Abaixo a presidenta Dilma!

Essa história de chamar a Dilma de “presidenta” sempre me incomodou. Como precedente, diga-se que a Real Academia da Espanha, autoridade máxima da língua espanhola, aprovou recentemente o uso de “presidenta”. Contudo, e que me perdoem os acadêmicos e as acadêmicas reais da Espanha, há nas nossas línguas neolatinas uma certa lógica que deve ser seguida, não como camisa-de-força, mas justamente para conservar os mecanismos que tornam possível a sutileza das variações semânticas. Abandonar essa lógica é empobrecer a língua.

Esses substantivos terminados em “ente” são, na verdade, uma forma de gerúndio. Presidente é quem tem a tarefa de presidir, aquele ou aquela que está presidindo, assim como residente é aquele ou aquela que está residindo e afligente é aquele ou aquela que está afligindo, e fico aflito com a ideia de um gerúndio com gênero.

Quando a Dilma for presidenta, o Lula será ex-presidento?

Os nossos dicionários de supermercado, como por exemplo o Houaiss ou o Aurélio, que se vendem pela quantidade e não pela qualidade dos seus verbetes e que abonam as suas definições com artigos de jornal ou nem isto, limitando-se a dar um exemplo de uso saído da cabeça do assistente de lexicógrafo responsável pelos verbetes entre “presa” e “priaca”, reconhecem ou reconhecerão em breve o uso de “presidenta”, no afã de ter verbetes em maior número e mais “modernos” que o concorrente. E os membros da Academia Brasileira de Letras, cujo maior sonho é encontrar uma editora que lhes dê a incumbência de fazer mais um dicionário para ser vendido no Carrefour entre um livro de autoajuda e o último sucesso do Paulo Coelho, deverão em breve incluir o monstrengo no Vocabulário Ortográfico. Mas não por isto “presidenta” será menos improcedente – ou, perdão, improcedento.

Redação

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