muitos estudantes tenham acesso às suas ideias no Brasil”, disse à Agência FAPESP .

Na oportunidade, o professor também lançou o livro Economia socioambiental, uma coletânea de 14 artigos organizada por ele que enfoca mudanças de paradigmas entre a economia convencional e a economia ecológica ou ambiental. Segundo Veiga, para fazer a introdução à coletânea – que escreveu junto com Cechin – teve como suporte o livro do orientando.

Georgescu ficou conhecido – e pagou um alto preço por suas ideias nos anos de 1970 – por aplicar à economia o conceito de entropia, emprestado da termodinâmica, ao mostrar que as concepções tradicionais da economia pecavam pelo extremo mecanicismo.

“Os manuais de economia sempre começam com o diagrama do fluxo circular, que mostra como o dinheiro, mercadorias e insumos circulam entre famílias e empresas. Para Georgescu, isso é um sintoma claro do mecanicismo que predomina na economia”, disse Cechin.

Segundo ele, o economista romeno tentou mudar a visão sistêmica do fluxo circular unitário e isolado, segundo a qual capital e trabalho são considerados a estrutura do processo que transforma fluxo de energia em produtos e resíduos.

“Ele muda para uma visão metabólica do processo, mostrando que o sistema econômico não era um motor-perpétuo, que alimenta a si mesmo de forma circular, sem perdas. Ao contrário, é um sistema que transforma recursos naturais em rejeitos que não podem mais ser utilizados. Ao desenvolver uma nova representação do processo, Georgescu destacou que ele não é circular e isolado, mas linear e aberto”, disse Cechin.

Novos ritmos

De acordo com Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP e debatedor no encontro no IEA, o trabalho do economista romeno é fundamental, porque conecta duas ciências aparentemente separadas: economia e ecologia.

“Outro ponto atual é a discussão sobre os limites ao desenvolvimento, sejam eles da natureza ou material. Esse recado parece que vem sendo entendido ou pelo menos valorizado pela humanidade”, disse.

Brito Cruz destacou alguns pontos que acha importantes para o debate do crescimento sustentável, como a questão da velocidade do processo, o custo social, o aumento da população e a criação de novas ideias.

“Como entender as partes desse sistema e como elas se combinam e de que maneira as ideias da humanidade vão empurrar para a frente esse ‘fim’ a partir da lei fundamental da natureza? As premissas de Georgescu são também uma oportunidade de conhecer novas ideias, já que sabemos que criamos uma solução para um problema e, em consequência, geramos outros desafios”, destacou.

O livro A natureza como limite da economia está dividido em cinco partes. No capítulo introdutório, Cechin apresenta o paradigma que une todas as escolas do pensamento econômico e o ponto de ruptura com as ideias de Georgescu.

A segunda é dedicada à vida e obra do economista romeno, do seleto grupo de economistas da Universidade Harvard, nos anos de 1930, ao banimento dos círculos acadêmicos nos idos de 1970, quando passou a estudar as bases biofísicas da economia, conhecimento que ele chamou de bioeconomia.

Nos capítulos seguintes, o autor avalia as idéias de Georgescu no contexto do debate sobre a escassez de recursos naturais e o crescimento econômico e a influência de seus postulados para formar a base do pensamento econômico.

Os capítulos apontam ao final para a discussão de que o futuro energético da humanidade está no centro da problemática do chamado desenvolvimento sustentável. “Georgescu mostrou que, para que o termo desenvolvimento sustentável não representasse uma mera inovação retórica, é necessário atentar para o duplo aspecto da relação entre processo econômico e natureza, ou seja, o esgotamento dos recursos naturais e a saída inevitável de resíduos”, disse Cechin.

Uma das principais teses de Georgescu – e a mais polêmica – gira em torno da ideia de decrescimento da economia. “A tese sinalizava que um dia a humanidade terá que pensar em estabilizar as atividades econômicas, pois não haverá como evitar a dissipação dos materiais utilizados nos processos industriais. Em algum momento, segundo ele, haverá a necessidade de diminuir o ritmo da economia”, disse.

Durante os debates outras questões foram levantadas, como o papel das inovações entre países ricos e emergentes. Como defender, por exemplo, o não crescimento em países que ainda precisam crescer.

Para Cechin, não seria correto dizer que o economista romeno se opõe ao desenvolvimento, mas que ele defende que a sociedade precisará se desenvolver decrescendo, sob novos paradigmas. “Os questionamentos sobre as teses de Georgescu só mostram o quanto o momento é propício para aceitação de suas ideias”, disse.

  • Título: A natureza como limite da economia: a contribuição de Nicolas Georgescu-Roegen
    Autor: Andrei Cechin
    Edição: Edusp/Senac
    Páginas: 264
    Preço:
    R$ 45

Mais informações:  

Redação

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