A pandemia do opinionismo, no país dos bizantinos, por Luis Nassif

O opinionismo nacional adquiriu ares de pandemia.

Há uma crise colossal em andamento. E uma incógnita sobre os desdobramentos políticos. Some-se a incrível capacidade de Bolsonaro de gerar factoides irrelevantes, e a indizível falta de discernimento das hostes virtuais e  e se terá o caldeirão do opinionismo pandêmico.

É palpite taxativo em qualquer direção. Uma frase mal formulada, um YouTuber cretino, um besteirol do Presidente, uma entrevista com um influenciador, qualquer desculpa é motivo para discussões acesas, frases lacradoras, ranking de likes, laivos de genialidade em 140 toques, eu-te-laico-tu-me-laicas, se-me-segue-eu-te-sigo, se-me-citas-eu-te-cito e, de like em like, vai sendo construindo um novo padrão de marketing pessoal.

E assim, no espaço virtual,  opina o leigo, opina o douto e o economista, opina a besta e o especialista, todo mundo vai opinar. Opina o cético, o moleque e o caquético, o saudável e o morfético, o sincrético e o crente, o veraz e o que mente, o sóbrio e o demente, o que importa é opinar.

Todos tendo em comum o comportamento apoplético, dos que se indignam com a razão e dos anti-ignorância, e dos que são intolerantes contra qualquer intolerância, de indignados modestos aos que agem com petulância.

Bizâncio seria fichinha perto dessa quadra da história, da falta de objetividade, do culto da irrelevância. Está certo que isolamento e cabeça vazia são a oficina do diabo. Mas é o que acontece quando todo mundo fica à espera de um anjo salvador improvável.

 

Luis Nassif

Luis Nassif

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  • O "ainda bem" do Lula pegou mal. Seria até possivel explicar, mas só pra quem quer ouvir.

    Isso é para aqueles que torcem para "os setores democraticos" promoverem uma quimerica "frente ampla" contra o fascismo verem como é a coisa. Os que duvidam que a rede globo está mais preocupada com sua propria posiçao relativa na disputa pelo poder não têm jeito, que continuem na torcida. Torçam bastante.

  • Parabéns pela lucidez. Esse post seria muito hilário se o momento atual não fosse trágico.

    Mas é preciso lucidez para ver a essência por trás da aparência.

    Pois, o que está em jogo é uma disputa de poder global associada a uma luta de classes no país.

    Pouco tempo atrás, no plano internacional, os EUA queria ampliar seu controle sobre os governos latino-americanos. E, no plano nacional, o grande capital queria manter o crescimento de sua taxa de lucratividade mesmo diante da crise que se avizinhava.

    E para viabilizar esses projetos o consórcio de forças internacionais e nacionais precisava ampliar seu poder junto ao Estado Brasileiro - Supremo, Congresso e, principalmente, a Presidência da República.

    Mas, como fazer isso diante do sucesso de um projeto nacional de inclusão social e desenvolvimento que estava em pleno curso no país?

    A resposta para essa pergunta foi: desestabilizar todo regime político.

    E assim foi feito, desde a Lava Jato, passando pelos influenciadores digital, a grande mídia, as manifestações de rua e, por fim, a manipulação das redes sociais e dos grupos de watts app nas eleições.

    O problema foi que o apetite imperial associado ao vira-latismo da elite nacional foi tamanho que a desestabilização do regime acabou matando a própria direita. E o que restou foi apenas o lúmpen da extrema-direita para governar o país.

    E como se não bastasse essa terra arrasada, do ponto de vista político e econômico, ainda vem uma crise sanitária produzida pela pandemia.

    E cá estamos nós da classe média, atônitos, a procurar, como crianças, uma fantasia para nos distrairmos.

    Mas não nos iludamos, a ganancia do império e a luta de classes entre "bilionários" e "plebeus" continua viva, apesar das mortes que se avolumam a cada dia.

    Afinal, na disputa internacional, os EUA e a maioria do alto comando das FFAA mantém intacta a aliança estratégica que os une. Assim como, a Rede Globo (com Moro e cia.) e o Bolsonaro (com Guedes e cia.) também mantêm intacta sua aliança estratégica contra os trabalhadores, suas lideranças e organizações, contra os direitos previdenciários e trabalhistas, contra as políticas sociais, e pela privatização do patrimônio nacional.

  • Adianto desde já: isto não é apenas MINHA opinião. É a certeza de que, se o TSE tivesse ministros com o mínimo de vergonha na cara, a chapa Boçal/Mourão já estaria cassada e já teríamos tido nova eleição e outros governantes. É também a certeza de que, se a midia golpista tivesse o mínimo de vergonha na cara Lula não precisaria estar se explicando por causa de uma frase supostamente mal dita, mas só supostamente, pois conhecedores de quem é Lula saberiam que ele sequer pensaria na interpretação cafajeste que alguns criam ante suas falas, cafajestemente, repito.

  • Acho que foi Umberto Eco que falou sobre a "profusão de imbecis" nas redes sociais... Como a grande mídia atrelou-se a essa baixaria, a sociedade meio que perdeu quaisquer parâmetros. Há um bom tempo quase não se percebe diferença entre um idiota que repete mantras fanáticos nas redes sociais e os idiotas-celebridades de nossa mídia. O que a Veja, a Globo e os jornalões fizeram é criminoso! O antídoto para tanto veneno levará décadas para, talvez, revertermos esse quadro pavoroso. Os que nos alimentamos de notícias verdadeiras e opiniões ricas de conhecimentos somos uma minoria, perdidos no meio da Babel moderna. Haja desespero!

  • Olha o Nassif fazendo prosapoética:

    E assim,
    no espaço virtual,
    opina o leigo,
    opina o douto e o economista,
    opina a besta e o especialista,
    todo mundo vai opinar.

    Opina o cético,
    o moleque e o caquético,
    o saudável e o morfético,
    o sincrético e o crente,
    o veraz e o que mente,
    o sóbrio e o demente,
    o que importa é opinar.

    Todos tendo em comum,
    o comportamento apoplético,
    dos que se indignam com a razão
    e dos anti-ignorância,
    e dos que são intolerantes
    contra qualquer intolerância,
    de indignados modestos
    aos que agem com petulância.

    Bizâncio seria fichinha
    perto dessa quadra da história,
    da falta de objetividade,
    do culto da irrelevância.

    Salve o poeta!

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