A política da polarização e a vantagem dos conservadores

Um livro escrito por dois cientistas politicos norte-americanos, estudando a polarização política nos Estados Unidos, pode ter interesse também para os brasileiros. Chama-se: Asymmetric Politics: Ideological Republicans and Group Interest Democrats, Oxford University Press, 2016. Autores: Matt Grossmann, David A. Hopkins.

O livro examina vários aspectos dessa polarização, mas selecionei apenas dois ou três, que acredito mais próximos de nós.

O primeiro deles reflete o próprio titulo. Ele evidencia uma diferença essencial entre os dois partidos, o Republicano e o Democrata.

 “Enquanto o Partido Democrata é, fundamentalmente, uma coalizão de grupos, o Partido Republicano pode ser caracterizado com mais precisão como o veículo de um movimento ideológico.”

Eles mostram que a base ativa do PD consiste numa variedade de grupos temáticos e movimentos sociais: os sindicatos, os movimentos de direitos civis, o pacifista, os grupos de gênero e identidade sexual, o ambiental, etc.  O PR é dominado por um movimento conservador organizado, que atravessa diferentes temas, mas é fortemente ideologizado e controla o aparato do partido.,

No PD, cada um desses segmentos simpatiza com os outros e, aqui e ali, cooperam, mas sua representação organizada se separa, dificilmente eles se identificam com uma filosofia política unificada, de esquerda ou centro-esquerda.

Os autores citam uma interessante observação de Katznelson: “Na ausência de uma base social de classe trabalhadora engajada ou de projetos social-democratas realistas, acreditáveis, o partido abraça o pluralismo de grupos de interesse como sua úinica estratégia coerente.”. E o circulo se fecha: “No processo, os pobres e os sindicatos industriais perderam influencia dentro do partido em favor de novos movimentos construídos em torno das chamadas identidades sociais”.

Os autores mostram ainda, um paradoxo dos cidadãos americanos, já explorado há muito tempo por Galbraith. Principalmente no momento de voto, eles tendem a preferir a direita no posto de comando, na definição da grande política, mas, no varejo, não é bem assim. Galbraith comentava, 60 anos atrás, que as pesquisa de opinião mostravam um americano apoiando fortemente “menos governo” e, ao mesmo tempo, apoiando a adoção de muitas políticas de saúde, de educação, infra-estrutura, etc. Ou seja, “mais governo”. E essa ambiguidade tem se refletido nos dois partidos. Nas campanhas, o PD tende a oferecer listas de políticas setoriais para cada segmento que representa. O PR tende a enfatizar temas mais retóricos, mais ideológicos, como o “small government”, a defesa nacional, a moralidade, etc. Alguns dizem que o eleitorado é “operacionalmente liberal” e “simbolicamente conservador”. O problema é que nessa brincadeira esse eleitorado concede um poder bem operacional aos detentores desse conservadorismo simbólico… e ele deixa de ser simbólico rapidinho.

Foi com essa ênfase no “simbolicamente conservador” que a direita republica conseguiu amarrar três vertentes do movimento conservador que pareciam chocar entre si.

Tres vertentes do conservadorismo republicano

Para os “libertarianos”, os caras do livre-mercado acima de tudo, a mensagem do PR bate no tema do welfare state abusivo e caro, da burocracia estatal crescente, avançando sobre os indivíduos, que, afinal, deveriam ter responsabilidade pessoal. Para os tradicionalistas, mostrava o liberalismo do PD como uma filosofia desintegradora, uma ácido que dissolve os fundamentos éticos da civilização, da família, criando um vazio em que os falsos deuses do totalitarismo se instalariam. Para os “guerreiros” do guerra fria, anti-comunistas de carteirinha, mostravam esse liberalismo como frouxo, relativista, secular, concedendo direitos aos “bárbaros” anti-americanos.

Um outro elemento interessante do livro é o capítulo em que mostram o papel estratégico das ferramentas de mídia para os conservadores. Não apenas para difundir, propagandear. A midia conservadora é um instrumento de coesão, de costura do movimento, transformando expectadores em ativistas e ativistas em uma base eleitoral confiável”.

Interessante para entender a lógica dos dois partidos, o livro inspira também, algumas questões difíceis para os progressistas brasileiros. Ou não?

Redação

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