A Ucrânia Não Quer Ser Uma ‘Mini Rússia”.

 

VoaNews / Russia Watch

21 de agosto de 2011
Durante um jantar em um restaurante de Kiev, Oksana, uma jornalista ucraniana declarou, em russo, que se ela voltasse a visitar Moscou, ela abordaria as pessoas falando em ucraniano.
Em outro encontro, Yulia, uma visitante russa, inocentemente sugeriu a Anna, uma gerente de galeria, que poderia ser útil ter dois passaportes – um ucraniano e um segundo, russo. A resposta foi uma lição direta do nacionalismo ucraniano.

Mas no edifício com colunas brancas do Ministério das Relações Exteriores ucraniano quando a câmera da VOA é desligada, um diplomata ucraniano liga os seus correlatos russos, chamando-os de condescendentes, bullyings, e atados ao passado. A forma como os russos tentam vender uma união aduaneira, diz ele, consiste em enunciar as punições econômicas se a Ucrânia não aderir. Nenhuma menção sobre o lado positivo.

Na quinta-feira 25 de agosto, Ucrânia marca 20 anos de independência.

Desde 1991, este país da Europa Central, quase do tamanho da França, passou por muitos zig zags  econômicos e políticos.

No último zig político, Yulia Tymoshenko, a candidata que perdeu a eleição presidencial do ano passado, agora se encontra na prisão, e, alegadamente, sofre do declínio da saúde.

No último zag econômico, a Ucrânia registrou um crescimento de cinco por cento durante os primeiros sete meses deste ano, bem acima da taxa de crescimento de 3,9 por cento no mesmo período da Rússia rica em petróleo.

Apesar dos zig zags, uma tendência é muito consistente: o crescimento da identidade nacional e a aceitação generalizada de sua nação pelos ucranianos. Neste mês, 93 por cento dos entrevistados em uma pesquisa conduzida pelo Grupo Research & Branding disseram considerar a Ucrânia como sua terra natal.

Do jeito que a identidade canadense é forjada pelas comparações com os Estados Unidos, a identidade ucraniana é forjada em oposição à Rússia.

“O que é a russificação e porque é que isso leva à pobreza?” É o título de uma recente reportagem de capa  da revista Semana Ucraniana.

A satírica foto na capa parece retratar a família Gopnik (tipo Chav ou Ned do UK) da mítica – e atrasada – nação da Baixa Slobbovia (um país imaginário criado pelo cartunista Al Capp).

Há um pai, assistindo TV, com a cara amarrada segura o jornal Pravda. Atrás dele está a filha, fumando um cigarro, claramente a caminho da gravidez na adolescência. Próximo a ela está o filho, um cara com semblante de idiota que alegremente segura uma garrafa grande de cerveja. Também sentado no sofá está o júnior, um garoto precoce de dois anos de idade, que já aprendeu o conhecido gesto rude com o dedo. No centro está a mãe, cujo sorriso congelado indica que ela está tomando grandes quantidades de tranquilizantes.

Internamente, os autores da Semana Ucraniana levam os leitores através da “Anatomia da russificação” econômica, cultural e sócio política. Para ilustrar a russificação econômica aos leitores, é apresentada uma foto de uma mulher idosa já curvada usando um xale eslávico, caminhando com dificuldade, passando por uma Mercedes preta e brilhante.

Em um estágio na minha carreira de repórter, eu cobri o Canadá. Tenho notado paralelos interessantes entre as relações da Ucrânia / Rússia e o EUA / Canadá. Ambos os pares de países eram entidades parecidas, compartilhando os mesmos sistemas legais e línguas dominantes. Eventualmente, os pares foram seguindo caminhos separados. Hoje, os Estados Unidos tem nove vezes a população do Canadá. A Rússia tem apenas três vezes a população da Ucrânia.

Poucas pessoas (saudáveis) em Washington falam sobre uma fusão EUA-Canadá. Na verdade, a contragosto de alguns canadenses, poucos americanos se preocupam ou pensam sobre o Canadá. Muitos norte-americanos atualmente, provavelmente, têm pouco conhecimento de que o Canadá e os Estados Unidos fizeram parte do Império Britânico, até o reconhecimento da independência americana em 1783.

Mas os russos têm uma relação diferente, mais complicada com a Ucrânia, nome esse que é muitas vezes traduzido pelos russos para significar ‘terras da fronteira’. O precursor da moderna Rússia foi o Rus de Kiev, um principado eslavo oriental que adotou o cristianismo ortodoxo em 988. Para muitos russos, o conceito de uma Ucrânia independente não é natural. Como pode uma mãe declarar a independência de seu grande e belo filho?

Moscou pensou que tinha finalmente vencido em Kiev, quando seu candidato, “pró-russo” Viktor Yanukovich, foi eleito presidente no ano passado.

Mas após 18 meses no cargo, o presidente Yanukovych deixou claro que sua intensão não é voltar para os dias czaristas, onde ele seria “governador” da “Malaya Rossiya” – Pequena Rússia. Da mesma forma, oligarcas da Ucrânia não querem ser rebaixados a gerentes de subsidiárias que reportam a Moscou.

Nos últimos meses, Moscou propôs assumir a aviação da Ucrânia, as usinas nucleares, e as empresas de transmissão de gás. O Kremlin mantém a proposta de a empresa russa Gazprom fundir com a Naftogaz da Ucrânia. Em Kiev, as pessoas comparam esta proposta à “fusão” de um supermercado com um quiosque.

Pelo menos quatro vezes no ano passado (eu perdi a conta), os líderes da Rússia, publicamente, convidaram a Ucrânia a participar de uma união aduaneira com a Rússia, Belarus e Cazaquistão. Alguns ucranianos chamam isso de uma União Soviética Light. Duas semanas atrás, o presidente da Ucrânia voou para Sochi para se reunir com seu homólogo russo, Dmitri Medvedev. Mais uma vez, os russos convidaram os ucranianos para participar da união aduaneira.

A resposta ao público do presidente Yanukovych chegou nessa sexta-feira em entrevista à revista Dzerkalo Tizhnaya.

 “O tempo virá, e em outros 10 anos ou mais, (quando) a Ucrânia fará parte da União Européia”, disse o presidente em uma entrevista, programada para coincidir com o dia da 20ª celebração da Independência. “Nós estamos firmemente decididos sobre o nosso futuro. A escolha da Europa se tornou a base da identidade da política externa ucraniana“.
Eu me pergunto: Quando Moscou vai entender isso? 

 

Redação

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