Abstinência sexual? Estudo mostra que ideia de Damares fracassa entre jovens evangélicos

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
[email protected]

Maioria dos jovens evangélicos já fez sexo antes do casamento, contrariando a cartilha de campanhas como "Eu Escolhi Esperar"

Foto: Agência Brasil

Jornal GGN – A ministra Damares Alves começou o ano de 2020 com uma proposta polêmica: incentivar a abstinência sexual entre jovens, para combater a gravidez precoce e a disseminação de doenças. Mas um estudo acadêmico realizado entre jovens de 16 a 30 anos mostra que o plano da pastora fracassa até mesmo entre aqueles que se dizem evangélicos.

O estudo [clique aqui ou leia abaixo], publicado no Anuário Unesco/Metodista, em 2015, por Leandro Ortunes (doutor e mestre em Ciências Sociais e especialista em Ciências da Religião), mostra que a maioria dos jovens evangélicos já fez sexo antes do casamento, contrariando as campanhas controladoras de cunho religioso que inspiram a mais nova política pública de Damares. Caso do movimento “Eu Escolhi Esperar”, que surgiu no Brasil no início da década passada.

A pesquisa feita com 403 jovens (171 se declararam evangélicos) visava descobrir se a prática sexual estava em acordo com o discurso
oficial de boa parte das instituições religiosas.

O resultado: quase 67% dos jovens declaradamente evangélicos admitiram que mantiveram relações sexuais antes do casamento. E 45,22% declararam manter relações sexuais frequentemente.

“Uma variável que foi abordada nesta pesquisa foi sobre a permanência de relações sexuais após a conversão ao cristianismo (evangélico). O resultado demonstrou que apenas 35,42% abandonaram a prática sexual, enquanto 64,58% a mantiveram mesmo após a conversão.”

Um outro trabalho (veja aqui), sobre as campanhas midiáticas de “pureza sexual” que marcaram os anos 1990 a 2010, publicado mais recentemente, após a ascensão de Jair Bolsonaro na Presidência, mostra outros gargalos na proposta de Damares.

Um deles diz respeito à total marginalização das meninas e mulheres que tiveram ou não uma gravidez precoce, e que hoje são mães solo. Segundo a pesquisa, é como se esse “tipo” de mulher não existisse para os teóricos do “Eu Escolhi Esperar”, pois não é mais visto como público-alvo. É um nicho que, a depender desse movimento, ficaria descoberto em termos de saúde pública.

Em geral, o que esse movimento vende é a ideia de que a abstinência será compensada com um bom relacionamento, que terminará em um “casamento santificado”. Por isso, mulheres são as mais pressionadas com discursos sobre preservação, valorização e autoestima.

Em vez de focar em informações técnicas e dados científicos acerca de doenças sexualmente transmissíveis e da gravidez precoce, essas campanhas exclusivamente religiosas tentam adequar comportamentos de maneira sexista.

Questionado pelo jornal O Globo, o Ministério de Damares afirmou que a “espera como alternativa para iniciação da vida sexual em idade apropriada” considera “as vantagens psicológicas, emocionais, físicas, sociais e econômicas envolvidas, sem que isso implique em críticas aos demais métodos de prevenção”. A ministra-pastora não informou à imprensa que estudos sustentam essa nova política.

Estudo Leandro Ortunes
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

5 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Por que vocês dão tanta voz a essa gente que merece o silêncio. Não têm informações mais criativas para passar. Estão fazendo o que eles querem: chamar a atenção. Levar a sério esses factóides e não ter o que informar. O que é um Damares?

  2. Para apimentar a discussão em torno da proposta da ministra: escutei de um mormon que as garotas de sua igreja são “verdadeiras capetinhas sexuais”.
    Como podemos ver, hipocrisia ….

  3. Cares, infelizmente não consegui localizar o estudo mencionado. O nome do autor parece estar errado. Ontunes??
    Também não há menção onde foi publicado.
    Informação importante precisa ser bem relatada!

  4. No passado havia um controle muito maior, principalmente das moças. Mas nós não podemos esquecer que o pessoal geralmente se casava muito mais cedo. A noiva típica da Roma Antiga tinha 14 anos. E não faz tanto tempo que a moça chegar solteira aos 18 era uma preocupação.

    Ou seja, o tempo de “contenção” era relativamente curto. Hoje, com o pessoal casando depois dos 30, é muito difícil exigir o mesmo comportamento.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador